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Em 2024, quando os norte-americanos forem novamente às urnas para eleger seu presidente e seus representantes no Legislativo, 34 assentos do Senado estarão em jogo. Desses, apenas 11 estão ocupados atualmente por republicanos, o que torna essas eleições bastante perigosas para os democratas, com chances substanciais de os republicanos voltarem a ter controle sobre essa casa legislativa.
Falta mais de um ano e meio para a eleição, mas os analistas políticos que acompanham de perto as disputas em cada estado já começam a emitir suas opiniões sobre possíveis desfechos. Eis aqui um compilado dos estados onde deveremos ter disputas mais interessantes e acirradas.
Arizona
O coringa do ciclo de 2024 certamente será o Arizona, onde a mudança da atual senadora Kyrsten Sinema, de democrata para independente, cria uma provável disputa de três vias.
Sinema entra na corrida em uma posição única, uma titular sem eleitorado determinado e com a carteira cheia de dinheiro de doações, porém sem uma equipe real para ajudá-la. O congressista democrata Ruben Gallego já conquistou os ex-doadores de Sinema no Vale do Silício, bem como a maior parte do establishment do partido.
A mudança da atual senadora Kyrsten Sinema, de democrata para independente, cria uma provável disputa de três vias no Arizona
Também não está claro se Sinema pode contar com os republicanos do Arizona para impulsioná-la à vitória. Somente um democrata conseguiu tal façanha (Joe Lieberman), mas isso foi há 18 anos, quando o estado era predominantemente azul. No Arizona de hoje, muito mais para roxo que para azul, a maioria dos republicanos locais dificilmente abandonará um candidato conservador como Kari Lake ou Blake Masters para votar em Sinema.
Califórnia
No Estado Dourado, a atual senadora democrata Diane Feinstein anunciou que não concorrerá a outro mandato em 2024.
Desde dezembro de 2020, quando uma reportagem de Jane Mayer, do The New Yorker, revelou que muitos dos colegas de Feinstein acreditavam que ela estava sofrendo de um declínio mental, jornalistas e eleitores têm questionado a capacidade dessa senhora de 89 anos de idade. Os últimos anos trouxeram ainda mais histórias e boatos, a ponto de se questionar até mesmo a capacidade de Feinstein terminar seu mandato atual.
Antes mesmo do recente anúncio, a congressista Katie Porter havia decidido entrar na corrida pela vaga democrata. Algumas semanas depois, Adam Schiff anunciou que também concorrerá e, em seguida, a deputada Barbara Lee também entrou na corrida.
A primeira pesquisa dessa primária mostrou Schiff ligeiramente à frente de Porter, por 22% a 20%. Lee vem bem atrás, com apenas 6% das intenções de voto. Essa pesquisa mostrou que a maior parte do apoio de Schiff vem de eleitores democratas mais velhos, do norte e centro da Califórnia, enquanto Porter lidera entre os eleitores jovens e residentes no sul do estado.
Essa divisão faz sentido, já que Schiff é o político mais experiente dos dois, servindo na Câmara desde 2000. Porter, por outro lado, representa o conhecido Orange County, um condado de eleitores de classe social bem alta, que passou de vermelho profundo a roxo durante o governo Trump.
Schiff conta com o apoio de sua aliada de longa data, a ex-presidente do Congresso Nancy Pelosi. Foi Pelosi quem conduziu Schiff para esta disputa, manobrando a saída de Feinstein da corrida ao mesmo tempo em que tenta garantir o endosso da futura ex-senadora. Com toda essa artilharia, será uma batalha difícil para Porter, Lee ou qualquer outro democrata que se aventurar nessa disputa.
Indiana
A decisão do atual senador republicano, Mike Braun, de concorrer ao governo do estado em vez de um segundo mandato em Washington, abriu a primeira e possivelmente única cadeira do Partido Republicano neste ciclo.
O congressista Jim Banks aproveitou rapidamente a oportunidade, não apenas declarando sua candidatura, mas também garantindo o apoio de Donald Trump e de dez senadores republicanos. Tamanha e rápida adesão pode ter soterrado as esperanças do ex-governador Mitch Daniels, que vinha indicando a intenção de participar dessa corrida.
Embora o Michigan seja um campo de batalha presidencial, os republicanos não conquistam uma cadeira no Senado por aquele estado desde 1994
Já o atual governador, Eric Holcomb, que não pode mais concorrer à reeleição, ainda mantém suas opções em aberto. Caso decida concorrer ao Senado, colocará fogo nas primárias deste estado profundamente vermelho.
Michigan
O recente anúncio de aposentadoria da atual senadora democrata, Debbie Stabenow, desencadeou outra disputa em Michigan.
Ainda que vários nomes da esquerda – como a governadora Gretchen Whitmer e a senadora estadual Mallory McMorrow – tenham decidido não concorrer ao Senado, as congressistas Debbie Dingell e Elissa Slotkin, bem como a atual secretária de Estado, Jocelyn Benson, devem compor as primárias democratas.
