Fábio Modesto/TV TEM
Auditor fiscal de Marília (SP) sai em busca dos ganhadores, mas grande desafio é convencê-los de que não se trata de trote ou golpe. No momento, 7 ganhadores ainda se recusam a acreditar que foram sorteados com pelo menos R$ 100 mil.
Desde o final de janeiro, o auditor da Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo em Marília (SP) Jair Rosa vem fazendo uma verdadeira caçada por premiados da Nota Fiscal Paulista que não resgataram seus prêmios (veja mais no vídeo acima).
O programa do governo estadual devolve um percentual do valor gasto pelo contribuinte que pede a Nota Fiscal Paulista. Os inscritos, além de ajudarem no combate à sonegação fiscal, também podem ser sorteados com valores de até R$ 1 milhão.
Até agora, por meio da iniciativa de Jair, já foram distribuídos mais de R$ 7,2 milhões para 36 pessoas que não faziam ideia de que tinham sido sorteadas. Quase sempre, no entanto, encontrar os sortudos é só parte do esforço.
Como em diversos casos o cadastro dos ganhadores junto à pasta está desatualizado, o auditor fiscal se vale de diversos sistemas públicos e até de consultas ao Google para conseguir localizar os felizardos.
Ele já conseguiu contatar alguns deles por WhatsApp, e-mail, carta e até ligando em estabelecimentos comerciais próximos de endereços relacionados aos ganhadores. Tudo isso para evitar que os prêmios expirem, o que acontece no prazo de cinco anos.
“Teve um senhor que foi premiado com R$ 500 mil. Descobri o endereço dele através do cadastro junto ao IPVA, e passei a mandar cartas. Para convencê-lo de que era algo sério, cheguei a descrever o carro em seu nome”, conta.
Não é golpe
O verdadeiro desafio enfrentado por Jair, de acordo com ele, é justamente convencer os beneficiados de que não se trata de trote ou golpe. É necessária muita insistência para que os premiados acreditem nele. E nem sempre funciona.
“Todo mês recebíamos a lista de prêmio represados, de pessoas que não apareceram para recebê-los. Isso me incomodava muito e, no final do ano passado, pedi autorização para ir atrás dessas pessoas”, conta o auditor que exerce função pública há nove anos.
Jair tem 60 anos e se tornou auditor de tributos do Estado já depois dos 50, em 2014, após uma carreira de mais de duas décadas no Banco do Brasil. Há seis anos ele assumiu a chefia do posto fiscal de Marília.
“O que me incomodava era essas pessoas terem se inscrito no programa, ajudando a combater a sonegação, com direito a esses valores e sem acesso a eles. Entendo que é dever da Secretaria ir atrás delas”, afirma o auditor, cuja função é normalmente associada à cobrança de tributos e não à distribuição de prêmios.
Inicialmente a lista de prêmios represados contava com mais de 40 pessoas, mas hoje são apenas sete, que seguem se recusando a acreditar que são ganhadoras. “Quem sabe com essa reportagem elas não se convencem, não é?”.
De acordo com o funcionário estadual, normalmente as pessoas desligam na sua cara quando ele fala da premiação. Então, entram em campo as outras técnicas. “Eu aviso para depois não reclamarem de que a sorte não bate à porta, pois ela está batendo”.
Por fim, ele explica que a maioria dos contatados acaba fazendo a verificação do prêmio no site oficial do programa Nota Fiscal Paulista ou procurando diretamente o posto fiscal mais próximo de suas casas.
Uma servidora pública estadual, que mora em São Paulo, é uma das ganhadoras localizadas por Jair. A mulher, que pediu para não ser identificada, foi sorteada há três anos com o prêmio de R$ 500 mil e confessa que maltratou o auditor da primeira vez que ele lhe procurou.
“Tive certeza de que era um golpe, então tratei ele como um estelionatário, um delinquente”, conta a servidora, que levou cerca de 20 dias para ser convencida e é considerada o caso mais difícil por Jair. “Depois eu liguei para ele e pedi desculpas”.
A mulher só teve certeza da premiação quando foi a uma unidade da Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo localizada no bairro do Tatuapé.
“Só de apresentar meu primeiro nome todos já me conheciam por lá, sabiam que eu era a ganhadora. Nunca fui tão parabenizada”, brinca a servidora, que só passou a levar a história de Jair a sério após mostrar para um de seus filhos uma das cartas recebidas.
Outra ganhadora encontrada por ele, que não revela quanto ganhou, é a jornalista Bibiana Camargo, de 54 anos. O dinheiro veio em boa hora, já que ela estava endividada e precisava terminar de pagar a formação das filhas.
A princípio, ela também ficou relutante. Mas, após constatar que Jair tinha razão, enviou-lhe uma carta como forma de agradecimento.
“Você foi instrumento de um milagre. Minha vida estava um caos absoluto, meu nome negativado”, escreveu Bibiana na carta, compartilhando o sentimento de muitos outros ganhadores encontrados pelo auditor fiscal.