Há duas semanas no cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já frustrou as expectativas de economistas e do mercado financeiro, avaliou o economista e ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega. “Pelas declarações mais recentes, inclusive na parte econômica do discurso de posse, Lula se aproxima do período da Dilma”, disse, nesta segunda-feira, 16, em entrevista ao jornal Correio Braziliense.
Segundo ele, os economistas esperavam que o terceiro mandato de Lula fosse uma repetição do primeiro, mas não é o que Nóbrega percebeu até aqui. O ex-ministro apontou as falas intervencionistas do petista e uma percepção equivocada do papel das estatais no cenário econômico brasileiro. “É o período da nova matriz econômica, das pedaladas, da expansão fiscal e de uma volta das visões protecionistas na economia”, advertiu.
Nóbrega destacou que Lula ainda não se deu conta do desafio que tem pela frente. “O discurso dele parece sinalizar que basta ter chegado ao governo para superar uma transformação”, indicou. “Vai ter dinheiro para todo mundo, para reequipar as Forças Armadas, vai ter picanha para os pobres. Esse discurso do presidente, de certa forma ufanista, influenciou o discurso dos ministros que tomaram posse”, explicou.-Publicidade-
Sobre os gastos no atual governo, o economista alertou para o risco de o país entrar numa trajetória explosiva da dívida pública. “Se você tem um teto de gastos e as despesas obrigatórias têm um crescimento vegetativo, as despesas discricionárias vão minguando e começa a faltar dinheiro para a ciência e tecnologia, para a cultura, para os investimentos”, afirmou. “Mas os discursos são como se fosse uma revogação completa do teto de gastos e se restabelecem todos os gastos do passado”, disse Nóbrega.
“Eu diria que, se o governo não conseguir medidas ou formulações que gerem o ano fiscal crível, nós vamos para uma situação complicada. Porque isso vai gerar uma queda de confiança, que significa depreciação do câmbio e aumento da taxa de juros futuras. Significa menos crescimento e mais inflação”, concluiu.