Foto: Gui Prímola/arte/Metrópoles.
Era início da tarde do dia 9 de março de 2006 quando um grupo de 35 presidiárias se preparava para pintar o Pavilhão 3 da Penitenciária Feminina de Sant’Ana, no Carandiru, bairro da zona norte da capital paulista. Entre elas estava infiltrada Sonia Aparecida Rossi, a Maria do Pó.
Condenada a 54 anos e 8 meses de prisão por tráfico de drogas, ela já era considerada uma das mulheres mais perigosas do país. Investigação feita na época apontou que Maria do Pó e uma comparsa teriam subornado um carcereiro com R$ 80 mil para fugirem da cadeia naquela tarde, durante o banho de sol.
O plano deu certo. Maria do Pó passou por sentinelas armados e conseguiu ir para rua. A direção do presídio só deu conta da ausência da traficante quatro horas depois, na contagem rotineira de detentas. Desde então, Maria do Pó nunca mais foi vista.
O Metrópoles conversou com autoridades policiais e da Justiça paulista envolvidas em investigações sobre tráfico de drogas. Nenhuma delas tem qualquer pista sobre o paradeiro de Maria do Pó. Todas acreditam que a traficante esteja morta por causa da rotina perigosa que vivia.
Nascida em Americana, no interior paulista, Maria do Pó tem — ou teria — 62 anos hoje. Apesar do mistério, ela ainda é a única mulher da lista de mais procurados da Polícia Civil de São Paulo, que classifica a foragida como “a traficante mais procurada no Brasil.”
Vida bandida
O Metrópoles teve acesso à folha de antecedentes de Maria do Pó. O registro mais antigo no documento é de dezembro de 1979, quando a Polícia Civil instaurou o primeiro inquérito policial para investigá-la. Ao todo, até o ano 2000, ela foi alvo de 14 investigações.
Naquela época, a traficante tinha enorme respeito no mundo do crime. Ela ganhou destaque no noticiário por se envolver no desaparecimento de 340 quilos de cocaína do Instituto Médico Legal (IML) de Campinas, no interior paulista, em janeiro de 1999.
Dias antes, Maria do Pó foi flagrada com a droga na zona rural de Indaiatuba. A cocaína foi apreendida, mas a traficante foi liberada por policiais civis. Ela só foi presa cerca de um mês depois, permanecendo na Penitenciária Feminina do Tatuapé, na zona leste paulistana, de onde fugiu em 28 de março do mesmo ano.
Tiroteio
Em abril do ano 2000, Maria do Pó trocou tiros com policiais federais na região de São José dos Campos, também no interior paulista. Ela foi ferida no joelho direito e presa com 11 quilos de cocaína.
A traficante ficou atrás das grades desde então, passando por nove penitenciárias, até que em 13 de dezembro de 2005 foi removida para a Penitenciária Feminina da Capital, como consta nas movimentações dela registradas pela Vara de Execuções Criminais (VEC).
A unidade ficava ao lado da Penitenciária Feminina de Santa’Ana, ainda em reformas, que foi usada pela criminosa em sua derradeira fuga. Até hoje, não se sabe oficialmente quem, de fato, facilitou a evasão dela do presídio na zona norte paulistana.
Mandados em aberto
Existem dois mandados de prisão em aberto contra a traficante mais procurada do Brasil. O mais recente foi expedido em 13 de setembro de 2018, com validade até 9 de novembro de 2032. O outro é de 26 de setembro de 2006, com validade até 9 de março de 2026.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Maria do Pó atuou em todos os estados brasileiros e nos países do Mercosul. São atribuídos a ela os crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro.
Maria do Pó, ainda de acordo com o CNJ, abastecia as favelas de São Paulo com cocaína oriunda da Bolívia. O país é um dos principais fornecedores do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção com a qual a traficante teve contato no período em que esteve encarcerada.
Por causa do longo tempo foragida — atualmente 17 anos —, ao menos seis ações criminais contra a traficante já prescreveram, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), a partir de um pedido da Defensoria Pública.
Ainda assim, a recompensa oferecida pela polícia para quem ajudar na prisão de Maria do Pó segue de pé: R$ 5 mil. Resta saber se ela ainda está viva.
Créditos: Metrópoles.