Zé, um pinguim argentino morador da Praia do Arpoador, na Zona Sul do Rio, morreu nesta quarta-feira, após ingerir um baiacu. Os registros foram feitos por Nathan Lagares e André Cecília, do Instituto Mar Urbano. Ricardo Gomes, biólogo da mesma organização, fez vídeos do bichinho capturando o peixe e conta:
— Esse pinguim estava quase completando uma semana com a gente ali na praia. Ontem, eu o vi arpoando um baiacu grande. Esse eu não sei se ele engoliu. Em seguida, fiz o vídeo dele com outro baiacu e pensei: “Ele pode morrer por causa do veneno” (no vídeo abaixo, dá para ouvir um lamento do biólogo). Filmei, filmei e fui embora para casa. Em seguida, um colega me ligou quase chorando: “Ele morreu”. Tentaram fazer massagem para tirar o baiacu da goela do pinguim mas, quando viram, já tinha morrido.
Gomes explica, ainda, por que motivos os baiacus, considerados os peixes mais venenosos do mundo, tornam-se presas fáceis para o pinguim-de-magalhães:
— Assim como o pinguim-de-magalhães não está acostumado ao baiacu, o peixe também não conhece essa espécie e não consegue fugir nem se proteger. Os dois morrem porque um animal não conhece o outro.
Segundo o biólogo, o animal é da espécie pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus), também conhecido como naufragado, e não está acostumado às opções alimentares dos mares cariocas:
— Ele vem do Sul do continente, não é daqui. Onde vivia, há outros animais para que possa se alimentar. E esse pinguim não está acostumado a baiacu, não tem o instinto de perceber que é venenoso. Ali, entre Arpoador e Ipanema, já vi muitos pinguins nessa época, no inverno. Saiu no jornal, anos atrás, a história de um que virou “surfista” da área, só que sabia caçar, se alimentar… Esse que morreu ontem estava prestes a virar garoto do Rio, em dias anteriores “tirou selfies” com os banhistas… Mas morreu pela seleção natural. Pinguim precisa de milhões de anos de evolução para que esse instinto apareça entre os bichos da espécie (o de saber que a caça é venenosa). Pinguins que comem baiacus não deixam descendentes porque morrem. Então, os que sobram ficam e vivem sem comê-los porque não se atraem, sabem que não é boa caça.
Antes de apoar pequeno baiacu (foto), o pinguim Zé tinha carregado espécie grande no bico — Foto: André Cecília/ Mar Urbano
O Globo