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Diagnosticada com dengue, Cidalva Prates Guedes (foto em destaque), de 53 anos, buscou tratamento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia (DF). Após dias internada, despencou de cabeça de uma janela e sofreu traumatismo craniano. Ela está internada em estado gravíssimo no Hospital de Base.
A família acredita que a mulher foi vítima de omissão e negligência.
“A gente deixou a nossa mãe lá bem, para se curar de uma dengue. E minha mãe saiu de lá com traumatismo craniano porque não cuidaram dela. Não cuidaram dela. Deixaram ela pular. Segundo eles, por um delírio. Mas, se uma pessoa está com delírio, porque não amarra, não contém, não ficam olhando”, disse, aos prantos, Andressa Guedes Araújo, 33 anos, filha de Cidalva.
O órgão responsável pela gestão das UPAs nega negligência e diz que vai apurar o caso.
Segundo a família, em 24 de fevereiro Cidalva não se sentia bem e foi de sua casa, em Ceilândia, até a unidade básica de saúde (UBS) de Samambaia, onde foi diagnosticada com dengue. No entanto, não foi internada e recebeu orientação para seguir o tratamento em casa. O quadro não melhorou. A paciente passou a reclamar de dores abdominais e passou a sangrar pelo nariz.
Em 3 de março, foi levada pela família para a UPA de Ceilândia. A família queria acompanhar a paciente, mas não foi autorizada. Ao chegar em casa, parentes souberam que Cidalva teria desmaiado. Voltaram para a unidade. Após exames e a prescrição de analgésicos, a paciente voltou novamente para casa.
Na madrugada de 4 março, Cidalva buscou novamente socorro na UPA, pois as dores no abdômen pioraram. Foi internada na sala verde. “Ela ficou em uma poltrona, sentada, sem direito a acompanhante. Eu perguntei se podia ficar, mas disseram que não podia e que devia ir para casa”, contou Andressa.Segundo a filha, Cidalva ficou na poltrona até o dia 8 de março. Por telefone, a paciente teria informado para a família que seguia sentindo dores e que estava recebendo poucos remédios. “Eu disse: ‘Mãe, grita. Pede para eles darem os remédios’. Ela estava consciente”, relatou.Na data, de acordo com a família, a equipe de tratamento informou que Cidalva estava com dengue hepática hemorrágica. Debilitada, a paciente tinha dificuldade para caminhar e se alimentar. Por isso, receberam a autorização para ficar na unidade.Na manhã do dia seguinte, Andressa deu banho na mãe e ficou assustada com a fragilidade dela. A família, então, pediu a transferência para um leito de hospital. Parentes conseguiram um vaga no Hospital Universitário de Brasília (HUB). No entanto, de acordo com Andressa, a equipe da UPA informou que ela ficaria na unidade, mas na ala vermelha, recebendo o tratamento adequado.
Choro
Ao chegar na nova ala, Cidalva ficou assustada ao ver um paciente entubado. Chorou e pediu para voltar para casa. “Eu falei: ‘Não, mãe, aqui você vai ter mais pessoas acompanhando a senhora. Aqui você vai ter mais pessoas te cuidando’. Os enfermeiros falaram que haveria um médico 24 horas”, lembrou Andressa. “Ela falou: ‘Está melhor aqui, não é, minha filha? Aqui pelo menos tem uma cama’.” Uma enfermeira disse que cuidaria de Cidalva.No mesmo dia, a família foi visitar a paciente e ficou feliz. “Minha mãe estava ótima. Riu. Tomou um suco. Estava deitada na cama bem. Isso às 17h. A gente saiu feliz. Poxa, minha mãe estava bem, estava ótima. Deixei ela boazinha lá, claro com os problemas da dengue”, relatou.
Queda
Mas, por volta das 20h, a família voltou à UPA para ter notícias e foi surpreendida pela informação de que Cidalva teria pulado de cabeça de uma das janelas. A queda teria sido de aproximadamente 2 metros de altura. “Só fomos avisadas porque fomos lá. Ninguém ligou para gente. Não tem uma ligação”, criticou.
Segundo Andressa, a equipe da UPA disse que a paciente teria tido um surto, um delírio, e pulado da janela, mas que sofreu apenas um “cortezinho na cabeça” e que seria necessária só uma tomografia. “Poxa, deixaram minha mãe pular. A gente nunca ia imaginar uma situação tão grave”, desabafou.
