Foto: Reprodução da mensagem do governador afastado Ibaneis Rocha.
O Globo teve acesso a detalhes do depoimento de três horas de Ibaneis Rocha, governador afastado do Distrito Federal, no qual ele alega que o plano de segurança de Brasília foi “sabotado” no domingo, culpando a cúpula da segurança local pelos atos terroristas. Entre mensagens de texto e áudio, o governador afastado tenta comprovar sua tese de que foi enganado mas que, assim que soube da invasão ao Congresso, pediu uma reação enérgica.
“Tira esses vagabundos do Congresso e prenda o máximo possível˜, escreveu o governador às 15h39 ao então secretário interino de Segurança Pública do DF, Fernando de Souza Oliveira. Segundo sua defesa, essa foi a reação de Ibaneis ao saber da invasão golpista.
Em mensagens anteriores na manhã daquele dia, Oliveira avisa ao governador que a manifestação ocorria de maneira “pacífica, ordeira e democrática”. O secretário interino chega a garantir ao governador que não haveria problemas quanto ao controle dos atos.
Em áudio enviado às 13h23 para Ibaneis, Fernando de Souza Oliveira garante que conduziu negociações para que os manifestantes deixassem os arredores da Esplanada dos Ministérios sem tumultos e reitera o controle das tropas policiais. Este é o último diálogo entre eles, até o início dos atos terroristas.
“Governador, bom dia. Delegado Fernando falando. Governador, passar o ultimo informe aqui do meio dia para o senhor. Tudo tranquilo. Os manifestantes estão descendo lá do SMU, controlado, escoltado pela policia. Tivemos uma negociação para eles descerem de forma pacifica, organizada, acompanhada. Toparam. Não precisou conter lá em cima. É um ou outro ônibus que vai descer. Se descer perto da Rodoviária, eles desembarcam ali na alça leste e seguem acompanhados pela polícia militar. Então, assim, tá um clima bem tranquilo, bem ameno, uma movimentação bem suave e a manifestação totalmente pacifica. Até agora, nossa inteligência está monitorando, não há nenhum informe de questão de agressividade ligada a esse tipo de comportamento. Tem aproximadamente cento e cinquenta ônibus já no DF, mas todo mundo de forma ordeira e pacifica”.
Ibaneis responde: “Maravilha”, às 13h29 do domingo.
Com a troca de mensagens, a defesa de Ibaneis espera comprovar que o governador afastado foi enganado sobre o efetivo empregado nas manifestações golpistas e que não faltou ordem para que os atos terroristas fossem contidos.
O governador volta a procurar Oliveira às 15h39, quando, de acordo com o depoimento, viu pela TV que os manifestantes haviam invadido prédios públicos. Ele pede para que os extremistas fossem removidos.
“Coloca tudo na rua. Tira esses vagabundos do Congresso e prenda o máximo possível”, solicita.
Aos investigadores, Ibaneis disse ter solicitado apoio das Forças Armadas ao ministro da Justiça Flávio Dino logo depois de ter tido ciência de que a situação estava fora de controle e se disse “decepcionado” e “revoltado” ao ver a passividade de alguns policiais militares, que chegaram a fazer fotos dos manifestantes que depredavam o patrimônio público. Ele disse ter sido vítima de “sabotagem”
Ibaneis afirmou em seu depoimento que fez contato pela manhã daquele dia com o titular da pasta, o ex-secretário Anderson Torres, que havia acabado de chegar aos Estados Unidos, apesar de ainda não estar de férias, que só se iniciariam na segunda-feira. Torres teria delegado a responsabilidade à Oliveira. De acordo com Ibaneis, a exoneração do secretário Anderson Torres se deu por esta espécie de “omissão” em um momento de crise.
“A exoneração do secretário Anderson se deu em razão do fato de que este estava ausente do país no momento do trágico acontecimento e, portanto, o declarante perdeu a confiança no seu então secretário”, afirmou em depoimento.
O Globo procurou as defesas de Ibaneis e Oliveira, que não responderam até o momento.
Créditos: Folha de Pernambuco.