foto: Marinho Drone
Dentre os ferimentos, vítima teve um braço quebrado e uma fratura exposta no pé esquerdo. Problema das voçorocas já tem 30 anos, mas nunca foi resolvido.
Um policial militar aposentado sofreu fraturas após cair em uma das voçorocas de Buriticupu que ameaçam ‘engolir’ parte do município ao longo dos últimos 30 anos. Nesse período, três ruas e mais de 50 casas já caíram nas crateras que crescem a cada ano.
A vítima se chama José Ribamar Silveira que, segundo testemunhas, caiu de uma altura de aproximadamente 80 metros. O acidente aconteceu na Vila Isaías, durante a madrugada, mas a vítima só foi resgatada por volta das 7h desta terça-feira (2).
“Ele é conhecido como ‘Tenente Silveira’ e caiu com o carro particular dele. Está no hospital e o caso requer cuidado, pois teve algumas fraturas”, afirmou o coronel Diniz, que comanda o Batalhão de Polícia Militar em Buriticupu.
José Ribamar foi encaminhado para uma Unidade de Pronto-Atendimento. Dentre os ferimentos, a vítima teve um braço quebrado e uma fratura exposta no pé esquerdo. Um vídeo (veja acima) mostra o momento do resgate.
O problemas das voçorocas de Buriticupu é antigo, mas veio à tona este ano por conta da chegada do período chuvoso que fez aumentarem as enormes crateras no município.
A prefeitura possui apenas uma Coordenadoria de Defesa Civil, com poucos servidores, para acompanhar o caso ou fazer um planejamento de como retirar as famílias.
A cidade tem mais de 70 mil habitantes e o prefeitura diz que depende de órgãos estaduais e federais para mapear as áreas de risco e planejar ações para os períodos de chuva, quando os deslizamentos se agravam.
“Buriticupu não tem inviabilidade financeira de controlar aquela situação porque passa por indenização de imóveis, construção de novas moradias, conjuntos habitacionais… serviços de drenagem, então é uma situação complexa”, afirmou o prefeito João Carlos, ao g1 Maranhão.
As frentes nacional e estadual da Defesa Civil estiveram no local e foi delimitada uma área de 50 metros das margens da voçorocas em que as famílias precisam ser retiradas, o que contabilizou 220 famílias.
“O principal gargalo é porque é diferente de uma enchente, no qual o rio sobe, baixa, e as pessoas voltam pra casa. No caso das voçorocas, precisamos de uma nova área para remanejar as famílias e estamos esperando uma portaria no Diário Oficial da União para gente poder ter a liberação de recursos para a construção de um novo habitacional para essas famílias”, justifica João Carlos.
O que são as voçorocas
Voçoroca com 68 metros de profundidade e 298 metros de comprimento, em Buriticupu — Foto: Marinho Drones
As crateras são pequenos fenômenos geológicos que surgem como fendas no solo, geralmente provocadas pela água da chuva. Se nada é feito para conter, uma cratera pode chegar ao grau de voçoroca, quando atinge um lençol freático, como aconteceu em Buriticupu.
No município, as voçorocas têm dimensões que chegam a mais de 298 metros de comprimento. (veja a imagem acima). Ao todo, são 26 voçorocas que se formaram ao longo de anos de desmatamento.
Porém, de acordo com especialistas, a ocupação desordenada, o relevo e o solo arenoso também são fatores que contribuíram para o surgimento e o avanço das voçorocas.
A cada ano as crateras avançam cerca de cinco metros sobre a cidade. — Foto: Reprodução/TV Mirante
“A própria atividade humana ela, sem saber, ela vai criando o problema. Como não tem uma política defensiva, ela acaba causando essas erosões. Então é um material meio solto onde qualquer chuva e qualquer enxurrada vai levando micro partículas do solo para um nível mais baixo”, explica Clodoaldo Nunes, geólogo.
Crateras já ‘engoliram’ casas
Por conta de avanço das crateras, parte de um vilarejo sumiu em Buriticupu — Foto: Reprodução/TV Mirante
Nos últimos dez anos, só uma voçoroca engoliu três ruas e mais de 50 casas em Buriticupu. Parte da Vila Santos Dumont desapareceu completamente e as casas que ainda não desabaram estão próximas aos barrancos e foram abandonadas. A família do serralheiro João Otávio Farias perdeu 14 casas de aluguel.
“Em 2001, meu pai comprou esse terreno, construiu a casa de moradia dele, o local de trabalho dele que era uma marcenaria, ele mexia com madeira e, no decorrer do trabalho dele, ele foi comprando um terreno aqui, construindo uma casinha ali e fazer como se fosse aposentadoria dele. Essas casas aqui eram todas alugadas. Chegou um ponto que ninguém alugaria mais por conta do perigo”, diz o serralheiro.
Situação preocupa quem vive próxima as crateras em Buriticupu — Foto: Reprodução/TV Mirante
Situação de emergência
As chuvas registradas nos últimos dias agravaram o problema em Buriticupu e, por conta disso, o município decretou situação de calamidade pública.
“A intervenção ela tem que ser tanto emergencial quanto preventiva. Caso contrário, nós teremos esse processo aumentando cada vez mais e provocando maiores danos às famílias que ali residem”, diz Cel. Célio Roberto, comandante do Corpo de Bombeiros do Maranhão.
Em nota, o Governo do Maranhão disse que o município foi incluído no decreto de situação de emergência estadual. O Estado informou que foi solicitado recursos federais imediatos de ações de ajuda humanitária e posteriormente, para ações de estabelecimento.
G1