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Quase seis meses após tomar posse, o presidente Lula (PT) tem assistido nas últimas semanas à demonstração mais contundente de insatisfação da Câmara dos Deputados, em especial por meio de declarações do presidente da Casa, o deputado Arthur Lira (PP-AL).
Lira é o principal líder do centrão.
Ele tem feito uma série de exigência públicas, enquanto o Palácio do Planalto sabe que hoje não tem votos suficientes para aprovar medidas de interesse sem a influência do presidente da Câmara.
Segundo Lira e o próprio Lula, o Planalto tem asseguradas cerca de 130 de 513 cadeiras no plenário —embora a base com partidos que integram o governo seja maior.
1) Candidatura à reeleição
Lira afirmou na noite desta segunda-feira (12) que o fato de Lula não deixar claro se será ou não candidato à reeleição em 2026 atrapalha o governo. Segundo Lira, essa indefinição gera “muitos pré-candidatos do próprio PT”.
“O fato de o presidente Lula não ter explicitado até hoje se é candidato à reeleição ou não gera, do meu ponto de vista, muitos pré-candidatos dentro do próprio PT. Isso não ajuda na administração do governo. Porque há uma aparente dificuldade de relacionamento de A, B, C, D ou E”, declarou o deputado federal em entrevista à GloboNews.
2) Troca de ministro da Casa Civil
Na entrevista desta segunda-feira, Lira contou que, numa recente reunião com Lula, sugeriu a substituição de Rui Costa (PT), atual ministro-chefe da Casa Civil, por Fernando Haddad (Fazenda). Segundo Lira, a possibilidade foi descartada pelo presidente da República.
“Eu tive um café da manhã há uma semana com o presidente Lula. No meio da conversa eu fiz a ele uma pergunta: ‘o sr. pensa em ter a possibilidade de o ministro Haddad ir para a Casa Civil e o [Gabriel] Galípolo ficar na Fazenda?”, disse Lira.
“O presidente Lula de imediato disse não. Haddad fica na Fazenda e o Galípolo [que é secretário-executivo da Fazenda] vai para o Banco Central. A partir daí a conversa sobre ministérios cessou.”
3) Pressão pelo Ministério da Saúde
Para tentar avançar nas negociações com o governo, aliados de Lira avaliam propor que o PP possa apadrinhar um ministro da Saúde que seja do setor, em vez de indicar diretamente um parlamentar para o comando da pasta.
O centrão, grupo liderado por Lira, quer que Lula abra espaço na Esplanada dos Ministérios para acomodar integrantes de partidos como PP, União Brasil e, ainda que incerto, o Republicanos.
4) Interlocutor único
Para Lira, a crise na articulação política do governo só se resolverá quando houver um interlocutor único do governo com o Congresso, e que tenha tinta na caneta para resolver problemas.
5) Câmara sub-representada
Lira afirmou no início do mês que a formação do ministério de Lula fez com que a Câmara ficasse sub-representada e disse que o governo ainda tem como mudar “o rumo dessas escolhas e equilibrar esse jogo”.
“A montagem e o estilo de se fazer uma base são próprios de cada governo. Nunca defendi o governo de coalizão com o Legislativo ocupando espaço, nem partidários nem pessoais, mas isso é da opção de cada governo. Se foi feito certo ou feito errado, a situação que a gente vive hoje fala por si.”
6) Ministérios a outros partidos
Lira afirmou no início deste mês que fez alertas a Lula da insatisfação dos parlamentares com a relação do Executivo com a Casa e defendeu que o petista dê espaço em seu ministério para mais partidos para aumentar sua base de apoio no Congresso Nacional.
“É lógico que em uma conversa entre líderes, parte da articulação política ou com o presidente da República ou com o presidente da Câmara, que essa mesma solução seja dada para outros partidos que ele queira [para] aumentar a base. O que há de errado nisso? O que há de diferente nisso? O que há de estranho nisso?”, afirmou Lira.
7) Ameaça velada
Lira avisou a interlocutores do Palácio do Planalto que não irá pautar projetos de interesse de Lula até que os deputados avaliem que o governo ajustou a articulação política e a relação com a Casa.
Com isso, Lira e líderes do centrão adotam uma postura para continuar pressionando o Palácio do Planalto a buscar soluções céleres para atender a pedidos da Câmara, como liberação de emendas, nomeações em cargos e também por mais espaço no governo, podendo inclusive configurar uma reforma ministerial.
8) Insatisfação generalizada
No final de maio, horas antes da votação pela Câmara da Medida Provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios, o deputado citou uma “insatisfação generalizada” na Casa.
“O problema não é da Câmara, não é do Congresso. O problema está no governo, na falta ou na ausência de articulação”, disse Lira na ocasião. “Há uma insatisfação generalizada dos deputados e talvez dos senadores com a falta de articulação política do governo, não de um ou outro ministro.”
FOLHA