Em pouco mais de dois meses no cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perdeu o apoio de quase todos os nomes de relevo da chamada terceira via, os quais apostaram nele para derrotar o rival Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. O ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) foi o último a declarar publicamente a sua decepção com a postura nada agregadora do petista, que resiste em sair do palanque eleitoral e promove uma gestão na economia inspirada no modelo fracassado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
“A expectativa era de que o Lula viesse com disposição de fazer um governo para todos, mas isso não aconteceu. Estamos vendo um Lula até raivoso em determinados momentos. Ele mesmo falou que era preciso acabar com o “nós contra eles”. Não veio um “Lula Mandela”, veio um Lula anti-Bolsonaro”, comentou Jereissati nesta segunda-feira (6) ao jornal O Estado de S. Paulo. Ele lamenta, sobretudo, os ataques do chefe do Executivo contra o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
O político cearense se soma à lista de outros nomes como os dos economistas liberais Arminio Fraga, Edmar Bacha, Pedro Malan e Elena Landau, além do banqueiro Roberto Setubal. Poucos dias após o resultado do segundo turno, eles foram surpreendidos com declarações de Lula contra o mercado financeiro e o empresariado. A exceção é André Lara Resende, um dos pais do Plano Real, que endossa a crítica governista ao patamar atual da taxa básica de juros.
Apesar de ter votado no petista, o ex-presidenciável João Amoêdo (ex-Novo) diz não estar arrependido, mas reconhece que Lula cometeu erros com potencial de prejudicá-lo na próxima eleição.
Logo nas primeiras semanas de governo, Lula inverteu posicionamentos e desfez promessas eleitorais. Começou o terceiro mandato lançando dúvidas se não buscaria um quarto em 2026, depois provocou fissuras na estratégica relação com o MDB ao classificar de golpe o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), até mesmo em viagens ao exterior.
Ao menos com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), antes visto como inimigo, o diálogo ficou ameno já em 2022, na negociação da PEC fura-teto.
Para alimentar o desencanto dos que aderiram pragmaticamente ao então candidato mais competitivo contra Bolsonaro, Lula tem explicitado uma série de contradições.
Uma das ações do novo governo foi a aplicação da prerrogativa de sigilo presidencial, anteriormente criticada pelo próprio presidente, sobre as imagens do vandalismo no Palácio do Planalto em 8 de janeiro e sobre a lista de convidados para o evento da posse no Itamaraty. O último sigilo acabou sendo revisto após a repercussão negativa.
Gazeta do Povo