Gravíssimo
De acordo com a família, a paciente foi transferida apenas à 00h50 de 10 de março. Chegou ao Hospital de Base perto das 2h. Mas o diagnóstico recebido no hospital foi bem diferente do da UPA. Segundo a família, os médicos falaram que o estado da paciente era gravíssimo, e que ela deveria ter sido intubada logo após a queda.Andressa contou que, segundo os exames, a mãe sofreu uma hemorragia cerebral gravíssima, que comprimiu o cérebro. Segundo familiares, se a paciente sobreviver, provavelmente sofrerá sequelas graves.“Disseram que o quadro da minha mãe não tinha reversão, que ela ia ficar em uma ala vermelha, mas sem condições de reversão. Disseram que a gente poderia se despedir dela. Falaram que iriam limpar ela do sangue, para a gente, pelo menos, poder dar um adeus para a minha mãe. Os aparelhos estão ligados porque o coração continua batendo. Mas que disseram que praticamente é o último suspiro da minha mãe”, afirmou.
Ocorrência
A família apresentou queixa na 19ª Delegacia de Polícia (P Norte). A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) vai apurar a suposta negligência.
“Eu aleguei negligência, porque eles deveriam ter cuidado da minha mãe. Se proíbe um acompanhante, a custódia é deles. Eles deveriam ter cuidado, fechado a janela. Por que aquela janela não tinha uma trava, uma tela? É inacreditável”, disse a filha.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), responsável pela gestão das UPAs e do Base. O Iges-DF negou omissão no episódio. Segundo a instituição, o quadro inicial da paciente não apresentava necessidade de assistência na sala vermelha e de contenção, pois Cidalva não apresentava sinais de agitação ou violência.
“Dado momento em que a equipe da sala vermelha prestava assistência a outro paciente da mesma sala, a equipe ouviu o barulho e quando foi ao leito a paciente havia se jogado da janela. No mesmo momento a equipe prestou toda assistência à paciente, reavaliou a mesma e posteriormente a encaminhou e solicitou uma tomografia e um parecer da neurocirurgia do Hospital de Base”, relatou o Iges-DF.
O Iges-DF afirmou que irá apurar o caso e adotará medidas para evitar episódios semelhantes no futuro. Segundo o Iges-DF, a paciente segue internada no Base, recebendo todos os cuidados necessários.
Leia a nota completa do Iges-DF:O IgesDF esclarece que a paciente deu entrada na UPA da Ceilândia em 3 de março, com um quadro de dengue, foi admitida e prestada assistência para melhora do quadro da mesma. Na admissão, ela não apresentava um quadro que necessitasse uma assistência de sala vermelha e, por ter menos de 60 anos, a paciente não tinha direito ao acompanhante. No decorrer do dia, a equipe assistencial identificou uma piora do quadro e a encaminhou para sala vermelha para que a mesma fosse assistida de forma mais intensa e ampla. No momento da admissão, a paciente não apresentava um quadro que necessitasse de contenção, pois não apresentava sinais de agitação ou de violência. Dado momento em que a equipe da sala vermelha prestava assistência a outro paciente da mesma sala. a equipe ouviu o barulho e quando foi ao leito a paciente havia se jogado da janela. No mesmo momento a equipe prestou toda assistência à paciente, reavaliou a mesma e posteriormente a encaminhou e solicitou uma tomografia e um parecer da neurocirurgia do Hospital de Base.
A unidade solicita ao Complexo Regulador vaga hospitalar a todos os pacientes internados e o pacientes das alas são assistidos 24h. Tanto que ao observarem o rebaixamento levaram a paciente para sala vermelha.
A gestão da unidade e o Núcleo de Segurança do Paciente foram comunicados imediatamente e apuraram todos os fatos para que sejam adotadas as medidas necessárias para que situações semelhantes não ocorram novamente. A unidade manteve os familiares informados sobre o quadro da paciente.
O IgesDF esclarece ainda que foi prestada assistência em todo período de permanência da paciente na unidade, e reafirma que não houve omissão por parte da equipe da UPA.
A paciente segue internada no Hospital de Base, recebendo todos os cuidados necessários.
A reportagem também entrou em contato com a Secretaria de Saúde sobre o caso. O espaço permanece aberto.
Créditos: Metrópoles.