Foto: Ricardo Stuckert
Uma nova declaração do presidente Luiz Inácio Lula (PT) criticando o agronegócio ampliou o desgaste do petista com o setor. Nesta quinta-feira, Lula afirmou que o agronegócio tem um “problema ideológico” com o governo, e a bancada ruralista reagiu.
Em entrevista a rádios de Goiás, Lula disse que “não quer saber se produtor rural gosta” dele ou não e pontuou que atua por “condições melhores” de trabalho para 215 milhões de brasileiros, incluindo o agro, setor em que enxerga resistências.
Para o deputado federal Pedro Lupion, que preside a bancada ruralista na Câmara, as declarações de Lula tiveram um “tom ruim”.
— O setor agropecuário espera respeito. Mais do que palavras vazias, precisamos de ações efetivas. Não somos ideológicos, pelo contrário, se o presidente diz que o Plano Safra será robusto, terá nosso aplauso — afirmou. — Nós tivemos no começo do governo uma relação muito ruim, demonstrações e falas muito negativas para o setor. Depois, conseguimos criar algumas pontes.
Morde e assopra
A fala de Lula ocorre após acenos do presidente ao agronegócio. Na última semana, na Bahia, o petista participou pela primeira vez neste mandato de um evento do setor. O governo anunciou ainda uma linha de crédito de R$ 7,6 bilhões para investimentos em sustentabilidade, ampliação da capacidade de armazenagem e segurança alimentar, além de R$ 3,6 bilhões para o Plano Safra e R$ 4 bilhões em linha de financiamento em dólar no Crédito Rural. Segundo Lula, o plano é voltado “tanto para a agricultura familiar quanto ao agronegócio”.
As tensões de Lula com o agronegócio foram evidenciadas ainda na campanha eleitoral, quando em entrevista ao Jornal Nacional o petista usou os termos “fascista” e “direitista” para classificar parte do segmento. Após sua posse, as relações permaneceram conflituosas. O maior ponto de tensão aconteceu em abril, quando o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou ter sido “desconvidado” pela Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). O desconforto ocorreu após a confirmação da presença de Bolsonaro na abertura do evento, a maior feira agrícola da América Latina. Após o constrangimento, o governo anunciou que o Banco do Brasil iria retirar o patrocínio da Agrishow.
O Globo