A vaidade dos auxiliares da Presidência da República em mostrar serviço aos brasileiros levou o presidente Lula (PT) a criticar ministros que buscam holofotes e o aplauso fácil com projetos populistas. Para conter a onda de promessas que podem causar dificuldades a este início de governo, Lula abriu a reunião ministerial desta terça-feira (14), no Palácio do Planalto, recorrendo à ironia de que estaria cercado de ministros “gênios”, ao sugerir que toda “genialidade” seja exposta ao ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, antes de ser anunciada como política pública real e possível de ser executada pelo seu governo.
“Toda e qualquer posição, qualquer genialidade que alguém possa ter, é importante que antes de anunciar faça uma reunião com a Casa Civil, para que ela discuta com a Presidência da República, para que a gente possa chamar o autor da genialidade e a gente, então, anuncie publicamente como se fosse coisa de governo, que esteja de acordo os outros ministros, a Fazenda e o Planejamento. Porque, assim, a gente cria condições motivadoras de todo mundo concordar com a política que foi anunciada”, disse Lula, no momento inicial da reunião com ministros da área social.
Ainda no momento em que a imprensa transmitia a reunião, Lula justificou a necessidade de ponderação sobre os riscos de anunciar ações que não possam se concretizar, lembrando que um governo de quatro anos passa rápido, e que em pouco tempo os ministros estarão disputando eleições municipais ou presidenciais.
A clara irritação de Lula com os “gênios” que o cercam ocorre após a repercussão de anúncios como o feito ontem (13) pelo ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, sobre o programa “Voa, Brasil”, para oferecer passagens aéreas a R$ 200 a estudantes do Fies, aposentados e pensionistas do INSS e servidores municipais, estaduais e federais que ganham até R$ 6,8 mil.
“Queria que vocês tivessem certeza que, do ponto de vista da Presidência da República e da Casa Civil, vocês terão todo o apoio, combinando com [o ministro da Fazenda, Fernando] Haddad e [a ministra do Planejamento e Orçamento] Simone [Tebet], que são as pessoas que cuidam do caixa do governo, para que a gente não erre, não prometa aquilo que não pode cumprir, para que faça apenas aquilo que está dentro das nossas possibilidade. E se tiver que arriscar alguma coisa, a gente arriscar com viés de acerto acima de 80%, porque a gente não pode correr risco de anunciar coisa que não vai acontecer”, aconselhou Lula.
Sem citar ministros publicamente, o presidente da República prometeu expor aos ministros os casos específicos das promessas precipitadas, após a imprensa deixar de acompanhar e transmitir a reunião ministerial.
Diário do Poder