Imagem: Carl de Souza/AFP.
É provável que você nunca tenha ouvido falar da expressão “Rec 5”. E está tudo bem. Mas aqui vai uma revelação: isso pode ajudar a seleção brasileira a vencer a Copa do Mundo do Qatar.
Rec 5 é o termo que os auxiliares diretos e o próprio Tite usam nos bastidores para definir um conceito tático considerado fundamental no jogo do Brasil ao longo dos últimos anos. Ele consiste basicamente em recuperar (daí o “rec”) a posse de bola até cinco segundos depois de tê-la perdido para o adversário.
“É o perde-pressiona. Tem uns que chamam de cinco segundos de loucura, outros que chamam de pressão imediata, de Rec 5. Usem o nome que quiserem”, resume o técnico.
Funciona mais ou menos assim: vamos supor que seu time esteja fazendo uma jogada no ataque buscando o gol, seja trocando passes de pé em pé ou em alguma tentativa individual. Aí dá tudo errado e o adversário rouba a bola. A partir desse momento, você tem duas opções: 1) seus jogadores recuam para marcar atrás e tentar atrapalhar a jogada adversário; e 2) você se esforça para recuperar a bola antes de o adversário passar para o seu campo.
No caso da seleção brasileira, os treinamentos e conversas orientam para que a segunda opção seja a prioridade. Com um ingrediente a mais: que essa pressão no adversário para recuperar a bola seja instantânea, dentro de cinco segundos do momento em que a posse foi perdida. Este é o Rec 5.
Conseguiu recuperar a bola em cinco segundos, continua o ataque e tenta fazer o gol. Não conseguiu, repensa a jogada e se posiciona para defender, porque o adversário vem com tudo.
Parece simples, mas não é. A comissão técnica da seleção conta as vezes em que o Rec 5 deu certo em cada jogo e a média geral é próxima de 20%. Ou seja, de cinco vezes que o time perde a bola no ataque, em uma consegue recuperar rápido. É um número tido como positivo, porque significa que você evitou pelo menos uma vez que o adversário fizesse uma jogada a partir de movimentos e ações que treinou antes da partida.
Tática já gerou polêmica
Segundo apurou o UOL Esporte, a leitura dos índices do Rec 5 gerou polêmica e discussões dentro da comissão técnica recentemente. É que em alguns jogos os profissionais consideraram que a seleção jogou bem, mas teve o Rec 5 muito baixo. Por que? Os atacantes não fizeram a pressão na hora certa? Desobedeceram as instruções? Estavam mal organizados em campo?
Nada disso. Quem explica é Matheus Bachi, auxiliar técnico da seleção: “Muitas vezes é porque a gente acaba a jogada. Tem uma finalização para fora, escanteio, uma falta que a gente sofre. Em muitos jogos a gente tem alto número de Rec 5 porque a gente não acaba a jogada. Então, tem gerado até uma discussão entre nós: onde é o equilíbrio? O que a gente menos quer é ter que correr para trás.”
Ou seja, em alguns jogos a seleção não aplica o Rec 5 para recuperar a bola em cinco segundos simplesmente porque não sofre desarmes, então consegue completar as jogadas. Assim, o adversário só ataca quando inicia o lance a partir de bolas paradas. Nesse sentido, ter o Rec 5 baixo não é um problema, porque o Brasil nunca perdeu o controle das ações.
“Por isso que a análise qualitativa é sempre mais importante do que a quantitativa. Senão a gente espreme os dados e eu posso tecer hipóteses em cima de dados aleatórios. Como é que vou fazer Rec 5 se estou terminando todas as jogadas?”, reflete Tite, em conversa exclusiva com o UOL Esporte.
Tite valoriza o Rec 5 porque ele permite o aumento do tempo do jogador com a bola e a chance de jogadas mais trabalhadas. Mas ele entende que a aplicação desse conceito depende de muitos fatores. Inclusive físicos. Não é um número aleatório.
É preciso saber quantas vezes ocorre, em que lugar do campo e com quais jogadores, o que pode até mudar a escalação do Brasil em algum momento da Copa do Mundo, dependendo do adversário. Gabriel Jesus, por exemplo, é um especialista no conceito.
Nesta quinta-feira (24), a seleção estreia no Mundial do Qatar, às 16h (de Brasília). Os sérvios que se cuidem, porque contra o Brasil tem sido assim: piscou, perdeu.
Créditos: Portal UOL.