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O líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB), defende abertamente a saída da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, do cargo. Daniela é deputada eleita pelo partido, mas pediu desfiliação da legenda. O União Brasil pediu a nomeação do deputado federal Celso Sabino (PA) no lugar. O presidente Lula, contudo,decidiu manter Daniela no posto — ela é vista como uma escolha pessoal do petista, em gratidão à campanha pesada feita pelo marido dela, prefeito de Belford Roxo (RJ).
“Se o governo quer um canal de diálogo com a bancada da Câmara, não é por meio de uma ministra do Turismo que pediu desfiliação do partido que ele vai conseguir”, disse Efraim a Oeste. “Uma eventual troca faria com que o deputado federal Celso Sabino contribuísse com o União Brasil na construção do diálogo.”
Caso Lula continue com Daniela, o União ameaça levar seus 59 deputados para a oposição. Os parlamentares votariam contra os temas de interesse do governo petista.
Efraim Filho comentou sobre a independência do partido no governo, a tensão que envolve Daniela Carneiro, a indicação de Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal, entre outros assuntos. Confira os principais trechos.
O União Brasil se declara independente, mas é possível manter essa independência controlando três ministérios no governo Lula?
Temos uma bancada que vai desde os senadores Sergio Moro (PR) até Davi Alcolumbre (AP). O Moro é um dos principais nomes da oposição, e o Alcolumbre é o maior articulador do governo no Senado. Desse modo, temos uma posição de equilíbrio, de serenidade e de independência. Sabemos respeitar as decisões individuais, e isso tem dado à bancada do partido no Senado uma tranquilidade. O governo compreende esse perfil de fiel da balança que o União Brasil desempenha. Podemos ajudar o governo em uma agenda propositiva para o Brasil. Nesse caso, a agenda econômica. Contudo, em alguns temas discordamos do governo e votaremos contra, como: aumento de impostos; políticas de apoio ou estímulo à invasão de propriedades privadas, como faz o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra; etc. É isso que independência significa. A liberdade de poder divergir em temas dos quais discordamos.
Na Câmara, o União Brasil passa por algumas turbulências com o governo e pede a substituição da ministra do Turismo. O governo, contudo, decidiu pela manutenção de Daniela Carneiro no cargo. Como essa situação vai terminar?
Esse é um tema relacionado à realidade na Câmara. Se o governo quer um canal de diálogo com a bancada da Câmara, não é por meio de uma ministra que pediu desfiliação do partido que ele vai conseguir. Uma eventual troca faria com que o deputado federal Celso Sabino contribuísse com o União Brasil na construção do diálogo. A pasta do Turismo tem ruído em relação às comunicações regionais. O governo acertaria mais com a bancada se deixasse o Sabino assumir no lugar da Daniela. Cabe ao governo decidir isso, mas tudo tem suas consequências. O União Brasil tem o perfil de fiel da balança e pode definir o placar de uma votação como bancada.
O partido pode votar contra o governo caso o presidente Lula mantenha a ministra do Turismo no cargo?
Na Câmara, a situação é mais desafiadora. Lá, a maior bancada é o PL, que é sempre oposição, a segunda maior é o PT, que sempre vota com a base, já a terceira é o União Brasil. Para onde o União se deslocar pode ajudar a aprovar ou desaprovar um projeto. Muitas vezes, se o governo não conseguir contar com todos os votos da base, mas angariar os votos do União, já consegue uma soma considerável.
Há alguns meses, a imprensa vazou diversas imagens que mostram o general Dias, então ministro do GSI, andando no Planalto enquanto vândalos depredavam o patrimônio público. Como o senhor avalia esses vídeos?
Temos a instalação de uma CPMI que está investigando esses atos de vandalismo. Devemos dar tempo para ela conduzir os depoimentos, as perícias e as averiguações. É necessário ter paciência, pois uma CPMI leva tempo. Vamos aguardar o relatório final. Ainda é muito cedo para tirarmos conclusões. É importante se debruçar sobre todo o histórico do dia 8 de janeiro. As imagens sozinhas trazem narrativas, e a CPMI tem a missão de analisar tudo. O governo afirma que foram manifestações contra às instituições democráticas com depredação de patrimônio público. Já a oposição afirma que eram agentes infiltrados que estimularam o vandalismo para prejudicar a imagem deles. Essa disputa de narrativas está posta na CPMI.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi reeleito com uma quantidade de votos histórica. Qual é o tamanho da força dele na Casa?
Ele tem se mostrado decisivo na hora de aprovar temas. Os temas em que ele apoiou o governo ganharam, como o arcabouço fiscal. Já as questões em que ele foi contrário ao governo perderam, como o decreto do Marco do Saneamento básico. A participação dele sempre é decisiva. Além disso, Lira tem o respaldo dos seus pares e do plenário da Casa.
O governo ainda conquistou uma base forte, em especial na Câmara. O que está falando?
Essa questão também é muito própria da Câmara. Ela tem seus desafios. O melhor caminho para o governo é estreitar o diálogo com o Lira. Já no Senado, temos um clima mais sereno e mais equilibrado. Atualmente, o Senado está mais tranquilo.
Quais dificuldades o governo Lula pode enfrentar na sabatina do advogado Cristiano Zanin no Senado?
A sabatina serve para realizar questionamentos e entender o perfil do indicado. Como membro da Comissão de Constituição e Justiça, tenho me resguardado. É claro que a relação pessoal do presidente com o Zanin deve ser levada em consideração, especialmente na sabatina. Mas vamos aguardar as respostas, e os argumentos que o indicado trará para os senadores. Ainda não me encontrei com ele.
Revista Oeste