foto: O Globo
Amigo do presidente Lula, José Carlos Bumlai, 78, voltou a ser alvo na Justiça. Uma investigação privada conduzida a pedido de credores revelou operações de blindagem patrimonial do pecuarista e até a compra simulada de um avião com recursos da massa falida da usina São Fernando.
A dívida da massa falida é de cerca de R$ 2 bilhões e somente os bancos públicos —BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal— têm R$ 775 milhões em créditos.
A Justiça tinha autorizado o escritório de advocacia Duarte e Forsell, especializado no rastreamento de bens, a buscar ativos em posse da família Bumlai no Brasil e no exterior.
Em uma das peças do processo, hoje sob sigilo, o escritório afirma ter sido destituído dessa função no ano passado. Houve recurso, mas não foi aceito.
Naquele momento, os credores já sabiam que tinham sido encontrados bens dos Bumlai no país e no exterior suficientes para, praticamente, quitar a dívida da empresa falida.
Ao mesmo tempo, os credores descobriram um acordo que nunca fizeram com Bumlai. Desde então, pedem ao juiz acesso ao documento, o que ainda não ocorreu.
Pelo suposto acordo, os credores abririam mão do dinheiro que têm para receber, dando quitação de dívidas para Bumlai e seus filhos. Esse acerto, insistem os credores, nunca existiu.
“Se existiu, não participamos, e foi feito de forma obscura”, disse à coluna o advogado Otávio Barbi, sócio do Tolentino Advogados, que representa um fundo com cerca de R$ 50 milhões a receber.
“Peticionamos para ver o acordo há oito meses e, até agora, nada. O juiz nos ignorou.”
No incidente protocolado neste ano na Justiça, os credores afirmam que o objetivo do suposto acordo seria blindar a família Bumlai.
No meio do rastreamento patrimonial da Duarte e Forsell, verificaram-se não somente bens, mas uma série de irregularidades supostamente praticadas pelos antigos controladores.
A coluna teve acesso ao documento. Entre as irregularidades apontadas pelos investigadores, estavam a compra disfarçada de um avião da fabricante Cessna realizada com dinheiro da massa falida.
Os peritos afirmam que o aluguel pago mensalmente, na verdade, era uma prestação de financiamento. À época, a empresa de Bumlai já estava sob intervenção judicial e o empresário se referia a esses pagamentos mensais de R$ 1,5 milhão como “uma despesa insignificante”.
A família também teria feito blindagem patrimonial por meio de simulação de operações de compra e venda de fazendas e outros ativos. E desvios de recursos da empresa para o patriarca e os filhos por meio de prestação de serviços não comprovados, ainda segundo a investigação.
Alvo da operação Lava Jato, José Carlos Bumlai foi condenado a 9 anos e 10 meses por corrupção passiva e gestão fraudulenta.
Em 2016, ele cedeu um engenheiro e um arquiteto para uma reforma no chamado “sítio do Lula”, em Atibaia (SP), o que foi primordial para a condenação do então ex-presidente.
Devido ao sigilo, não se manifestaram o advogado Ricardo Tepedino, que defende os Bumlai; o administrador judicial da massa falida, Vinícius Coutinho; e o escritório Forsell e Duarte. O juiz da empresa falida, Cesar de Souza Lima, não respondeu até a publicação desta reportagem.
Folha de SP