Em um dos casos apurados, que resultou no mandado de prisão temporária, vítima teve a casa invadida por 10 criminosos e foi executada a tiros de fuzil
Enquanto praticava exercícios físicos em uma academia em área nobre no Rio Grande do Norte, na manhã desta segunda-feira (13), Wagner Wilian Domingues da Cruz, o Vavá, foi surpreendido e preso por policiais disfarçados. Suspeito de envolvimento em homicídios, é apontado como um dos líderes de uma das organizações criminosas envolvidas na guerra do tráfico em Porto Alegre.
Nos últimos meses, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul buscava monitorar os passos de Vavá. Desde agosto do ano passado, o preso, que já chegou a ser transferido ao sistema penitenciário federal em 2020, estava em liberdade. Há cerca de duas semanas, a equipe da 1ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital obteve na Justiça um mandado de prisão temporária, por um homicídio ocorrido em novembro do ano passado, no bairro Aparício Borges. Desde então, os policiais vinham trabalhando, com auxílio da Delegacia de Capturas do do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), para confirmar a localização de Vavá.
— Por meio da atividade de inteligência, conseguimos descobrir que ele estava no Rio Grande do Norte, do outro lado do país — diz a delegada Isadora Galian, que migrou recentemente da 1ª DHPP para a Delegacia de Repressão ao Roubo e Furto de Cargas do Deic.
A localização precisa de Vavá era uma das principais cidades turísticas daquele Estado: Parnamirim. O município litorâneo de belas praias fica a cerca de 12 quilômetros ao sul da capital, Natal. Vavá estaria vivendo numa região de alto padrão da cidade.
Nesta manhã, a partir de informações repassadas pela polícia, uma equipe da Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor) do RN seguiu os passos do investigado. Policiais disfarçados entraram na academia e aguardaram o momento de realizar a prisão. Vavá malhava em um dos aparelhos quando recebeu a voz de prisão e foi algemado, sem esboçar reação.
Ainda não há definição se o investigado deve ser transferido até o Rio Grande do Sul ou se permanecerá preso temporariamente no RN e será ouvido por meio de videoconferência.
Execução
Vavá é investigado pela polícia por suspeita de envolvimento em homicídios e como uma das peças da guerra de facções que ocorre em Porto Alegre. Um dos casos apurados, que resultou no mandado de prisão temporária, aconteceu em novembro do ano passado. Dez criminosos armados invadiram uma residência na Rua Patrimônio, renderam uma mulher e executaram um homem a tiros de fuzil. A investigação levou a polícia a suspeitar de que um dos autores do crime fosse Vavá.
— Essa vítima já vinha sendo ameaçada pelo Vavá, enquanto ele estava preso. Vavá suspeitava que a vítima teria se relacionado com mulher dele anos antes. Ameaçava que quando saísse ia matar, e queria fazer pessoalmente. Sempre deixou claro que faria questão de dar vários tiros de fuzil no rosto dele, e foi exatamente o que aconteceu — detalha a delegada.
Embora a motivação neste caso fosse pessoal, a vítima tinha familiares vinculados a um grupo rival, segundo a polícia, o que também pode ter ensejado o crime. Este assassinato segue sendo investigado pela equipe da 1ª DHPP, que busca identificar os outros envolvidos na execução. Com a prisão, Vavá deverá ser ouvido para apresentar sua versão sobre este fato.
Instabilidade na Vila Maria da Conceição
Após receber a liberdade, segundo as investigações, Vavá teria permanecido algum tempo no Rio Grande do Sul (a defesa dele nega), antes de rumar para o Nordeste. Conforme apurado pela polícia, ele teria costurado alianças dentro do sistema penitenciário federal com presos de outros grupos de fora do Estado.
Vavá seria uma das peças-chave da disputa do tráfico de drogas na Vila Maria da Conceição, área na zona leste de Porto Alegre que tem sido palco de sucessivas disputas entre grupos criminosos rivais pela hegemonia do local. Um dos episódios aconteceu em agosto de 2017, quando João Carlos da Silva Trindade, o Colete, que havia promovido um banho de sangue para tomar o poder, foi assassinado.
Depois disso, o tráfico seguiu em disputa, com episódios violentos, como o assassinato de dois PMs, mas atualmente estaria sob domínio da facção com berço no bairro Bom Jesus. A saída de Vavá do sistema prisional, segundo a polícia, teria gerado nova instabilidade na região. O grupo da Vila Cruzeiro, do qual ele é apontado como líder, teria passado a promover ataques na Maria da Conceição, na tentativa de tomar o poder dos rivais.
Em resposta, um dos episódios de esquartejamento ocorrido na Capital no ano passado, segundo a investigação da polícia, seria uma espécie de recado para Vavá. Em outubro do ano passado, um homem foi capturado, torturado, esquartejado e teve escrito no corpo, com faca, o apelido “Vavá”. O cadáver foi encontrado dentro do porta-malas de um veículo abordado pela Brigada Militar na Avenida Bento Gonçalves.
Por isso, um novo retorno de Vavá ao Estado era acompanhado como possível motivo para gerar novos enfrentamentos entre o grupo da Zona Leste e os rivais, motivo pelo qual a prisão é considerada importante no enfrentamento às facções.
— Tomamos conhecimento de que Vavá estava voltando. Estava vindo do Pernambuco e retornando para o Rio Grande do Sul. A chegada dele ia ser o início de uma nova grande guerra ali, na Conceição, protagonizada por essas facções — afirma o delegado Eibert Moreira Neto, diretor da Divisão de Investigação Criminal do Deic e ex-diretor da Divisão de Homicídios de Porto Alegre.
Defesa nega liderança de organização criminosa
GZH entrou em contato com a advogada Luana Pontes Hübner, responsável pela defesa de Vavá. A criminalista nega que o cliente seja liderança de organização criminosa.
— O Wagner vem sendo acusado de liderança desde 2016. Ele ficou sete anos preso, e os últimos dois anos e meio ele estava no presídio federal. (Em) todos os processos que ele foi acusado, foi ou absolvido ou impronunciado, e, por isso, ganhou liberdade diretamente do Presídio Federal de Porto Velho — disse.
Ainda segundo a advogada, Vavá teria decidido permanecer com a família longe do Rio Grande do Sul, após a soltura.
— Não achamos conveniente que ele voltasse — afirmou.
Sobre o caso que motivou a prisão de Vavá, a advogada afirmou que ainda não teve acesso aos autos e, em razão disso, não consegue se pronunciar no momento.
— Vamos resolver a situação, com certeza da melhor maneira possível, como das outras vezes — disse.