Foto: Reprodução.
Crítico da atuação de Sergio Moro e Deltan Dallagnol na força-tarefa da Lava-Jato, o novo juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Eduardo Appio, adotou uma identificação eletrônica alusiva à campanha de Lula no sistema processual da Justiça, o e-proc. Nele, Appio assinava como “LUL22” até assumir o comando da Lava-Jato.
É o que mostram prints das telas do sistema da Justiça aos quais a equipe da coluna obteve acesso com exclusividade.
No ambiente virtual, os magistrados devem adotar uma sigla como assinatura, quase sempre com três letras e dois números. É de praxe alterá-la de tempos em tempos, mas o sistema permite verificar o acervo de combinações adotadas por cada um.
Os processos foram rechecados por mais de uma fonte com acesso ao e-proc, para termos certeza de que a assinatura era mesmo a de Appio.
De acordo com a plataforma, Appio assinou como “LUL22” entre 2021 e o início deste ano, quando integrava a 2ª Turma Recursal da Justiça Federal do Paraná.
O juiz foi transferido no início de fevereiro para a 13ª Vara, onde passou a ocupar a cadeira que já foi de Moro, hoje senador pelo União Brasil do Paraná. Ele assumiu o lugar de Luiz Antonio Bonat. A unidade hoje não cuida mais de processos do atual presidente. Por decisão do STF, em 2021, os processos envolvendo Lula na Lava-Jato de Curitiba foram movidos para a Justiça do DF.
Ao assumir a Lava Jato, o magistrado passou a usar a sigla “EDF23”, em referência ao seu nome, Eduardo Fernando, e o ano em que estamos.
Enquanto foi juiz do TRF, Appio participou de programas de debates no YouTube em que criticava a Lava Jato e se dizia grande fã do trabalho do defensor de Lula na operação, Cristiano Zanin.
Em entrevista recente à Folha de S. Paulo, o juiz acusou Moro e Dallagnol, atualmente parlamentares, de extrapolarem seus papéis na operação com fins políticos e eleitorais.
“Quero reforçar a credibilidade da Justiça Federal, assegurar a neutralidade ideológica ou político-partidária. Neutralidade absoluta”, disse ele à Folha. “Foi uma operação muito polêmica, que produziu coisas boas e ruins. É importante mostrar para as partes que o juiz que está ali é um juiz neutro, que quer zelar pelas garantias constitucionais.”
Nós procuramos a assessoria da Justiça Federal do Paraná para ouvir Appio sobre o fato de sua senha fazer referência à candidatura lulista. O juiz disse que não iria comentar por que adotou LUL22 como assinatura por uma questão de “segurança cibernética”, mas afirmou que o código não tem qualquer vínculo ideológico ou partidário com o atual presidente e ex-réu da operação que ele agora dirige.
“Nunca fui vinculado a nenhum partido político e meu objetivo é resgatar a credibilidade e isenção total no trabalho, bem como assegurar que a operação LAVAJATO não morra por inanição (ou mesmo inação)”, afirmou Appio por email.
Um dos antecessores de Appio, Sergio Moro deixou a carreira de juiz em 2019 para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, o que lhe rendeu acusações de parcialidade na condução da operação por ter determinado a prisão de Lula, então líder nas pesquisas de intenção de voto.
Depois, veio o caso Vaza Jato, com a divulgação de diálogos entre promotores da força-tarefa e o então juiz Moro que os mostravam combinando ações conjuntas, inclusive nos casos envolvendo o petista. O caso criou o ambiente político para que Moro fosse considerado suspeito pelo STF e as condenações de Lula fossem anuladas, o que permitiu sua candidatura nas eleições de 2022.
O CPF de Appio também consta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre os doadores da campanha de Lula. Segundo a corte, o juiz fez uma contribuição módica de R$ 13 ao atual presidente e de R$ 40 à deputada estadual petista Ana Júlia Pires Ribeiro. Ele nega ter feito as doações e diz que, quando tiver tempo, verificará se foi vítima de algum tipo de fraude.
Créditos: O Globo.