Pelé morreu, mas um mistério envolvendo o Rei do Futebol permanece: a história de seu armário no vestiário da Vila Belmiro. Reza a lenda que, na despedida do Santos, na partida contra a Ponte Preta, em 2 de outubro de 1974, após a volta olímpica, aos 21 minutos do primeiro tempo, Pelé desceu ao vestiário, trancou o armário e foi embora com a chave.
Ao que consta, desde então o armário nunca mais foi aberto e ninguém sabe o que tem lá dentro, só o próprio Pelé — segundo se diz, o Rei teria deixado algum objeto para dar sorte à equipe.
Em 2009, a reportagem se debruçou no mistério e, à época, todos os entrevistados, funcionários do Santos, sabiam do armário, mas não faziam ideia do que havia dentro. “Só o Pelé sabe”, foram unânimes em afirmar.
Se apenas o Pelé sabia, era preciso, então, procurá-lo — uma tarefa, no mínimo, difícil, tratando-se de tentar contato com um Rei. Sendo ele o Rei do Futebol, e eu um zagueiro de poucos recursos, dava como certo tomar alguns dribles desconcertantes. Dito e feito.
Até que conseguimos nos antecipar em uma jogada e desarmar o Rei. De carisma inegável, atraía multidões onde quer que estivesse. Assim foi em um evento em Cubatão (SP). Em meio à marcação cerrada de uma horda de jornalistas, admiradores e solicitações, ficamos frente a frente com o Rei: “Pelé, o que tem no seu armário, no vestiário do Santos?”.
Ele sorriu, surpreso. Mas, de raciocínio rápido, foi-se desvencilhando da marcação: “Nada especial. Só umas coisas”. Que coisas? “Ah, uma chuteira…”. Só isso? “Nem o Edinho [filho de Pelé, que foi goleiro do Santos nos anos 1990] sabe. Quando jogava, até pediam para ele abrir. Mas não é nada de importante”.
Pelé acabou tabelando com a multidão, como costumava fazer nas pernas dos adversários em situações complicadas, e avançou, sem dar chance para mais perguntas.
Ao que tudo indica, o mistério é mais um lance genial do Santos e de Pelé. O grande gol de placa é o encantamento das milhares de pessoas que, todo mês, fazem a visita monitorada na Vila Belmiro. Pelé se foi, mas o seu mistério permanece até o fim dos tempos: para além do armário, a magia que brotava de seus pés e fez do Brasil o país do futebol.