Foto: Wenderson Araujo/Valor
Reunidos no primeiro encontro de ministros de estado do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro da Previdência, Carlos Lupi, terão muito o que conversar nesta sexta-feira (6/1).
Em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico publicada hoje, Rui Costa desautorizou abertamente Lupi, que havia defendido na terça-feira (3/1), em seu discurso de posse no Ministério, a inexistência de um déficit nas contas da Previdência.
“Claro que tem déficit previdenciário, negar isso é negar a realidade. Vamos ter um negacionista dentro do nosso governo? O déficit da Previdência pública é enorme, continua enorme apesar de todas as reformas”, rebateu Costa, ao jornal.
Na entrevista ao Valor, o ministro-chefe da Casa Civil disse, ainda, que recomendou que Lupi “jogasse a gasolina fora” e que foi convocado com “extintores” para apagar o incêndio causado pela fala do representante da pasta da Previdência.
O negacionismo de Lupi produziu a primeira crise gestada pelo próprio governo. No dia em que o novo ministro defendeu uma “antirreforma” para desfazer parte das mudanças aprovadas em 2019 nas regras de concessão de aposentadorias e pensões, a Bolsa despencou 2% e o dólar subiu ao maior patamar desde julho passado.
A razão para o pessimismo do mercado é simples: o chefe da Previdência, que deveria ser o maior conhecedor das dificuldades do sistema, ataca uma das poucas iniciativas tomadas no passado recente para tentar equilibrar, ainda que em grau insuficiente, as despesas e receitas do INSS e dos regimes de servidores públicos e militares.
Os dados orçamentários, divulgados pelo próprio governo, apontam para um déficit de R$ 350 bilhões na Previdência pública e do INSS em 2023.
Caso o governo decidisse encampar a pauta de Lupi de promover uma antirreforma da Previdência, o custo em 4 anos seria de R$ 250 bilhões, como mostram cálculos de Pedro Fernando Nery, ex-consultor do Senado e professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).
São recursos que, além de fazer falta para o cumprimento de promessas de campanha de Lula, deixariam a situação das contas públicas ainda mais delicada. Lembrando que o déficit fiscal previsto no orçamento de 2023 está em R$ 230 bilhões.
Metrópoles