No lado republicano, mesmo com o candidato ao Senado de 2020 – o congressista John James – saindo da disputa, os deputados Bill Huizenga e Lisa McClain lideram uma lista lotada de candidatos que também inclui a candidata ao governo do estado em 2022, Tudor Dixon.
Vale destacar que, embora o Michigan seja um campo de batalha presidencial, os republicanos não conquistam uma cadeira no Senado aqui desde 1994. Ou seja, deve ficar azul.
Montana
Na semana passada, os democratas receberam a melhor notícia possível: o atual senador do estado, Jon Tester, revelou que tentará um quarto mandato. Por três vezes em sua carreira, Tester conseguiu garantir vitórias apertadas sobre adversários republicanos neste estado vermelho rubi: por uma margem de 49,2% a 48,3% em 2006; depois, de 48,6% a 44,9%, em 2012; e, finalmente, de 50,3% a 46,8 % em 2018.
Em uma casa de 51-49, a maioria dos democratas provavelmente dependerá da vitória de pelo menos dois de três titulares democtatas que tentarão a reeleição em estados onde Trump venceu em 2020
Tester faz parte de um trio de senadores democratas – os outros são Sherrod Brown, de Ohio, e Joe Manchin, de West Virginia – que estão defendendo cadeiras no próximo ano em estados onde Donald Trump venceu em 2020. Em uma casa de 51-49, a maioria dos democratas provavelmente dependerá da vitória de pelo menos dois desses três titulares, uma perspectiva cada vez mais incerta, especialmente diante das declarações de Manchin sobre a possibilidade de jamais concorrer novamente.
Uma vantagem potencial para Tester seria uma primária republicana confusa. Entre os que atualmente circulam na disputa estão o governador Greg Gianforte, o procurador-geral Austin Knudsen e os deputados Ryan Zinke e Matt Rosendale. Se o Partido Republicano não se unir em favor de um deles, Tester ficará livre para arrecadar fundos para a eleição geral, sem precisar passar pelo desgaste de uma primária, e observar alegremente seus oponentes se despedaçarem.
Pensilvânia
Há uma teoria, discutida entre os principais republicanos da Pensilvânia, de que o partido poderia ter derrotado John Fetterman na disputa do Senado no ano passado se o Dr. Oz e Donald Trump não tivessem intervindo e descarrilado seu candidato mais forte. Esses republicanos acreditam que Dave McCormick foi privado da oportunidade de repetir a trajetória do governador da Virgínia, Glenn Youngkin, de CEO de fundos de hedge a político republicano de sucesso.
Como resultado, esses mesmos apoiadores agora estão pressionando McCormick para desafiar Bob Casey em 2024. Casey, no entanto, representa um inimigo muito mais forte para os republicanos da Pensilvânia. Enquanto John Fetterman nunca havia vencido uma eleição estadual por si só antes de 2022, Bob Casey já o fez seis vezes como auditor-geral, tesoureiro e senador. Além disso, Casey venceu suas três corridas anteriores para o Senado por 17, 9 e 13 pontos, respectivamente.
Apesar de um diagnóstico recente de câncer de próstata, Casey deixou claro que ainda pretende buscar um quarto mandato. Enquanto isso, um movimento recente de McCormick para se livrar de um par de apartamentos em Manhattan sugere que ele poderia muito bem estar se preparando para outra campanha na Pensilvânia.
Texas
Com tão poucos representantes republicanos defendendo cadeiras neste ciclo, os democratas não têm nenhuma oportunidade ofensiva atraente. O único caso que chega perto disso é o de Ted Cruz no Texas. Mas, como já ficou claro com a ridícula corrida para governador de 2022 de Beto O’Rourke, os democratas do estado da Estrela Solitária estão tendo dificuldades para atrair os principais candidatos para as disputas estaduais.
Ainda que Ted Cruz tenha de se mexer para conquistar a reeleição, sua vitória é muito mais provável que sua derrota
Recentemente, porém, uma reportagem do jornal Dallas Morning News afirmou que o congressista Colin Allred está considerando a corrida. Allred, um ex-linebacker da NFL que ganhou uma vaga na Assembleia Estadual do Texas em 2018, seria provavelmente o melhor candidato que o partido pode esperar nesta corrida.
Não é inconcebível que Cruz fique vulnerável. Afinal, ele venceu O’Rourke por apenas 2,6 pontos em 2018. Cruz também nunca foi particularmente popular, especialmente depois de uma viagem imprudente a Cancún enquanto os texanos sofriam com grandes problemas de queda de energia elétrica. Desde então (fevereiro de 2021), Cruz não registrou um índice líquido de aprovação positiva em pesquisas feitas no estado.
Ainda assim, será uma batalha difícil para Allred. Joe Biden, ou qualquer que seja o candidato democrata à presidência, provavelmente não vencerá no Texas em 2024 (Biden perdeu o Texas por 5,5 pontos para Trump em 2020). Ou seja, ainda que Cruz tenha de se mexer para conquistar a reeleição, sua vitória é muito mais provável que sua derrota.
Por enquanto é só. Conforme as candidaturas forem se consolidando, trarei novas análises da disputa pela maioria no Senado federal.
Gazeta do Povo