As ações da Hapvida (HAPV3) tiveram uma sessão de queda extrema nesta quarta-feira (1), após mais um trimestre considerado bastante turvo para a companhia. Após abrirem com queda de mais de 20%, as ações aceleraram as perdas, chegaram a ter queda de até 36,75%, a R$ 2,84, e fecharam com uma derrocada de 32,74%, a R$ 3,02. Com isso, o valor de mercado passou de R$ 32,07 bilhões para R$ 21,57 bilhões em apenas um pregão – ou seja uma perda de R$ 10,5 bilhões aproximadamente.
A XP destaca que a operadora de planos de saúde, que recentemente se uniu à NotreDame, reportou resultados negativos no 4T22, com lucro líquido ajustado de R$ 161 milhões. O índice de sinistralidade piorou mais de 8 pontos percentuais na base de comparação anual e provisões para perdas com inadimplência mais do que dobraram.
Rafael Barros, analista da casa, destaca como principais pontos do balanço: (i) a empresa continua entregando sinergias de receita vindas da fusão com o GNDI, com 61 mil adições líquidas; (ii) porém, o crescimento normalizado da carteira parece estar bem abaixo dos 0,8% por trimestre que estimamos anteriormente; (iii) a sinistralidade não caiu no trimestre, mesmo com os efeitos de sazonalidade e da Copa do Mundo de 2022; e (iv) mais uma vez o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) foi impactado por um item não recorrente de uma aquisição anterior.
“No geral, vemos os resultados como muito negativos, especialmente porque eles apontam para um curto e médio prazo difícil em termos de crescimento e margens”, afirma Barros.
Após o resultado, o Credit Suisse cortou a recomendação para as ações de outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para neutro, com o preço-alvo sendo cortado de R$ 6,50 para R$ 4,40, uma vez que os números trouxeram algumas incertezas sobre pressões para a companhia.
“A evolução nos tíquetes também nos parece insuficiente para compensar o intervalo de dois anos em ajuste de preço com relação à inflação”, apontam.
A empresa conseguiu mostrar algum avanço modesto em receita, com crescimento orgânico de 100 mil vidas e crescimento de tíquete nos planos de saúde. Mas, por outro lado, os planos corporativos e novos contratos aparentemente estão trazendo o preço médio para baixo.
Além disso, o nível de despesas financeiras também deve continuar a pressionar os lucros e, assim, não parece haver muito valor para ser “destravado” ao longo de 2023.
Para o Itaú BBA, os resultados do 4T22 da Hapvida mostraram tendências consideravelmente piores do que o esperado, principalmente para rentabilidade. O custo por beneficiário continuou a aumentar de forma sequencial, apesar da sazonalidade melhor do quarto trimestre; o crescimento do tíquete médio não foi suficiente para compensar essa tendência. A empresa não conseguiu entregar maior geração de caixa no trimestre, postergando uma maior desalavancagem financeira no curto prazo.
Porém, em relatório no fim da tarde, quando as ações já estavam caindo mais de 30%, os analistas do BBA apontaram que o movimento de queda extremo observado na sessão foi exagerado. O banco ressaltou que muitos “stops” foram acionados entre os investidores, cuja paciência parece ter se esgotado após mais um trimestre decepcionante.
Embora os resultados mostrem algumas tendências preocupantes, esse baixo desempenho extremo parece muito difícil de justificar, afimam.
“Fazendo uma análise de sensibilidade em nosso modelo, mesmo assumindo um índice de sinistralidade de 70% para 2024 (o que parece pessimista, pois seria 300 pontos-base acima da média histórica), vemos a ação sendo negociada a 9 vezes o preço sobre o lucro esperado para 2024 ( ao preço atual de R$ 3 por ação). E quando estressamos os cenários e perpetuamos o o índice, fica difícil encontrar um valor justo inferior a R$ 4 por ação”, avaliam.