Presidente manifestou descontentamento a integrantes do governo já que ex-auxiliar de Jair Bolsonaro é investigado por diversos crimes civis
O presidente Lula (PT) ficou irritado com o fato de o tenente-coronel Mauro Cid prestar depoimento fardado na CPI do 8/1.
Diferentemente de seu ministro da Defesa, José Múcio, que não viu afronta no ato, Lula ficou contrariado e manifestou seu descontentamento a auxiliares diretos e também a integrantes do primeiro escalão do governo.
Ele também fez sua indignação chegar a escalões superiores da gestão militar de sua administração.
No momento em que o governo se esforça para separar as Forças Armadas de atividades civis, Mauro Cid, que é investigado por diversos crimes, vestiu a farda para depor na comissão, confundindo-se com os militares.
Para Lula, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) deveria ter ido à CPI em trajes civis, já que os crimes pelos quais ele é acusado não têm relação direta com a atividade militar.
Cid está sendo investigado por falsificar cartões de vacina contra a Covid-19 de seus próprios familiares e de Bolsonaro.
É alvo ainda de ação sobre as joias que o ex-presidente recebeu de presente da Arábia Saudita, e também suspeito de participar da tentativa de um golpe de estado para manter Bolsonaro no poder.
O próprio Exército, no entanto, afirma que orientou Cid a vestir a farda por entender que ele foi convocado pela CPI para tratar de “temas referentes à função para a qual fora designado pela Força”.
O ministro José Múcio afirmou à Folha que não viu como afronta de Mauro Cid à CPI do 8 de janeiro a decisão dele de prestar depoimento fardado e disse que outros militares da ativa poderão fazer o mesmo até o final da comissão, se quiserem.
Múcio também disse que espera um veredito da CPI sobre a participação dos militares nos ataques golpistas, mas livrou o Comando do Exército de culpa. O ministro afirmou que, como no futebol, quem comete indisciplina é colocado para fora do jogo e a partida continua.
“Não vai caber a nós julgar. Os crimes que são ditos comuns, que foram crimes praticados individualmente, são crimes de civis. O comando não participou daquilo”, disse.
Múcio disse ter “uma tese” sobre os acampamentos montados nas proximidades de quartéis após a campanha eleitoral e afirmou que nem todos concordam com suas ideias.
“Ali havia duas facções do Exército convivendo naquele acampamento. Mas às Forças Armadas não interessava golpe. Em um jogo de futebol, um jogador comete uma indisciplina, você põe para fora do jogo ele. O time continua”, disse Múcio, citando que, para ele, havia os “legalistas” e os “indignados”.
O mais conhecido acampamento foi o de Brasília, de onde partiram os manifestantes que tentaram invadir o prédio da Polícia Federal, em 12 de dezembro, e os que depredaram as sedes dos três Poderes, em 8 de janeiro.
Na CPI, o tenente-coronel Mauro Cid ficou em silêncio o tempo todo e não respondeu a nenhuma pergunta feita por deputados e senadores.