Para economista e cientista político, o aumento salarial para os políticos aprovado no Congresso vai motivar uma série de reajustes no País afora. Em Minas, Assembleia já aprovou incremento
Após o Congresso Nacional aprovar reajustes salariais para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), para o presidente da República e para os deputados e senadores, especialistas ouvidos por O TEMPO temem um efeito cascata nos legislativos e judiciários espalhados pelo País. Em Minas, a Assembleia já aprovou, na manhã desta quinta (22/12), aumentos para os políticos e servidores da Casa e do Tribunal de Contas.
“A questão do aumento dos salários dos deputados e senadores chama mais atenção pela desigualdade em relação às outras categorias do serviço público. É uma incoerência no sentido de que outros profissionais, que atendem a administração pública e fazem atendimento direto à população, não terem o mesmo cuidado”, diz o economista do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon/MG), Gelton Pinto Coelho.
O cientista político e professor de sociologia da ESPM, Paulo Ramirez, concorda com Gelton. E chama a atenção para outro tipo de efeito cascata. “O grande problema é temos funcionários de carreira que estão anos sem receber reajuste. E quando eles têm sempre é abaixo do nível da inflação, piorando o consumo e a qualidade de vida. Todo esse cenário mostra uma visão distorcida que os políticos têm da máquina pública, que acaba servindo para atender interesses dos congressistas. Aqueles que, de fato, batem o ponto todos os dias, na linha de frente das ações do governo, são colocados em segundo plano. Isso cria dificuldades para o próximo governo, porque a tendência é que outros setores façam críticas à gestão e até greves para pedir melhores salários. Cria um efeito cascata negativo também em outras categorias do funcionalismo”, afirma.
O salário dos deputados federais e senadores vai saltar de R$ 33,7 mil para R$ 46,4 mil. Mas, esse incremento será escalonado e só entrará em vigor integralmente em fevereiro de 2025. Já os vencimentos mensais dos ministros do STF vão sair de R$ 39,2 mil para R$ 46,3 mil, incremento de 18%.
Em Minas, o efeito cascata citado pelos especialistas já começou. A ALMG aprovou um reajuste de R$ 8 mil para os deputados. O salário vai sair de R$ 25 mil para R$ 33 mil. Na mesma sessão, os parlamentares autorizaram aumentos de 3,05% e 5,91%, respectivamente, para servidores da Casa Legislativa e para funcionários do Tribunal de Contas.
Todos esses aumentos acontecem em um cenário no qual a fome cresceu no Brasil e a população é forçada a promover uma ceia de Natal mais limitada, como mostrou a reportagem. Além disso, a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) articulou durante meses a PEC do rombo, aprovada nessa quarta-feira (21/12), justamente para permitir gastos fora do teto, diante da situação precária da máquina pública.
O Tempo