No retorno do recesso parlamentar, a bancada evangélica ganhará uma nova direção. O deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM) vai assumir, por seis meses, o posto que era ocupado pelo deputado federal Eli Borges (PL-TO).
A mudança, no entanto, não agradou uma ala da frente parlamentar — que enxerga em Silas uma certa abertura com o governo do presidente Lula. O racha interno veio a tona depois que um assessor do bloco enviou um informe a jornalistas.
O texto relembrava o acordo firmado no início do ano para o revezamento da presidência da bancada. A ressalva do assessor, contudo, chamou a atenção:
“A bancada não se sente confortável com a nova presidência e em como o deputado Silas está acenando ao governo do presidente Lula”, dizia o texto.
No início deste ano, Silas e Borges travaram uma grande disputa para comandar o bloco. Na época, a eleição para o posto foi anulada, sob acusações de fraude e ameaça de judicialização.
Mas o pleito foi pacificado com o revezamento entre os dois principais oponentes. Agora Borges assumirá novamente a presidência em fevereiro de 2023.
A principal diferença entre os dois é que Borges pertence ao PL, principal partido de oposição a qual o ex-presidente Jair Bolsonaro é filiado. Já Silas é do Republicanos — partido que se declara “independente”, mas já que votou em peso com o governo em pautas econômicas.
A ideia é que o novo presidente da bancada diminua os atritos entre o grupo e a gestão petista, com exceção das pautas basilares, como — aborto, legalização de drogas, questões de gênero e etc.
Com sete mandatos, Silas é um político que atua mais nos modos do “centrão”, ou seja, que pode adotar uma postura mais conciliatória com qualquer governo. O parlamentar, inclusive, já foi presidente da bancada evangélica entre 2019 e 2020, na gestão Bolsonaro.
A frente parlamentar desempenha um papel importante nas negociações da Câmara. Com mais de 130 deputados e 14 senadores, o grupo foi o principal responsável por desarticular, em poucos dias, o projeto de lei (PL) 2630 — tirado de pauta por medo do governo.
As críticas ao novo presidente, no entanto, acontecem apenas nos bastidores. Ex-líder da bancada evangélica, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) reconhece que Silas possui uma “maior interlocução” com o governo, pois seu partido não é de oposição.
“Uma coisa é a questão de vida parlamentar do deputado Silas, mas, quando ele assumir a presidência da bancada, ele vai falar por todo um grupo, que possui um divórcio eterno com a esquerda”, explicou Cavalcante a Oeste. “Todas as semanas precisamos combater esse governo, que está com ataques mais fortes do que as antigas gestões petistas.”
De acordo com Cavalcante, essa aproximação entre o governo Lula e a bancada não vai acontecer. “Isso não vai comprometer as pautas da nossa bancada”, continuou. “