Foto: Vítor Silva / Botafogo.
No futebol brasileiro atual, poucos compromissos são mais desafiadores do que enfrentar o Palmeiras no Allianz Parque. É como elevar ao máximo o sarrafo para testar uma equipe que pretenda conhecer suas reais possibilidades de competir no topo do Campeonato Brasileiro. Pois o Botafogo, que lidera o Brasileiro sob permanentes questionamentos sobre sua capacidade de se sustentar ali, foi a São Paulo, limitou as chances claras de gol do time mais sólido do país nos últimos anos e voltou ao Rio com uma vitória. Difícl prever o desfecho de um torneio que ainda tem 26 rodadas por jogar. Mas é preciso assumir que este Botafogo, que já vencera o Flamengo num Maracanã quase todo rubro-negro, pode ser o campeão. As informações são do Globo Esporte.
Ninguém ganha o Brasileiro com apenas 12 rodadas disputadas, e o Botafogo não formou seu elenco com os jogadores mais caros e da primeira prateleira do mercado. Ou seja, é natural que oscilações se apresentem no caminho, assim como as persistentes desconfianças. No entanto, é difícil descartar alguns números. Os sete pontos que a equipe de Luís Castro abriu em relação ao Grêmio, o novo vice-líder, representam uma vantagem que, historicamente, é quase intransponível: o São Paulo de 2020 foi o único ponteiro que viu tal margem derreter na reta final. Mas há outro dado impressionante: ainda que o feito seja aparentemente inatingível para qualquer clube, o fato é que, caso mantenha o aproveitamento atual até o fim do Campeonato Brasileiro, o Botafogo terminará a competição com impressionantes 95 pontos. Seriam cinco pontos a mais do que o Flamengo de 2019, recordista no atual formato de disputa. Não parece palpável a esta altura, mas serve para dar a dimensão do que representa a largada alvinegra.
Claro que é cedo para projeções de futuro. Mas a semana pode ser decisiva, mesmo que o Botafogo não entre em campo pelo Brasileirão. Porque se a corrida de 38 rodadas é naturalmente dura, será ainda mais complicada caso os alvinegros percam Luís Castro, alvo da cobiça da Arábia Saudita. A entrevista do treinador não ofereceu tantas garantias, embora tampouco tenha adotado um tom de despedida.
O fato é que este Botafogo será cada vez mais visado. E, como está longe de ser o elenco mais badalado do país, será sempre alvo de um questionamento: esta liderança é sustentável? Quem assistisse ao primeiro tempo do jogo deste domingo, curiosamente o período em que o time construiu sua vantagem no placar, teria dúvidas. A atuação defensiva foi notável. Não é fácil suportar o volume de jogo que o Palmeiras costuma impor em seu campo sem ceder tantas chances claras. Os 47 cruzamentos que o time de Abel Ferreira executou nos 90 minutos raramente ocorreram em boas condições. Porque o Botafogo limitava a criação de boas oportunidades.
Este não é um time obcecado por pressionar o rival contra o próprio gol. E, naturalmente, havia motivos para não fazê-lo na casa de um Palmeiras tão forte ao acelerar quando tem espaço. Duas estatísticas chamam atenção: o Botafogo é o segundo time no campeonato que mais passes permite aos rivais entre cada ação defensiva que executa; além disso, é o terceiro que menos ações defensivas realiza por minuto de posse de bola dos rivais. O futebol atual valoriza a pressão constante na bola, mas tampouco há regras. O Botafogo tenta fazê-lo em passagens dos jogos, mas quando não recupera rapidamente a bola, defende perto de sua área com grande organização. E aposta na capacidade de vencer duelos: Rafael e Adryelson, principalmente este último, foram exemplos disso diante do Palmeiras.
Além disso, quando está defendendo mais perto de sua área, o Botafogo gera espaços para jogadores de grande vitalidade pelos lados do campo. Aliás, é um time fisicamente muito forte. Júnior Santos recuperou uma bola em sua área e atravessou mais da metade do campo até sofrer a falta que resultou no gol de Tiquinho. O atacante, um dos destaques do Brasileiro até aqui, não vinha conseguindo ganhar duelos aéreos para segurar a bola e tirar o alvinegro de trás. Até a brilhante conclusão do lance do gol.
Mas o fato é que, até o intervalo, o Botafogo defendeu bem, mas produziu pouco com a bola. No segundo tempo, a realidade mudaria. A entrada de Matías Segovia na direita, na vaga de Júnior Santos, deu outra alternativa de jogo. Ele não era apenas um outro ponta veloz, mas um jogador capaz de reter a bola e servir companheiros que atacavam os espaços na defesa de um Palmeiras adiantado no campo – e mais vulnerável do que de costume. Eduardo atacava especialmente o setor direito, de onde serviu Victor Sá, que quase ampliou.
Não é possível dizer que o Botafogo não sofreu em passagens do jogo. Seria impensável ir à casa do Palmeiras e não ter momentos de dificuldades. Mas o campeão brasileiro tinha atuação ofensiva muito abaixo do esperado, tanto por dificuldades da equipe de Abel Ferreira, quanto por méritos alvinegros. A melhor chance veio no pênalti cometido por Di Plácido e perdido por Raphael Veiga.
É compreensível que a caminhada do Botafogo seja acompanhada por interrogações. Mas o fato é que poucas provas são tão duras quanto visitar o Palmeiras. E os alvinegros cumpriram a missão com sucesso. Ganharam o jogo e o direito de sonhar um sonho que parece bem mais real a esta altura.
Créditos: Globo Esporte.