Um atacante habilidoso, que arrancava com velocidade e comemorava seus gols com movimentos de capoeira. A descontração em campo era combinada com uma preocupação estética: no início dos anos 2000, era um “metrossexual”. O termo, anacrônico em 2023, era usado para homens vaidosos, que cuidavam da própria aparência — o mundo tinha David Beckham; o Brasil, Alex Alves.
Mas Alex Alves também era introspectivo, gostava de escrever e da leitura. E tinha uma ligação extremamente forte com a sua única filha, Alexandra. Inicialmente, foi com ela que o ex-jogador de Vitória, Palmeiras, Cruzeiro e Hertha Berlim dividiu um segredo: estava doente.
Alex passou anos convivendo com um mal que comprometia o funcionamento da medula óssea. Escondeu o diagnóstico o quanto pôde, e de quase todos. Morreu em 14 de novembro de 2012, aos 37 anos, em um hospital de Jaú, interior de São Paulo. Alexandra, que vivia com a mãe em Belo Horizonte, tinha acabado de completar 13 anos.
No Cruzeiro, viveu sua melhor fase. Foi campeão mineiro, da Recopa Sul-Americana e vice-campeão brasileiro. As boas atuações com a camisa celeste chamaram a atenção de clubes europeus. Alex fechou com o Hertha Berlim, e a família se mudou para a Alemanha — Alexandra tinha apenas três meses.
Alex estreou no Hertha em fevereiro de 2000, mas seu período no clube foi de altos e baixos. Fora de campo, teve problemas — acabou autuado duas vezes por dirigir em alta velocidade, sem carteira de motorista. A imprensa chegou a elegê-lo como uma das piores contratações da história do futebol alemão.
Faltando seis meses para o fim do contrato de quatro anos, Alex resolveu voltar ao Brasil. Fechou com o Atlético-MG.
Ainda em 2004, Alex deixou o Atlético-MG e foi para o Vasco — no Rio, a falta de pagamento se repetiu. O atacante ainda voltou para o Vitória, em 2005.
Alex Alves tinha uma doença de nome complicado — hemoglobinúria paroxística noturna — e de efeito devastador no organismo. Essa condição lesiona a medula óssea e compromete a fabricação de sangue, além de causar eventos como dores abdominais e quadros de trombose.
O atacante teria descoberto a doença em 2007, quando tentava voltar ao futebol europeu. A partir daí, a situação financeira se agravou. Além do calote dos times, Alex Alves sempre teve altos gastos: sustentava a família de origem e tinha uma filha para criar. Para manter essa estrutura, era preciso continuar jogando. Uma das poucas pessoas a saber que ele estava doente, ainda que sem grandes detalhes, era a filha Alexandra.
Alex Alves e Nadya se separaram quando Alexandra tinha seis anos — ela ficou morando em Belo Horizonte com a mãe, enquanto o pai manteve sua base em Salvador.
Alexandra conta que, após a separação, a relação entre os pais não foi amistosa. Por isso, eram mais frequentes as idas dela a Salvador do que as visitas dele em Belo Horizonte. E foi em uma dessas viagens à Bahia que ela, mesmo criança, percebeu que o pai não estava bem.
Em 2008, quando jogou no Fortaleza, Alex Alves desmentiu estar com leucemia. Disse que era um boato. Dois anos depois, procurou tratamento no Hospital Geral da Bahia. Com a saúde em declínio, o atacante foi buscar a cura para a sua doença a quase 2.000 km de Salvador.
O Hospital Amaral Carvalho, na cidade de Jaú, é referência nacional para o tratamento de câncer e transplantes de medula óssea via SUS. Foi assim que Alex Alves chegou ao interior de São Paulo, em 18 de setembro de 2012.
O médico hematologista Mair Pedro de Souza lembra da surpresa ao receber o paciente famoso. “A gente não sabia que ele viria. Ele foi atendido no ambulatório e ficou na casa de apoio para pacientes do SUS. Dormiu a primeira noite lá porque chegou pelos canais habituais do sistema público”. No dia seguinte, por privacidade, Alex já foi internado.
O transplante de medula óssea era a única alternativa para a cura de Alex Alves. A doação veio de um dos irmãos, e o procedimento foi realizado em 5 de outubro, dois dias antes do aniversário de 13 anos de Alexandra. Em Jaú, Alex esteve acompanhado da irmã, Cleide. Passava o dia no computador, falando com fãs, inclusive da Alemanha. Internado em regime de isolamento, não podia receber visitas.
O transplante, em si, foi bem-sucedido: em 21 de outubro, a medula começou a funcionar. Mas Alex Alves evoluiu para uma grave complicação, a “doença do enxerto contra o hospedeiro”, em que o organismo começa a rejeitar as células que foram doadas. Alex Alves morreu por falência múltipla de órgãos, às 8h40 do dia 14 de novembro de 2012.
Os amigos do futebol só souberam dos problemas de saúde de Alex quando a imprensa começou a noticiar o transplante, em meados de outubro. “Eu não sabia que ele estava doente, nem o Dida, nem o Paulo Isidoro, nem o Vampeta, os melhores amigos”, conta Paulo Carneiro.
Em 2022 completaram-se dez anos da morte de Alex Alves. Alexandra é, hoje, uma mulher de 23 anos, mãe de Maitê, com quase três. Do pai, guarda a lembrança de um homem forte, que não queria demonstrar fraqueza, e que nunca perdeu sua essência.. Com informações de UOL.