Foto: Noriko Hayashi/Bloomberg
O cenário de crescimento de plataformas globais de e-commerce no Brasil recebeu um sinal de alerta, segundo análise recém-divulgada da equipe de research do Santander Brasil (SANB11).
O volume de importações de mercadorias de baixo valor, que serve como um indicador antecedente do desempenho de empresas de comércio internacional como as chinesas Shein e AliExpress, do Alibaba (BABA), teve queda de 20% em abril na comparação anual. Foi o primeiro declínio ano a ano desde maio de 2020, segundo dados recém-divulgados pelo Banco Central.
Os analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, que assinam o relatório do Santander, apontam que a queda aconteceu justamente no momento das discussões do governo Lula para tributação de compras de até US$ 50 em plataformas estrangeiras.
Na comparação de março para abril, a queda nas compras de baixo valor em plataformas do exterior foi de 25%, de US$ 938 milhões para US$ 700,9 milhões. Em abril de 2022, o valor havia sido de R$ 877,7 milhões.
Os analistas do Santander apontaram que vários fatores, incluindo o ambiente macroeconômico desafiador, contribuíram para a queda. Mas o principal motivo, em sua visão, parece ser o aumento das preocupações dos consumidores sobre a possibilidade de tributação em compras de outros países.
O governo brasileiro decidiu por ora suspender a tributação de compras de até US$ 50, que atualmente estão isentas, mas ainda tem se manifestado sobre possíveis mudanças no sistema de compras de outros países. Há a discussão de propostas para realizar o pagamento de impostos de importação no momento da compra em marketplaces online, como acontece na Europa.
Segundo os analistas, à medida que as discussões sobre tributação do comércio eletrônico internacional se intensificam, os preços desses produtos importados podem aumentar, criando desafios para empresas como Shein, Shopee e AliExpress. Essas três grandes plataformas estão em um esforço comercial para ampliar a fatia de “envios nacionais”, ou seja, vendas dentro do território brasileiro.
A Shopee, que pertence ao grupo Sea, de Singapura, tem buscado se distanciar da imagem de site de compras estrangeiro e tenta se estabelecer como uma plataforma que conecta vendedores e usuários brasileiros, assim como concorrentes com ampla presença no país como o Mercado Livre (MELI), segundo uma pessoa familiarizada com o assunto ouvida pela Bloomberg Línea.
A empresa diz que 85% dos produtos vendidos no Brasil são de vendedores locais que anunciam na plataforma.
A Shein, por sua vez, fabrica suas próprias roupas, a maior parte na China, e disse que passará a produzi-las de forma crescente e gradual no Brasil para atender o mercado latino-americano, na esteira das discussões sobre taxação de importados com o governo. O plano é chegar a 85% em 2026. O AliExpress também tem vendedores no Brasil, ainda que a maior parte das vendas ainda seja internacional.
Segundo analistas, isso pode ter implicações positivas para empresas locais, especialmente varejistas de vestuário, como Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e Guararapes (GUAR3), dado que terão que operar com custos semelhantes, incluindo os trabalhistas e os tributários. Essas empresas enxergam a Shein como uma ameaça à sua participação de mercado no Brasil, segundo os analistas do Santander.
Produção no Brasil
No contexto das discussões sobre a tributação de baixo valor, a Shein fechou um acordo com a Coteminas, empresa do ramo têxtil controlada pela família do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, para produzir localmente e de forma gradual nos próximos anos a maior parte das roupas vendidas em sua plataforma no Brasil.
O memorando de entendimento com a Shein prevê esforço conjunto para que 2.000 empresas parceiras da Coteminas se tornem fornecedoras da gigante asiática no Brasil. O acordo contempla financiamento de capital de giro e um contrato de exportação de produtos. Os valores não foram informados.
A Shein disse que pretende investir inicialmente R$ 750 milhões para fornecer tecnologia e treinamento aos fabricantes para que possam “atualizar seus modelos de produção tradicionais para o modelo sob demanda da Shein”, conhecido como fast fashion.
Procuradas pela Bloomberg Línea, a Shein e a Shopee não quiseram comentar. A AliExpress não respondeu ao pedido de comentário até o momento de publicação.