Foto: Nelson Almeida
O texto abaixo é uma opinião do jornalista Alexandre Garcia dada à Gazeta do Povo:
Estou sentindo que o futuro reserva uma despedida do governo da ministra do Planejamento, Simone Tebet. Uma, que deve ser muito desconfortável ela ouvir toda hora o presidente da República falar mal do presidente de honra do seu partido, que é Michel Temer. Outra, que ela está falando em cortar gastos do governo, porque o rombo está em R$ 120 bilhões. Só para lembrar, o ano passado terminou com superávit de R$ 54 bilhões; agora, com esse rombo, ela disse que tem de cortar gastos.
E o que é cortar gastos? É contrariar o presidente da República, inclusive, porque, se o governo gasta demais, ele está pressionando a inflação, que o Banco Central está combatendo, dando exemplo para Estados Unidos, Reino Unido e Europa, desde o ano passado. Mas o presidente da República quer a cabeça do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e quer que se mexa na política de juros.
Eu falei para vocês aqui no ano passado, faz tempo. O Banco Central brasileiro percebeu mais rápido que uma das heranças da pandemia era a inflação, atuou botando freios através da taxa Selic, e deu certo. A inflação no Brasil fechou o ano com 5,8%; nos Estados Unidos, 6,5%; a da Inglaterra foi 11%, e Alemanha e França tiveram inflação parecida. A presidente do Banco Central Europeu está reclamando. A Inglaterra seguiu o Fed americano, que aumentou a taxa de juros e avisou que vai continuar aumentando: nessa semana, foi 0,25 ponto percentual. O Reino Unido saiu correndo atrás da inflação e o nosso Banco Central saiu correndo na frente da inflação. Seis meses atrás, a taxa na Inglaterra era 2,25% e hoje já é praticamente o dobro disso. Eles chegaram atrasados, nós sacamos primeiro e seguramos a inflação, que poderia fechar o ano disparando, como aconteceu com eles. Fomos mais rápidos nesse gatilho.
E mesmo assim o chefe de governo quer a cabeça do presidente do nosso Banco Central, a única cabeça pensante econômica que está dando certo – porque a ministra do Planejamento está pedindo corte de gastos e duvido que ela seja atendida. E aí fico pensando se ela vai aguentar ficar no governo.
Deputada quer impedir repetição do esquema do Mais Médicos para bancar ditador em Cuba
Quero falar do caso do dinheiro para os médicos cubanos. Vocês sabem: no primeiro Mais Médicos, eles recebiam – aliás, o governo brasileiro pagava com o dinheiro dos nossos impostos – R$ 11,5 mil e eles só recebiam cerca de R$ 3 mil, o resto ia para o governo cubano. E ainda havia um intermediário que levava mais um pouco, a Organização Panamericana de Saúde, que alegava que todos os médicos eram funcionários do governo cubano. Ou seja, o governo cubano estava alugando funcionários, alugando médicos. O Ministério Público do Trabalho, aqui no Brasil, entenderia isso facilmente como trabalho análogo à escravidão, porque esses profissionais não recebiam, eram usados, havia intermediários. Os cerca de 200 que ficaram no Brasil entraram na Justiça para cobrar do governo brasileiro o restante do dinheiro que eles não receberam. Digo isso porque, com essa história de medida provisória ressuscitando o Mais Médicos, a deputada Adriana Ventura (Novo-SP) está propondo uma emenda à MP que atende aos cubanos que ficaram por aqui, para que eles recebam diretamente o salário, sem intermediários.
Tem uma outra questão a ser resolvida: o ensino de Medicina em Cuba é muito rápido; eles têm fábrica de fazer médicos, médico de família que faz umas receitas bem esquisitas aqui de coisas baratas, claro. Pode ser que dê certo, mas fica estranho porque os brasileiros que vão lá por amor a Cuba, por amor ao regime cubano, fazem Medicina lá e depois se queixam que não passam no Revalida aqui no Brasil, dizem que é muito duro. Ou seja, as exigências para ser médico no Brasil são aquelas que respeitam o paciente brasileiro, o que não estava acontecendo com os cubanos que vieram para cá. Isso era uma injustiça para com os brasileiros, os pacientes, e ainda havia a outra injustiça, para com os cubanos que ficavam só com 30% do salário.