Alta nos registros de pessoas contaminadas com coronavírus deixa hospitais lotados, crematórios saturados e farmácias sem medicamentos
Menos de 20 dias após flexibilizar a rígida política de covid-zero, vigente no país há quase três anos, a China registrou na segunda-feira, 19, as primeiras mortes por coronavírus após flexibilização, ao mesmo tempo, em que hospitais e crematórios de vão ficando sobrecarregados por uma onda de casos sem precedentes. Após o levantamento das restrições, a epidemia de covid-19 explodiu na China. Mas seu alcance é “impossível” de determinar, admitem as autoridades, pois os testes de rastreamento não são mais obrigatórios. Especialistas temem que o país esteja mal preparado para a onda de infecções ligadas a essa reabertura, enquanto milhões de idosos e vulneráveis ainda não foram vacinados. Na segunda-feira, as autoridades relataram a morte de dois pacientes em Pequim, já na terça, foram cinco, segundo dados oficiais. As mortes estão aumentando, os crematórios ficam cada vez mais sobrecarregados, e s farmácias já estão ficando com falta de remédios para gripe.
De nordeste ao sudoeste, trabalhadores de crematórios de todo o país disseram que não conseguem acompanhar o aumento das mortes. Em Chongqing, cidade de 30 milhões de habitantes cujas autoridades pediram esta semana que pessoas com sintomas leves fossem trabalhar, um funcionário comentou que seu crematório ficou sem espaço para armazenar cadáveres. “O número de corpos aumentou nos últimos dias”, declarou, sem fornecer seu sobrenome. “Estamos muito ocupados, já não há espaço refrigerado para guardar cadáveres”, insistiu, embora sem relacionar diretamente este pico à covid. Em Guangdong, um funcionário de um crematório no distrito de Zengcheng disse que estavam cremando mais de 30 cadáveres por dia. “Recebemos corpos enviados de outros distritos. Não há outra opção”, relatou. “É três ou quatro vezes mais do que nos anos anteriores, estamos queimando cerca de 40 cadáveres por dia, quando antes era apenas uma dúzia”, declarou um trabalhador. Na cidade de Shenyang, no nordeste do país, um agente funerário informou que os corpos demoravam até cinco dias para serem enterrados porque os crematórios estavam “absolutamente saturados”.
Um dos principais epidemiologistas do país, Wu Zunyou, alertou que a China enfrenta “a primeira de três ondas” de covid-19 esperadas para este inverno. Espera-se que a onda atual dure até meados de janeiro, afetando principalmente as cidades, antes que as viagens relacionadas ao feriado do Ano Novo Lunar (22 de janeiro) desencadeiem uma segunda onda em fevereiro. O terceiro pico ocorrerá entre o final de fevereiro e meados de março, quando as pessoas infectadas durante as férias retornarem para seus locais de trabalho, disse Wu ao jornal econômico Caijing. O Departamento de Estado americano afirmou na segunda que o aumento de casos na China era uma preocupação internacional. “Agora sabemos que sempre que o vírus se espalha, fica fora de controle e tem o potencial de sofrer mutações e ameaçar pessoas em todos os lugares”, declarou o porta-voz Ned Price. “O balanço do vírus é preocupante para o resto do mundo, dado o tamanho do PIB da China”, acrescentou.
*Com informações da AFP