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Jornalista por 25 anos na TV Globo e GloboNews, Leila Sterenberg, 51, foi um dos profissionais afetados na onda de demissões que atingiu a emissora. Leila participou de grandes coberturas ao vivo, como os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Em suas palavras, no bate-papo com a coluna, é possível observar uma certa mágoa com a antiga casa. “Foi um susto”, diz sobre a demissão. Leila fala nove línguas (inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, russo, japonês, romeno e hebraico) e, recentemente, se tornou madrinha de uma biblioteca com o próprio nome, na favela do Borel, no Rio. Confira a conversa.
A notícia da sua demissão depois de 25 anos na Globo era algo esperado? Como sou muito ativa e nunca deixei de ser repórter – vivia inventando pautas para o Especial de Domingo, que estava indo muito bem, e propondo projetos especiais -, além de sempre estar disponível para substituir quem quer que fosse quando necessário, foi um susto. Para mim e para muita gente. Mas entendo o lado da empresa e sou grata pelos anos que passei lá. Tive a oportunidade de fazer coisas incríveis, trabalhei com pessoas brilhantes e parceiras, aprendi muito, fiz grandes amigos. Com a minha saída, diminui um pouco a diversidade, já que eu era a única apresentadora judia. Mas vamos em frente. Agora, é vida que segue e abraçar novos projetos.
Quais os planos para o futuro? A bagagem dos anos de trabalho intenso é o passaporte para seguir adiante. Sou uma das autoras do volume 2 do livro Uma Sobe Puxa a Outra, lançado neste mês. Traz relatos de integrantes do movimento de mesmo nome, cuja missão é lutar pela equidade de gênero e que reúne mais de 300 mulheres, incluindo empreendedoras e CEOs. Além disso, comecei uma colaboração com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Vamos fazer um podcast semanal, em áudio e vídeo, sobre política internacional.
Qual é o sentimento de ser madrinha de uma biblioteca? E como você ajudou nesse processo? Tenho orgulho e gratidão. Eu já acompanhava há algum tempo, pelas redes sociais e pela imprensa, o trabalho do Favelivro. Um dia mandei uma mensagem, me oferecendo como voluntária para rodas de leitura. Afinal, um dos meus atributos profissionais é ler em voz alta bem. Verônica Prudêncio, fundadora do projeto, me perguntou se eu queria dar nome a uma biblioteca. Aceitei na hora.
Quais livros da sua coleção estão na biblioteca do Borel? Doei, entre vários outros, alguns da Clarice Lispector que tinha em duplicata. Minha filha mais velha, que lê muito, doou também algumas dezenas.
E que livro você indicaria para a leitura? Cada leitor tem um gosto. Contudo, me parece que ler Machado de Assis, Lima Barreto, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado, José Saramago, José Eduardo Agualusa, Valter Hugo Mãe, Chico Buarque e Itamar Vieira Júnior não faz mal à alma de ninguém.
A escolha pela quadra de samba da Unidos da Tijuca, no Borel, foi pela sua relação com o carnaval? O Favelivro sugeriu o Borel depois de fazer contato com o Instituto de Cidadania da Unidos da Tijuca, achei sensacional. Saí por anos e anos na Mangueira, da qual me considero “cria”. Em inúmeros ensaios da verde e rosa, fazendo as vezes de porta-bandeira, tive a honra de dançar com o mestre Delegado e uma vez desfilei como passista pela escola.
E sobre seu conhecimento em nove idiomas… qual é o seu método de estudo? Tem gente que acha que nasci sabendo, que sou de família estrangeira, não é nada disso. Adoro aprender. Ter aula à moda antiga – em turma ou particular, se possível presencialmente. É preciso também fazer dever de casa, conjugar verbo… Assim que começo a dominar a língua, tento ler literatura não traduzida. E procuro assistir a filmes no idioma original com legendas e ouvir muita música. Quando soube que teria Copa do Mundo na Alemanha, meti a cara nos livros até aprender alemão. E assim que a Rússia invadiu a Ucrânia, voltei às aulas de russo, que já tinha estudado antes da Copa de 2018.
Já colocou em prática o japonês? Recentemente, fui ao Japão a convite do Ministério dos Negócios Estrangeiros e, tendo feito uns cinco meses de aula, me atrevi a falar em japonês: perguntei, num hotel em Tóquio, onde era o banheiro. Acho que convenci o funcionário, porque ele respondeu, também em japonês, só que muito rápido. Pelo gestual, entendi. Ou seja, me comuniquei!
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