O procurador-geral da República, Augusto Aras (foto), pediu nesta segunda-feira (31) que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) encaminhe ao MPF os relatórios que teriam sido encaminhados ao presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia de Covid.
Uma matéria, publicada durante o fim de semana pela Folha de S. Paulo indicou que mais de mil documentos teriam sido produzidos sobre a crise sanitária, possíveis deficiências do sistema brasileiro e necessidade de ações enérgicas — todas encontrando em ouvidos moucos na Presidência.
Aras pode acabar reabrindo ações contra o ex-presidente que foram arquivadas por ele mesmo, após uma série de pedidos feitos pela CPI da Covid ainda em 2021. Se comprovado, os documentos da Abin comprovariam o “fato novo” capaz de desengavetar as ações.
Tudo isso ocorre a pouco mais de um mês da escolha, por Lula, do próximo PGR. Por mais que alguns petistas até sugiram que Aras seja reconduzido a um terceiro mandato, o presidente ainda mantém o mistério.
Lula não fechou a porta para Aras. Disse que iria conversar com o procurador-geral antes de tomar sua decisão. Em campanha aberta para ser reconduzido, Aras se gabou recentemente de “desestruturar as bases do lavajatismo”, num claro aceno aos críticos da operação que levou Lula, entre outros, para a cadeia.
Aras ficou marcado pela blindagem de Bolsonaro durante seus quatro anos na PGR — ele não apresentou nenhuma denúncia contra o ex-presidente, e se limitou a abrir apurações preliminares, que não levaram a lugar nenhum.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, que foi uma das protagonistas da CPI da Covid, classificou como “decepcionante” a possibilidade de recondução. Segundo ela, Aras transformou um órgão de fiscalização em instrumento de “subserviência e de aceno político ao presidente de plantão”.
Outro aliado do governo Lula, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que foi o relator da CPI da Covid, disse que “Aras não pode ser reconduzido”.