Foto:Chase Doak / AFP
Fontes disseram para a NBC que artefato abatido em janeiro sobrevoou várias vezes o mesmo lugar; dados captados, afirmam os americanos, têm ‘valor adicional limitado’
O suposto balão de vigilância chinês abatido pelos americanos em fevereiro pôde coletar informações de diversas bases militares americanas, noticiou nesta segunda-feira a emissora americana NBC. O episódio gerou uma crise diplomática que acentuou as tensões sino-americanas, com Washington afirmando se tratar de um artefato de espionagem e Pequim, um instrumento meteorológico que desviou de sua rota.
De acordo com três fontes ouvidas pelo canal de televisão, o balão coletou informações de instalações militares sensíveis, e os chineses conseguiram fazer com que ele passasse várias vezes pelo mesmo lugar. Os dados, afirmaram, foram enviados em tempo real para Pequim, disseram duas pessoas que trabalham atualmente no governo americano e um ex-funcionário.
As informações coletadas, segundo as fontes, foram majoritariamente sinais eletrônicos emitidos por sistemas de armas e comunicações em solo, ao invés de imagens. Segundo a reportagem da NBC, muito mais inteligência poderia ter sido coletada se não fosse pelos esforços da Casa Branca.
Para reduzir a vulnerabilidade, disseram, o governo instruiu que os alvos em potencial fossem deslocados. Também tentaram obstruir a captação desligando os sistemas de emissão de sinais. Procurado pela emissora, o Departamento de Defesa repetiu afirmações feitas em fevereiro de que o balão tem “valor adicional limitado” para a inteligência chinesa — informações similares e mais sensíveis, disseram, podem ser captadas por satélites em órbitas mais baixas.
O suposto balão espião chinês entrou no território dos EUA em 28 de janeiro, no espaço aéreo do Alasca, perto das Ilhas Aleutas, mas não representou uma ameaça a princípio, já que não seria a primeira vez que um balão do tipo sobrevoava o país. Segundo funcionários da Defesa americana, a China tem diversos balões espiões orbitando ao redor do mundo a 18 mil metros de altura, e eles ocasionalmente se desviam para os Estados Unidos.
Este balão, no entanto, permaneceu navegando sobre o território americano por muito mais tempo do que o comum. Ele viajou em rota diagonal de Idaho até as Carolinas, e enviou caças F-22 para rastrear o objeto. Voos foram temporariamente suspensos em diversos estados diferentes para “apoiar o Departamento de Defesa em um esforço de segurança nacional”.
A controvérsia envolvendo o suposto balão de espionagem gerou um mal-estar diplomático entre EUA e China e fez com que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, decidisse adiar sua visita à Pequim — a primeira ao país asiático de um chefe da diplomacia americana desde 2018. O secretário chamou o ocorrido de um “ato irresponsável”, além de uma “clara violação à soberania dos Estados Unidos e do direito internacional” por parte da China.
O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, por sua vez, chegou a descrever como “histérica” a reação americana e denunciou o “protecionismo” da maior economia mundial. Os EUA acusam regularmente a China de espionagem industrial e de representar uma ameaça à sua segurança nacional, em mais uma face das disputas sino-americanas em frentes diversas.
Um segundo balão de espionagem chinês foi detectado cruzando sobre os céus de um país da América Latina e chegou a ser detectado pelo governo equatoriano.
O Globo