Começa hoje (7) o julgamento da pastora evangélica e ex-deputada federal Flordelis pela acusação de ter arquitetado o assassinato de seu marido Anderson do Carmo, morto em 16 de junho de 2019, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Outras quatro pessoas acusadas de envolvimento no crime também serão julgadas a partir de hoje. Ela terá seu destino decidido por um júri popular.
Além de Flordelis, serão julgados sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues; a neta Rayane dos Santos Oliveira; e os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva. O pastor Anderson do Carmo foi assassinado com dezenas de tiros quando descia do carro, no quintal de casa, no bairro de Pendotiba, em Niterói. Flordelis tinha entrado em casa momentos antes.
A ex-deputada –cassada em razão do envolvimento no caso– é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica.Já Marzy, Simone e André Luiz responderão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada; e Rayane, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.
Por conta do grande número de réus, a previsão do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) é de que o julgamento dure vários dias, em sessões que serão iniciadas às 9h e devem ser interrompidas por volta das 20h.
Cassação e prisão. Flordelis está presa desde 13 de agosto de 2021, quando a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, titular da 3ª Vara Criminal de Niterói, aceitou pedido de prisão preventiva feito pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). Dois dias antes, Flordelis havia perdido o foro privilegiado ao ter o mandato de deputada federal cassado por 437 favoráveis, 7 contrários e 12 abstenções.
Após ser presa, Flordelis foi levada para a Penitenciária Talavera Bruce, no Complexo do Gericinó, na zona oeste do Rio. No mês passado, ela se envolveu em uma polêmica na prisão, ao ter um celular apreendido na cela.
A pastora admitiu ter usado o aparelho para trocar mensagens com o atual namorado, Allan Soares, com quem se relaciona há pouco mais de um ano.
Plano familiar. A pastora e seus familiares tentaram inicialmente sustentar a tese de que Anderson havia sido morto em um assalto, mas as investigações constataram que ela, os filhos e a neta tinham arquitetado um plano para matá-lo —que envolveu até mesmo tentativas de envenenamento.
Filho adotivo de Flordelis, Flávio dos Santos Rodrigues, acusado de ser o autor dos disparos, foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento falso e associação criminosa. Já o filho adotivo Lucas Cézar dos Santos de Souza, que comprou a arma usada no crime, recebeu pena de sete anos e seis meses de prisão por homicídio.
Outras quatro pessoas foram condenadas por envolvimento em uma tentativa de forjar uma carta em que Lucas assumiria a culpa pelo crime. Adriano dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis; Marcos Siqueira Costa, PM que participou do plano para forjar a carta; e Andrea Santos Maia, mulher do PM Marcos, foram condenados por uso de documento falso e associação criminosa.
Já Carlos Ubiraci Francisco da Silva, filho adotivo da pastora, foi considerado culpado apenas por associação criminosa —ele absolvido das acusações de homicídio e tentativa de homicídio contra Anderson do Carmo.
O que diz Flordelis? Durante todo o processo, Flordelis negou ter qualquer ligação com a morte do marido. Em live realizada por ela horas antes de ser presa, a pastora e ex-deputada reafirmou sua inocência: “Caso eu saia daqui hoje, saio de cabeça erguida porque sei que sou inocente. Todos saberão que sou inocente, a minha inocência será provada e vou continuar lutando para garantir a minha liberdade, a liberdade dos meus filhos e da minha família, que está sendo injustiçada”.
Os demais acusados também dizem que são inocentes.
Mudanças de data. O julgamento da ex-deputada ocorre após ser remarcado duas vezes.
Inicialmente, estava previsto para 6 de junho, mas foi adiado dias antes de ocorrer, por pedido da defesa de Flordelis, Marzy e Rayane, que alegaram a falta de acesso a laudos até então não anexados ao processo, cuja análise seria imprescindível para a ampla defesa das acusadas.
A data foi alterada pela segunda vez em outubro, desta vez por um motivo inusitado —a data marcada, 12 de dezembro, é véspera das semifinais da Copa do Mundo de 2022 —marcadas para 13 e 14 de dezembro. Como há a previsão de que o julgamento dure vários dias, a juíza decidiu antecipar as audiências para novembro.