O mercado imobiliário de alto luxo no Rio de Janeiro, que vive uma ascensão diante da recessão da Europa e da guerra na Ucrânia, vai além das coberturas, das mansões e outras propriedades em terra firme na capital fluminense, cujo valor do metro quadrado chega a R$ 100 mil. Ilhas paradisíacas também estão à disposição de compradores que topem desembolsar cifras multimilionárias para morar ou investir no estado.
Consultores imobiliários ouvidos pelo GLOBO apontam há ilhas sendo negociadas a valores que vão de R$ 20 milhões e R$ 70 milhões (veja fotos mais abaixo). Boa parte das negociações conta com acordos de confidencialidade, já que um terreno cercado pelo mar não tem a mesma segurança de um condomínio na orla, como explica João Paulo Salgueiro, da Invexo Imobiliária. Corretores especializados destacam que a maior parte desse tipo de propriedade é reservada a clientes VIP.
— Muitas ilhas podem ser comercializadas por meio de agências imobiliárias de luxo, como a WhereInRio, que atendem a clientes VIP, mas a maioria permanece no “off-market”, ou seja, não estão publicamente disponíveis para venda. A discrição e a privacidade são muito valorizadas nesse mercado, e algumas propriedades podem ser oferecidas apenas a compradores pré-selecionados ou mediante solicitação — afirma o CEO da WhereInRio, Frederic Cockenpot.
Clientes buscam refúgio
O especialista aponta que algumas das ilhas mais valorizadas no Rio estão localizadas na Baía de Angra dos Reis, na Costa Verde, famosa pelas águas cristalinas e paisagens naturais. A região é conhecida por atrair celebridades, empresários e outras pessoas de alto patrimônio líquido que buscam refúgios privados.
— Os valores das ilhas podem variar significativamente dependendo de vários fatores, como o tamanho da propriedade, a localização exata, as instalações e infraestruturas disponíveis, a proximidade com serviços e a acessibilidade. Cada ilha é única, e os preços são determinados pela oferta e demanda no mercado, bem como pelas características e atrativos específicos de casa. A de maior valor que já visitei foi de US$ 25 milhões (R$ 118,7 milhões) — diz Cockenpot.
Há pelo menos duas ilhas do Rio listadas em sites abertos ao público. A Ilha do Japão, com área útil de 680 metros quadrados, pode ser adquirida por R$ 65,5 milhões. Outra opção é o aluguel por temporada, que custa a partir de R$ 16,5 mil por noite. A diária chega a R$ 22 mil no período de carnaval. A ilha fica a sete quilômetros da costa de Angra dos Reis, cidade que fica a quase 170 quilômetros da capital.
Abastecida com painéis solares, a propriedade é autossustentável e abriga até dez hóspedes. Com área total de 2,5 mil metros quadrados, além da praia privativa, ela dispõe de uma casa principal com suítes master e king, outros três bangalôs, terraço com salar de jantar e churrasqueira, uma área de piscina cercada por um deck, uma jacuzzi para oito pessoas e um heliporto.
Outra propriedade à venda é a Ilha do Maná, por R$ 20 milhões, também em Angra dos Reis. No aluguel por temporada, a diária parte de R$ 9 mil, por noite. Com área útil de 1,2 mil metros quadrados, a ilha fica a três quilômetros do porto de Brachuy. A energia também vem de painéis solares e a água, por três fontes naturais, um tanque principal e depósitos para até 70 mil litros. A ilha tem casa principal com terraço, quatro bangalôs divididos por uma sala com bar, churrasqueira, piscina natural com água doce escavada na rocha e ponte para heliporto e atracadouro.
João Paulo Salgueiro ressalta que as visitas a propriedades desse tipo são restritas. Os interessados precisam fornecer o nome e aguardar a liberação dos proprietários. Ele conta que os compradores em potencial das ilhas, em geral, buscam privacidade e segurança.
— São nesses locais que ocorrem normalmente os encontros de família, férias, feriados como Natal e etc. A localização é outro ponto importante. Querem em um local que tenha facilidade de acesso a restaurantes, praias, ilhas paradisíacas — explica. — A maioria dos compradores são empresários, médicos e advogados. Normalmente compram na holding patrimonial da família.
Custos milionários vão além da compra
Já Frederic Cockenpot ressalta que o público comprador das ilhas se limita a indivíduos de alto patrimônio líquido que buscam um símbolo de status e riqueza, um investimento com potencial de valorização com o tempo ou construção de projetos turísticos/residenciais, ou mesmo um retiro para as férias e momentos de lazer. Ele ressalta que os custos de se ter uma propriedade como essas vão além do aporte inicial multimilionário na venda.
— Alguns dos principais custos envolvidos são impostos e taxas, além do imposto sobre a aquisição do imóvel (ITBI) e das taxas anuais, como o IPTU e taxas específicas para as ilhas, dependendo das leis e regulamentos locais; os custos de transferência, que incluem honorários de advogados e profissionais envolvidos na transação; manutenção e infraestrutura, como energia elétrica, água, segurança e serviços básicos. Além disso, há gastos com o transporte até lá, seja por helicóptero, barco particular ou outros meios — enumera o CEO da WhereInRio.
Mas é possível comprar uma ilha no Brasil? Pode-se dizer dono de uma propriedade cercada pelo mar? No Brasil, segundo Cockenpot, o processo de aquisição costuma ser o mesmo de outros imóveis, com lavratura de uma escritura pública de compra e venda registrada em cartório.
No entanto, ele diz ser importante verificar as leis e regulamentos específicos aplicáveis a cada ilha, que podem estar sob jurisdição da Marinha ou de outros órgãos governamentais. Com isso, a compra pode envolver procedimentos adicionais ou até restrições à transação.
Créditos: EXTRA.