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Ex-secretário do Tesouro afirma que, se novas regras fiscais forem aprovadas no 1º semestre, os juros podem baixar até o fim do ano
O ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida disse que o Brasil ainda não tem condições de começar a baixar a taxa básica de juros, a Selic. Segundo ele, a incerteza fiscal é o principal motivo para isso. Para ele, o atual momento inflacionário, em rota decrescente, ainda não é o suficiente.
“A expectativa de inflação para 2024, 2025, 2026 e 2027 praticamente toda a semana desde o início deste ano está se afastando da meta“, afirmou durante o evento Lide Conference, realizado em Londres. Hoje, Mansueto é o economista-chefe do banco BTG.
O ex-secretário estima que, caso as novas regras fiscais sejam aprovadas no 1º semestre, como prometem os presidentes da Câmara e do Senado, será possível dar início à redução até o fim do ano.
“Para darmos condições ao Banco Central eventualmente a partir do 2º semestre [baixar os juros] temos que provar que o ajuste fiscal acontecerá. O trabalho na Câmara e no Senado será importante. O arcabouço não vai estabilizar a dívida neste governo. Mas muda a velocidade de crescimento“, disse.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi cobrado por políticos a reduzir os juros. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cobrou “redução imediata“. Já o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), disse ao Poder360 que os juros “têm que cair” e comparou a uma quimioterapia que, em excesso, mata o paciente.
Em sua defesa, Campos Neto disse que “o timing técnico é diferente do timing político“. Tanto Mansueto quanto Campos Neto foram aplaudidos pela audiência, composta sobretudo de empresários. No dia anterior, porém, quando Pacheco defendeu à mesma plateia a queda de juros, foi igualmente aplaudido.
COBRANÇAS DE PACHECO
Pacheco disse na 5ª feira (20.abr) que é possível reduzir a taxa Selic na próxima reunião do Copom, marcada para o início de maio. A declaração foi feita a jornalistas depois de sua participação no Lide Conference, no Reino Unido.
Pacheco elencou alguns fatores que, na sua avaliação, permitiriam a redução imediata. Eis o que ele citou como base para a sua cobrança:
- inflação abaixo d0 esperado;
- novas regras fiscais enviadas ao Congresso;
- declaração dos presidentes da Câmara e Senado de que as regras serão aprovadas; e
- evolução na discussão da reforma tributária.
“Não quero arriscar qual seria a redução [dos juros], mas nada drástico. Não precisa descer para 11%. São coisas gradativas, reunião a reunião, monitorando a inflação. Havendo dificuldade ao se reduzir os juros, nada impede que haja o restabelecimento da taxa“, disse.
Segundo o presidente do Senado, é uma questão de “responsabilidade” reduzir a Selic, atualmente em 13,75%. “Quero acreditar que o desejo do presidente do Banco Central, até pela responsabilidade que tem com o país e com o crescimento da economia, o desejo também seja da redução“, disse.
Pacheco comparou a autonomia do Banco Central às agências reguladoras. Elas funcionam com foco regulador em suas áreas específicas, mas costumam ter alinhamento com o governo para favorecer projetos.
“Ao mesmo tempo [que são autônomas] tem que ter um olhar sobre as necessidades do país. Não só o que pontua um novo governo“, afirmou.
O presidente Roberto Campos Neto não respondeu às críticas de Pacheco. Ele fará uma apresentação no evento do Lide na 6ª feira (21.abr). Na ocasião, é esperado que ele se posicione a respeito dos juros.
O evento, composto majoritariamente por empresários, demonstrou apoio à fala de Pacheco, ao aplaudi-lo durante a apresentação.
Ao discursar no evento, Pacheco cobrou do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a redução “imediata” da taxa de juros no Brasil. Em sua fala mais contundente sobre o tema até hoje, ele disse que o Senado deu autonomia à instituição bancária, mas que é necessário ter “sensibilidade política” nas decisões.
“A perspectiva da autonomia [do Banco Central] que desejávamos e desejamos no Senado Federal é para que não fosse suscetível a influências políticas indevidas. Mas há um sentimento geral hoje, que depende de base técnica, mas também de sensibilidade política, que nós precisamos encontrar os caminhos para redução imediata da taxa de juros sob pena de sacrificarmos o trabalho que fizemos ao longo do tempo”, falou. Pacheco foi aplaudido pela plateia, composta, sobretudo, de empresários.
O presidente do Senado disse, ainda, que apesar das divergências do Legislativo com o Executivo, há um sentimento em comum de busca por taxas mais baixas de juros. “Há divergências naturais entre Executivo e o Legislativo, entre a sociedade e o mundo empresarial. Mas se há algo que nos une neste momento é a impressão, o desejo, a obstinação de reduzir a taxa de juros”, declarou.
EVENTO
O Lide, grupo de líderes empresariais,promove na 5ª e 6ª feira (20 e 21.abr.2023) o evento Oportunidades do Brasil no Reino Unido e na União Europeia. Representantes do governo brasileiro e de países europeus se encontrarão em Londres para debater a relação do país com o continente.
O foco do evento na 6ª feira será regras fiscais, finanças e alimentação. Serão 3 painéis. Participam do 2º dia do evento os seguintes representantes do Brasil: Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado; Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central; Davi Alcolumbre, senador e ex-presidente do Senado; Simone Tebet, ministra do Planejamento; Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária; e Fred Arruda, embaixador do Brasil no Reino Unido.
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