Um tratamento experimental que envolve a imunoterapia demonstrou sucesso no tratamento de câncer de mama com metástase nos ossos, algo para o qual hoje não há cura.
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, testaram o modelo de terapia em camundongos e conseguiram eliminar as células tumorais de mama que haviam se espalhado para os ossos, inclusive aquelas que eventualmente retornavam.
Em um artigo, publicado nesta quarta-feira (8), na revista cientifica Cancer Discovery, da Associação Americana para Pesquisa do Câncer, o grupo de cientistas descreve como conseguiu tratar a área ao redor dos tumores de mama, fazendo com que o sistema de defesa do corpo fosse capaz de atacar as células cancerígenas com eficácia.
Para isso, eles aumentaram a atividade de células T e macrófagos, que são linhas de defesa do sistema imunológico.
Os macrófagos atacam células tumorais por meio da resposta imune inata (que nasce com o indivíduo e não tem a necessidade de estímulo por vacinas, por exemplo).
São eles que ativam ainda mais as células T e as mostram qual ameaça devem procurar – neste caso, o tumor.
“Depois que o câncer de mama se espalhou para outras partes do corpo, torna-se extraordinariamente difícil de tratar; as terapias atuais só podem tentar retardá-lo”, explica em comunicado a autora sênior do estudo, Sheila A. Stewart.
Ela acrescenta que em cerca de 70% dos casos de câncer de mama em que há metástase os ossos acabam sendo comprometidos pela doença também.
“Nosso estudo sugere que podemos usar dois tratamentos – um para sensibilizar o microambiente do tumor mielóide à imunoterapia e outro para ativar as células T – para direcionar essas metástases ósseas de uma forma que elimine o tumor, evite que o câncer retorne e proteja contra perda óssea no processo”, complementa.
Entre as descobertas do estudo estão a de que o bloqueio de uma molécula chamada p38MAPK é capaz de reprogramar o microambiente do tumor para deixá-lo mais vulnerável ao ataque que já ocorre naturalmente pelo sistema imunológico.
Esse bloqueio isoladamente reduziu o tamanho do tumor, mas não o eliminou.
Adicionalmente, os pesquisadores incluíram outra terapia que ativa as células T, aumentando a capacidade delas de encontrar e destruir células tumorais – o tratamento é chamado de agonista OX40.
Dentre os camundongos que receberam apenas um dos tratamentos, apenas metade sobreviveu 60 dias após o experimento.
No entanto, a surpresa surgiu na combinação das terapias.
“Quando alvejamos o microambiente para torná-lo mais sensível às células T e simultaneamente demos um gás nas células T, todos os camundongos ficaram livre dos tumores metastáticos”, revelou a cientista.
Ao repetir o experimento, adicionando as mesmas células tumorais novamente nos camundongos, eles conseguiram eliminá-las, complementa Sheila.
“Parece que seus sistemas imunológicos desenvolveram memória de longo prazo e sabiam atacar as células cancerígenas que retornavam. Os ratos parecem basicamente vacinados contra o câncer.”
Agora, os cientistas selecionaram dois agonistas OX40 para futuros estudos, incluindo o de câncer de mama. Além disso, já existem inibidores de p38MAPK investigados para outras doenças, como artrite reumatoide e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica).
Os pesquisadores pretendem buscar parcerias com fabricantes de medicamentos para desenhar um teste em humanos tenham câncer de mama metastático.