Foto: Reprodução/Folha/UOL.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de Oliveira e Silva, 76 anos, responsabilizou os militares pelos atos extremistas de 8 de janeiro em Brasília e afirmou que é necessário “rediscutir” a atuação das Forças Armadas no país. A declaração do ex-ministro foi feita em uma participação em programa do site Opera Mundi, em 9 de janeiro de 2023, dia seguinte aos atos de extremistas de direita que vandalizaram os edifícios públicos na Praça dos Três Poderes (Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal).
Zé Dirceu, como é conhecido, é um militante histórico do PT. Responde até hoje a acusações da operação Lava Jato. Está afastado do comando da legenda. Apesar dessa sua distância da vida partidária formal, ele ainda é o mais graduado porta-voz das posições mais à esquerda da agremiação criada por ele e Lula em 1980. O ex-ministro afirmou na entrevista que as cenas dos ataques as sedes dos Três Poderes evidenciaram o envolvimento de “setores e comandos” militares. Segundo ele, o episódio pode ter sido um “ensaio geral” para testar a resistência do novo governo.
“É um péssimo sinal, é um aviso claro, direto para nós de que haverá uma longa luta nesses 4 anos. E eles vão todos os meses tentar desestabilizar, inviabilizar e derrubar o governo”, declarou o petista. “Quero repetir: há, no mínimo, omissão. Senão, anuência. Porque não é possível que as Forças Armadas, o Batalhão da Guarda Presidencial e o Comando Militar do Planalto, e as PMs e as polícias legislativas não reagissem a isso, não impedissem isso.”
O petista defendeu a discussão sobre o papel das Forças Armadas no governo e afirmou que os militares “voltem para os quartéis” e saiam de órgãos do governo federal, citando em especial a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
“No momento, eu acredito que a tarefa imediata é rediscutir o papel da Defesa Nacional, o papel do Brasil no mundo, o papel das Forças Armadas frente à nova realidade Internacional e que eles voltem aos quartéis, saiam das estruturas de governo”, argumentou.
O ex-ministro citou ainda a estrutura de órgãos voltados para militares e afirmou que há a criação de um sistema de “castas” e com privilégios para os fardados, o que os deixaria apartados dos demais setores da sociedade.
“Nós vamos continuar tendo um Exército de recrutamento obrigatório, serviço militar obrigatório, ou um Exército profissional? O Exército vai se concentrar nas suas funções específicas militares ou vai acontecer, como já acontece aqui ou aconteceu no México agora, assumindo uma série de tarefas civis? As Forças Armadas não deviam ter poder de polícia sobre os rios e os mares ou sobre as fronteiras. É a guarda de fronteira e guarda-marinha. Não devia ter o Calha Norte ou Projeto Rondon. São programas civis. A defesa do espaço aéreo sim, mas não o controle de espaço aéreo. Isso é civil. É preciso debater publicamente o papel das Forças Armadas”, disse o ex-ministro.
“Eles têm hospitais próprios, educação própria, inteligência própria, justiça própria, um sistema Previdenciário único, só eles têm consultoria em tempo integral, ganharam verba de apresentação, ajuda de custo, gratificação de habilitação“, completou.
Dirceu levantou ainda a hipótese de uma participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos atos extremistas. Segundo ele, os eventos de 8 de janeiro são uma “continuidade” do que Bolsonaro teria iniciado ao “não reconhecer o resultado” da eleição presidencial.
“Não há dúvida nenhuma que tem comando, foi planejado. Tem participação ativa de órgãos de inteligência e militares e que o Bolsonaro está por trás. É ilusão achar que ele entregou os pontos e foi para Orlando passar o Natal e Ano Novo lá. A ida do ex-secretário de Segurança Pública [do Distrito Federal], ex-ministro da Justiça e delegado da Polícia Federal para os Estados Unidos diz tudo”, afirmou o petista.
Créditos: Poder 360.