Vitória Mattar, 24 anos, é aluna de ciências sociais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a mesma instituição que, em 2021, aplicou uma prova com uma questão escrito “Fora Bolsonaro”. No curso há dois anos, ela relata momentos de tensão, desde que foi descoberta de direita, no início da graduação. Os ataques se intensificaram depois do primeiro turno da eleição, quando Vitória elogiou candidatos conservadores que haviam vencido a disputa. A estudante criou um Twitter para fazer um trabalho da UFPel e descobriu os ataques a ela na rede social. “Chamaram-me de ‘bolsonarista desgraçada’”, lembrou.
A estudante criou um Twitter para fazer um trabalho da UFPel e descobriu os ataques a ela na rede social. “Chamaram-me de ‘bolsonarista desgraçada'”.
Decidida a expor a situação, compareceu a um comício do presidente Jair Bolsonaro em Pelotas (RS), na segunda semana de outubro, e tirou uma foto segurando um cartaz com a denúncia: “Sou aluna de ciências sociais da UFPel e sofri perseguição. Luto por minha própria liberdade e pela da minha família”. Após esse dia, a vida acadêmica e pessoal de Vitória foi de mal a pior. “Na sala, todos passaram a me olhar de forma estranha”, disse. “Quando os estudantes da minha sala viram a foto, ficaram extremamente bravos”, afirmou Vitória. “Começaram a me xingar pelo WhatsApp, recebi mensagens com juras de morte do tipo ‘Você vai levar um tiro na cabeça’, entre outras frases horríveis.”
O desrespeito acabou completamente quando uma aluna cuspiu em Vitória durante uma aula e disse para ela “aguentar as consequências”. Naquele momento, a estudante resolveu acionar a direção da universidade, para relatar o ocorrido. Vitória avisou um secretário da UFPel e pediu segurança. O homem, contudo, respondeu que a faculdade pouco poderia fazer. A estudante recorreu à polícia e aguardou a chegada dos agentes do lado de fora. Enquanto esperava, vários colegas de sala passavam ofendendo-a. Com medo de ser agredida, Vitória fez uma live no Instagram, para “ter provas se o pior ocorresse”.
Mais tarde, registrou um Boletim de Ocorrência na polícia. No dia seguinte, a advogada da jovem decidiu conversar com a coordenadora do curso. A docente prometeu uma reunião com os alunos. Quando esse encontro aconteceu, havia alunos de vários cursos na sala. Vitória disse que, durante a fala da coordenadora, em nenhum momento a educadora a defendeu. “Pelo contrário, pôs mais lenha na fogueira”, relatou. “A coordenadora chegou a dizer que, caso os alunos estivessem se sentindo ameaçados, poderiam procurar os seus direitos.”
Vitória disse que seguiu a vida depois disso, mas as ofensas continuaram. Tampouco a eleição de Lula apaziguou os ânimos. “Colaram um cartaz na porta ameaçando ‘colocar fogo nos fascistas’”, disse a aluna. “As mais recentes ameaças dizem que não vou conseguir continuar estudando, que não me querem na sala. Ameaçaram até as minhas duas filhas, que são pequenas. Não sei como vai ser agora.” A estudante está há duas semanas sem ir para a faculdade, e a UFPel não a procurou.
Créditos: Revista Oeste.