O fato de o presidente Lula não descartar a recondução de Augusto Aras ao comando da Procuradoria-Geral da República foi suficiente para deflagrar uma onda de manifestações na política.
Uma das disputas mais notórias envolve o senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado de Lula, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Adversários ferrenhos em Alagoas, os dois acumulam uma extensa lista de embates judiciais, inclusive no Supremo Tribunal Federal.
“Aras não pode ser reconduzido”, escreveu Renan em resposta a um seguidor no Twitter, nesta sexta-feira 14. Lira, por outro lado, tem motivos de sobra para endossar um novo mandato para o PGR.
Conforme mostrou CartaCapital, a Procuradoria tomou nos últimos meses decisões que socorreram o deputado em situações difíceis perante a Justiça e a polícia.
Nesse período, Lira defendeu que Aras siga no cargo após o fim do mandato, em setembro, e comandou a aprovação, a toque de caixa, de uma lei proposta pelo procurador-geral para instituir um “trem da alegria” no Ministério Público da União.
A lei transforma 560 cargos efetivos do órgão em cargos de confiança. Significa que o MPU pode preenchê-los com quem quiser, não necessariamente com pessoas aprovadas em concurso público.
“Aras mudou o ritmo e o nível do Ministério Público e muitas vezes é mal entendido. Por mim, é renovado no cargo”, disse Lira em entrevista ao jornal O Globo no final de abril. De lá para cá, o presidente da Câmara não teve motivos para mudar de opinião.
No início de abril, a PGR havia pedido que o STF arquivasse uma denúncia oferecida contra Lira por corrupção passiva. O caso envolve a apreensão de 106 mil reais em espécie com um ex-assessor do parlamentar. Em junho, a Primeira Turma da Corte aceitou um recurso da defesa e decidiu não tornar Lira réu no processo.
Também em junho, Aras pediu a suspensão do inquérito da Polícia Federal que atinge aliados de Lira – incluindo um ex-assessor, Luciano Cavalcante – e o envio do caso ao Supremo. No início de julho, o ministro Gilmar Mendes suspendeu a investigação da Operação Hefesto.
Em entrevista à Record TV na quinta-feira 13, Lula disse nunca ter conversado pessoalmente com Augusto Aras, mas não afastou a possibilidade de indicá-lo para o terceiro mandato.
“Possivelmente eu vou conversar com o Aras, como eu vou conversar com outras pessoas, e eu vou sentir o que é que as pessoas pensam, e no momento certo eu indicarei.”
Em busca de uma recondução ao cargo, Aras voltou a fazer acenos ao governo nesta semana, ao enfatizar seu trabalho para “enfrentar e desestruturar as bases do lavajatismo”.
A publicação, feita nas redes sociais, foi acompanhada de um artigo sobre a sucessão na PGR.
“Resta saber se todos eles terão a disposição que o procurador-geral demonstrou nesses 4 anos, para enfrentar e desestruturar as bases do lavajatismo enquanto recebia ao revés uma chuva de projéteis traçantes iluminados por um jornalismo alimentado pelo denuncismo atroz e acrítico” escreveu o procurador-geral.
Fonte: Carta Capital.