Foto: Reprodução.
O segmento dos carros usados vinha crescendo sem parar, apesar do fato de a negociação de modelos cada vez mais antigos acompanhar essa mesma tendência de alta – devido à baixa reposição de veículos mais novos no mercado.
Mas após o anúncio preliminar do governo feito quinta-feira (25) – para o pacote de medidas que visam alavancar a produção de carros populares no Brasil e baratear os preços de automóveis zero-quilômetro para os consumidores – como ficarão os usados?
Mercado dos veículos de segunda mão sempre foi o maior de todos. Conforme dados da Fenauto, em abril, foram 1.039.256 unidades vendidas, alta de 10,7% em relação ao mesmo mês de 2022 (cerca de 940 mil veículos). No acumulado do ano, os números até o fechamento do mês passado são 4,4 milhões, ou 18,8% mais do que nesse mesmo período de 2022 (3,7 milhões).
Números das vendas e percentuais das altas na comparação com 2022 são bem maiores do que os do segmento de novos. Foram 118.127 unidades vendidas em abril e 463.968 no acumulado até o fechamento do último mês, com variações ante os respectivos períodos de 2022 que foram de 7,7% e 13,1% (conforme o último balanço mensal divulgado pela Fenabrave).
Prazo de 15 dias até a publicação dos incentivos foi um balde de água fria
Por enquanto, nem a fabricante e nem o lojista sabem o que fazer, pois as definições levarão ao todo 15 dias para sair. Isso tinha que ter saído no máximo hoje. Enquanto isso, todo mercado já está parado. Espera-se que o governo abra, em caráter de exceção, uma permissão para que os estoques possam ter os faturamentos recalculados e refeitos, assim os impostos sobre os produtos não ficarão antigos” Cassio Pagliarini da Bright Consulting.
Pontos fundamentais que vêm sendo comentados pelo próprio governo nas últimas semanas nem foram mencionados ainda, como a oferta de crédito mais barato. Havia essa grande expectativa e muita coisa continua indefinida. Muita gente aguardava o anúncio para fechar negócio e agora vai esperar até a divulgação de todas as informações” Ricardo Bacellar, sócio fundador da Bacellar Advisory Boards e conselheiro da SAE Brasil.
E os preços dos usados?
Sobre os carros de segunda mão propriamente, Cassio diz que “os descontos dos carros novos obrigarão os usados a reduzirem os preços também, respeitando o mesmo percentual dos zero km ou próximo disso, uma vez que aqueles com até quatro ou cinco anos desde a fabricação ainda competem com os novos na hora do consumidor decidir a compra”.
“Já aqueles mais antigos, tanto de idade quanto de quilometragem, ainda que também possam acabar sendo obrigados a praticar algum desconto, na prática isso não terá tanta expressividade quanto os mais novos, pois há uma diluição no meio do caminho”, complementa.
Como será o ‘carro popular’
Segundo Alckmin, o governo dará descontos em tributos como IPI e PIS/Cofins que variarão entre 1,5% e 10,96% no valor final do veículo;
A medida será válida apenas para carros abaixo de R$ 120 mil e terá tempo limitado, mas o período não foi anunciado;
47% do mercado brasileiro é composto por veículos que custam até R$ 120 mil;
Efeito: as fabricantes poderão se sentir encorajadas a reduzirem preços de carros que passem até mais ou menos R$ 5 mil do teto do benefício;
Apenas com base no percentual máximo previsto pelo governo, o preço de um carro zero-quilômetro ainda ficará acima de R$ 60 mil – aquém da projeção entre R$ 50 mil e R$ 55 mil feita pelo Palácio do Planalto;
Hoje os carros zero-quilômetro mais baratos do mercado são Renault Kwid e Fiat Mobi, com preço inicial em torno de R$ 69 mil;
Inevitavelmente, quem comprou um carro zero km há não muito tempo, no final do processo, terá de arcar com dois infortúnios: compra mais cara e depreciação acentuada do valor de revenda;
Tanto Cassio quanto Bacellar defendem que, além da redução da taxa de juros e da facilitação do crédito, são necessárias medidas estruturantes que proporcionem uma retomada sustentável no crescimento da indústria automotiva.
Para Pagliarinni, a política também tem o seu lado bastante benéfico. “Quando falamos de carros novos, calculamos algo em torno de 170 mil vendas incrementais, caso a duração seja de junho a dezembro. Isso vai arejar a indústria, acelerar a economia mais cedo e repor o mercado de usados com veículos mais novos. Mas tão importante quanto isso é que, na hora da retirada dos benefícios, o desmame seja feito aos pouquinhos”, finaliza.
Setor de usados reconhece benefícios à economia, mas deixa apelo
Para a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), em nota divulgada, é natural que os veículos novos das categorias que se enquadram até os R$ 120 mil, em um primeiro instante, venham a concorrer de forma mais acirrada com os seminovos e usados. E por tudo o que está envolvido, fez um apelo ao governo.
“A entidade entende que as montadoras e a indústria nacional (que ainda se encontra bem defasada em relação a de outros países), necessitam sim de incentivos, mas que não devem ser as únicas beneficiadas. Lembramos que a cadeia que compõe o setor automotivo brasileiro contempla muitos outros participantes (autopeças, seminovos e usados, mecânicas, implementos, acessórios etc.), e são essas categorias que também precisam e merecem ser desoneradas como um todo”, escreve.
De todo o modo, também reconhece que o mercado de usados será beneficiado naturalmente: “a Fenauto reforça que, a longo prazo, muito mais veículos estarão disponíveis para serem comercializados como seminovos, porque quanto mais veículos novos forem colocados no mercado, maior será a oferta de seminovos, sendo melhor para o segmento no futuro. Dessa forma, o ciclo da cadeia automotiva é alimentado, gerando sinergia para toda a cadeia”.
Créditos: UOL.