Foto: Divulgação/ Vatican Media.
Em entrevista ao jornalista Daniel Hadad, do site Infobae, o papa Francisco lembrou daquele 13 de março de 2013, quando foi escolhido para ser líder da Igreja Católica. Nesta segunda (13/3), o argentino Jorge Bergoglio completa 10 anos desde que escolhido o primeiro papa das Américas. E disse que tem vontade de visitar a Argentina, algo que não faz desde então.
Na entrevista, ele lembra de um caso específico no dia da eleição para papa. Antes de entrar na capela Sistina, onde é feita a votação, Bergoglio encontrou o cardeal Gianfranco Ravasi e falou que usava os livros dele para dar aulas de escritos sapienciais (parte específica da Bíblia).
“E comecei a explicar e começamos a falar sobre os livros sapienciais e ambos entramos em sintonia, até ouvir um grito: ‘Os senhores vão entrar ou não? Porque eu vou fechar a porta’. O inconsciente de não querer entrar. São coisas que não se pode controlar”, sorriu o papa.
Ele também lembrou do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, morto em julho de 2022. “Estava sentado atrás de mim e veio até mim na primeira votação e me disse: ‘Não tenha medo, é assim que o Espírito Santo age’. Até me emociono porque ele morreu há pouco tempo e eu gostava muito dele”, recordou o argentino.
“E quando fui eleito na segunda votação, todos estavam aplaudindo enquanto a contagem continuava, ele se levantou, me abraçou e me disse: ‘Não se esqueça dos pobres’. Isto me toca. Um grande homem, Hummes”, contou o papa. E continuou: “Bem, os pobres, o que eu sei: São Francisco. Francisco, ponto. Então, quando o cardeal [Giovanni Battista] Re me perguntou que nome eu queria dar a mim mesmo, eu disse: ‘Francisco’”.
Bem à vontade em frente ao conterrâneo jornalista Daniel Hadad, Francisco diz que nada tirou a paz interior dele. Que não usa pessoalmente celular, e-mail ou qualquer rede social. Escreve tudo à mão e entrega para alguém publicar ou enviar. “Não quero dizer que é melhor do que o outro modo, não. É um limite que eu tenho, uma incapacidade, digamos”, confessou.
Sobre a Nicarágua e o presidente Daniel Ortega, acusado de perseguir a Igreja Católica no país, Francisco foi mais incisivo. “Com muito respeito, não me resta que pensar em um desequilíbrio da pessoa que lidera [Daniel Ortega]”, disparou o papa.
“Lá temos um bispo na prisão, um homem muito sério, muito capaz. Ele quis dar seu testemunho e não aceitou o exílio. É algo que está fora do que estamos vivendo, é como trazer a ditadura comunista de 1917 ou a ditadura de Hitler de 1935, trazendo as mesmas aqui… São um tipo de ditadura grosseira. Ou, para usar uma bela distinção da Argentina, guarangas”, disse Francisco, usando um gíria portenha que significa algo grosseiro, desagradável, vulgar.
Também perguntado sobre a questão da guerra do tráfico de drogas no México, o papa não quis dar uma resposta direta à questão da descriminalização ou legalização do consumo como solução. “Não, em princípio, não acredito. Para dizer a verdade, ainda não aprofundei muito sobre o assunto. Mas parece-me que é como o filho que bate na mãe e, para resolver o problema vamos mudar o chicote, para que não seja tão prejudicial e vamos dar-lhe um chicote mais suave”, comparou. “É autodestruição”.
Argentina
Em uma parte mais pessoal para o papa, o entrevistador perguntou se ele chora. Francisco não titubeou.
“Sim, de vez em quando eu choro às escondidas. Uma vez em público eu não consegui me conter, foi por causa da guerra: eu estava fazendo um discurso e me veio, e eu não consegui me conter. Mas às escondidas. Que os psiquiatras interpretem [risos], eu não me interpreto. Às vezes, tenho este tipo de expressão sozinho”, confessou.
Bergoglio também falou sobre a saudade da Argentina. E a possibilidade de visitar o país onde nasceu.
“Pensei sobre isso. Estava planejado para dezembro de 2017. E se iria primeiro ao Chile, depois à Argentina e ao Uruguai. Esse era o plano, mas o que aconteceu? Que [Michelle] Bachelet estava terminando seu governo [no Chile] e as eleições estavam precisamente em torno dessa época (…). O programa foi mudado e fizemos o Chile e o Peru. E a Argentina e o Uruguai foram deixados para depois. E esse depois é o que estamos esperando [da] conjuntura”, explicou.
Segundo Francisco, não há recusa de ir. “Estou aberto a essa oportunidade”, disse, destacando que tem vontade de visitar a Argentina, mas que também há o medo de uma viagem dessas ser usada politicamente.
“Poderia ser. Depois de uma eleição, certamente sim. É por isso que em tempo de eleição não se faz viagens a países, para evitar que a presença seja usada pelo partido no poder para reeleição ou algo parecido. Eu quero ir à Argentina. Quero. Porém…”. E assim terminou a entrevista.
Créditos: Metrópoles.