Foto: Marcelo Camargo
“Lula o que faz é legitimar um ditador na prática. Pior ainda, revitimiza toda a sociedade venezuelana”, afirmou ele, que se proclamou presidente interino e chegou a ser reconhecido por dezenas de países, inclusive o Brasil sob Jair Bolsonaro (PL).
Chamado de impostor por Lula, Guaidó afirmou que o ataque não se restringe a ele.
“Lula o que faz ao atacar-me é relativizar a tragédia que sofre a Venezuela”, declarou, falando desde os EUA, onde se baseou após deixar o país citando razões de segurança.
Como o sr. viu a visita de Maduro ao Brasil e o encontro com o presidente Lula? O presidente Lula toma suas decisões, e sua prioridade é a agenda internacional. Lamento que a aproximação com Maduro e com a Venezuela não seja de uma busca das soluções do conflito. Há ainda uma possibilidade de acordo mediado pelo México.
E não houve menção à Amazônia, que tanto o presidente Lula citou durante sua campanha, ou à presença de AK-47, certamente russos, na fronteira com Roraima. Nem ao tráfico de ouro, entre outras coisas, na fronteira, ou à presença de milhares de venezuelanos que são produto do deslocamento forçado.
Ele se dedicou a atacar-me, e não foi um ataque a Juan Guaidó, mas um ataque à luta por democracia, por eleições livres, por respeito às vítimas de violação de direitos humanos.
O presidente chamou o sr. de impostor. Lula me chamou de impostor para evitar falar da necessidade de eleições livres na Venezuela, ou de que Maduro comete crimes de lesa-humanidade. Lula revitimiza a toda a sociedade venezuelana. Michelle Bachelet [ex-comissária da ONU para direitos humanos] disse que havia violações sistemáticas de direitos humanos na Venezuela. A Human Rights Watch falou dos deslocados. Essa não é portanto uma opinião de Juan Guaidó. Lula o que faz ao atacar-me é relativizar a tragédia que sofre Venezuela, legitimar uma ditadura, lamentavelmente.
A presença de Maduro na reunião com presidentes da América do Sul mostra que ele não está mais isolado? Mostra que o convite que recebeu por parte de Lula marca uma agenda geopolítica do Brasil muito clara, que não faz parte da democracia. Mas além da pretensão que tenha o gesto, é muito preocupante para 7,5 milhões de refugiados, para dezenas de milhares de vítimas da repressão de Maduro. Isso não é apenas estender a mão a um ditador, mas desestabilizar a região. A Operação Acolhida recebeu centenas de milhares de venezuelanos deslocados pela tragédia da Venezuela. Essa não é uma narrativa como disse o presidente Lula, não é um invento. Não é relativizável. É um fato.
O sr. espera que os presidentes da América do Sul cobrem Maduro pela situação de direitos humanos na cúpula? O mínimo que esperamos é que falem das vítimas e dos direitos dos presos políticos, dos migrantes venezuelanos e da solução do conflito, que passa por eleições livres e justas. Não queremos nenhum presente, apenas isso.
Folha