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Marcos Mion usou as redes sociais, nesta sexta-feira (21), para manifestar revolta e indignação diante de uma fala recente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na última quarta-feira (19), o presidente do país afirmou — numa reunião com ministros e governadores, em Brasília, acerca da prevenção da violência nas escolas— que pessoas com “deficiência mental” têm “problemas de desequilíbrio de parafuso”.
“A OMS (Organização Mundial de Saúde) sempre afirmou que na Humanidade deve haver 15% de pessoas com algum problema de deficiência mental. Se esse número é verdadeiro, e você pega o Brasil com 220 milhões de habitantes, significa que temos quase 30 milhões de pessoas com problemas de desequilíbrio de parafuso. Pode uma hora acontecer uma desgraça”, disse Lula, na ocasião.
A declaração do presidente foi refutada por especialistas. Pai de Romeo, adolescente de 17 anos diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Marcos Mion afirma que o discurso de Lula reforça preconceitos e estigmas e se sustenta em capacitismo, conceito ainda pouco conhecido no país e que se refere à discriminação contra pessoas com deficiência.
— O capacitismo é fundamentado numa lógica de “corponormatividade”, em que alguns corpos valem mais do que outros — explica a pesquisadora Karla Garcia Luiz, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em reportagem publicada pelo GLOBO. — Nesse caso, corpos sem deficiência valem mais do que corpos de pessoas com deficiência. É uma hierarquia, todo corpo que foge de um padrão pode sofrer opressão por capacitismo.
Marcos Mion afirma que “a comunidade autista segue sem 1 minuto de tranquilidade” e revela que ficou “chocado” com a fala do presidente. “O termo usado, já há muitos anos, é ‘deficiência intelectual’, e não ‘deficiência mental’, como o Lula usou. A gente tem que se policiar, tem que aprender e tem que se adequar. Lula se refere a essas pessoas dizendo que ela têm problemas de desequílibrio de parafuso. Isso é só pejorativo e também incentiva outras pessoas a continuarem usando esse termo”, afirmou o apresentador do programa “Caldeirão com Mion”.
Mion acrescentou, no mesmo post, sobre a necessidade de difundir informações corretas sobre o tema para o maior número de pessoas: “A gente está aqui lutando pela aceitação, conscientização e normatização de todas as condições, noite e dia, e aí imagina uma pessoa sem informação, olhando para o seu filho com deficiência intelectual e perdendo as esperanças… Se o presidente diz que ele tem parafuso desequilibrado, para que eu vou continuar lutando?”.
Marcos Mion também questionou a maneira como o presidente relacionou os recentes ataques vistos em escolas e as pessoas com deficiência intelectual. “Irresponsavelmente, a fala dele liga deficientes intelectuais diretamente aos casos de violência que infelizmente temos visto acontecer. Isso é um absurdo, pois não há qualquer comprovação. Como pai de um autista, eu me sinto atingido”, lamentou.
Militante ativo na luta por direitos das pessoas portadoras de autismo, o apresentador conseguiu aprovar no Senado, em 2020, a Lei Romeo Mion — em referência ao nome de seu filho —, mecanismo que criou a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), documento emitido de forma gratuita, sob responsabilidade de estados e municípios.
O Globo