Um funcionário do restaurante Al Janiah, frequentado por diplomatas e políticos da esquerda brasileira, espancou um cliente até desmaiá-lo. As agressões ocorreram em 22 de janeiro, e a Polícia Civil elucidou o caso somente em 27 de junho.
O agressor é Nour El Deen Al Sayed, palestino que milita em favor de pautas “progressistas”. Ele e outros funcionários do estabelecimento, localizado na região central de São Paulo, deram socos e pontapés no cliente, identificado como Fábio Borges Correia.
A tentativa de assassinato ocorreu por volta das 2h40 da madrugada. De acordo com a Polícia Civil, Al Sayed e Correia tiveram um desentendimento por causa dos serviços oferecidos pelo restaurante.
Em determinado momento, o militante palestino e seus colegas neutralizaram Correia com um “mata-leão” e o levaram para o lado de fora do estabelecimento. A vítima ficou desacordada na Rua Rui Barbosa, 269, na Bela Vista.
A mulher de Correia o levou para o hospital logo depois. Em razão dos graves ferimentos na cabeça, a vítima teve de ficar internada por alguns dias. O casal registrou boletim de ocorrência no 5° Distrito Policial de São Paulo —Aclimação.
A investigação
A Polícia Civil deu início aos trabalhos logo depois que a vítima saiu do hospital. Os agentes requisitaram um laudo do Instituto Médico Legal (IML) e solicitaram ao restaurante as imagens das câmeras internas e o nome de todos os funcionários da equipe de segurança.
O proprietário do Al Janiah, chamado Hasan Zarif, alegou que não teria as filmagens das agressões. Ao explicar a negativa, Zarif disse que a Polícia Civil entrou em contato apenas oito dias depois da tentativa de assassinato, e as câmeras de segurança gravavam somente sete dias.
A equipe responsável pela investigação pediu ao restaurante que explicasse a qualificação de todos os funcionários, colaboradores e sócios que estavam nas dependências do estabelecimento em 22 de janeiro. Zarif respondeu que não sabia quem estava na escala de trabalho daquele dia.
Uma fonte da Polícia Civil disse a Oeste que o advogado de Zarif e Al Sayed se apresentou à corporação e afirmou que o estabelecimento jamais concordaria com atos violentos, especialmente por ser “de esquerda”. Ele disse também que a vítima teria sido agredida por clientes, e não pelos funcionários.
Testemunhas identificam funcionário de restaurante de esquerda que espancou cliente
No entanto, depoimentos de testemunhas à Polícia Civil contradizem a versão do advogado. Uma das pessoas que presenciaram as agressões relatou na internet os momentos de violência.
“Assisti ao show do Wander Wildner, que foi muito bom”, escreveu Felipe Rangel Quake, na página de feedbacks do Al Janiah no Google. “Após o evento houve uma briga, e os donos e seguranças agiram de uma forma muito truculenta. Ignorantes e ofensivos, cercaram o rapaz que já estava imobilizado e o deixaram bem machucado e desacordado, sangrando, com o rosto inchado. É uma selvageria desnecessária para as pessoas que são militantes e que pregam um mundo de igualdade. Os donos são estrangeiros, nas paredes há imagens de Lula e tal… Porém, essas atitudes não condizem com nada disso. Só lamentos. Não voltarei nunca mais.”
Outro fator que contribuiu para desfazer a versão de Zarif é que, durante o momento em que estava sofrendo socos e pontapés, Correia arrancou a camiseta de um dos agressores. A Polícia Civil identificou que a roupa pertencia aos funcionários do restaurante.
Prefeitura determina que estabelecimentos tenham seguranças
Embora o proprietário do Al Janiah tenha informado que não possui uma equipe de segurança, a prefeitura de São Paulo determina que os estabelecimentos da capital tenham funcionários para esta finalidade — pelo menos se quiseram promover shows, como do cantor Wander Wildner.
Em setembro de 2019, o perfil do Al Janiah no Facebook revelou ter repelido supostos ataques. Um grupo de cinco pessoas, portando facas e sprays de pimenta, teria se aproximado da porta principal do estabelecimento e tentado agredir os clientes.
“As câmeras de segurança registraram o momento do covarde ataque, que foi prontamente detido pela segurança da casa”, informou o perfil do Al Janiah, na época. “Todos os presentes estão bem. Os membros do grupo fugiram na sequência.”
Quem são Nour El Deen Al Sayed e Hasan Zarif?
Em 2 de maio 2017, a Polícia Militar de São Paulo (PM-SP) apreendeu a dupla de palestinos na Avenida Paulista. Na ocasião, ambos os militantes se infiltraram numa manifestação do movimento Direita São Paulo, que cobrava mais rigor na entrada de imigrantes em território brasileiro, e jogaram uma bomba na direção dos manifestantes.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) comunicou, na época, que quatro homens haviam sido presos em flagrante e responderiam por “explosão, lesão corporal, associação criminosa e resistência durante confronto em manifestação”.
A SSP informou que “o grupo teria agredido manifestantes que protestavam contra a Lei da Imigração, inclusive arremessado artefato explosivo”.
Um dia depois, em 3 de maio, a Justiça concedeu habeas corpus aos responsáveis por jogar uma bomba contra os manifestantes na Avenida Paulista. Além de Zarif e Al Sayed, foram beneficiados os brasileiros Roberto Antonio Gomes de Freitas e Nikolas Ereno Silva.
Al Janiah, o lar de diplomatas e políticos de esquerda
Eduardo Suplicy, Guilherme Boulos, Luiza Erundina e Celso Amorim compõem o elenco de políticos e diplomatas da esquerda brasileira que visitam o Al Janiah.
Em 9 de setembro de 2018, por exemplo, Boulos anunciou sua ida ao estabelecimento. “Ontem, estive na restaurante Al Janiah, onde fizemos campanha de arrecadação e conversamos sobre a nova política que vamos fazer no Brasil, diferente [sic] desse sistema de privilégios que está colocado”, disse, em publicação no Facebook.
Um ano depois, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) teve a companhia de ninguém menos que Luiza Erundina.
Eduardo Suplicy também frequenta o Al Janiah. Em 17 de abril de 2021, o petista fez elogios ao restaurante. “Além de ser um espaço democrático de debate, de defesa das minorias políticas e de acolhimento, as especialidades árabes, como falafel, tabule e esfirras são deliciosas”, escreveu, no Instagram.
Na época, o político disse que “manter o local é fundamental para não interromper o trabalho dirigido com tanta seriedade por Hasan Zarif, brasileiro filho de palestinos”.
Celso Amorim, assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, tem registros no restaurante de esquerda desde 2019. Na ocasião, o ex-chanceler participou de uma exposição aberta sobre o tema “América Latina em ebulição”, organizada pelo Instituto Lula.
Créditos: Revista Oeste.