A escolha do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) como coordenador do governo de transição pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi consenso entre todos os líderes petistas. Parte das lideranças petistas defendia que o indicado para a coordenação deveria ser de algum dos nomes do próprio PT. E esse é apenas um exemplo das resistências que o presidente eleito já enfrenta para compor futuro governo com nomes de fora do PT.
Para essa ala, o PT já conta com experiências em períodos de transição – no caso, na troca do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 2002, e até na sucessão entre Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff em 2010. Mas Lula, segundo interlocutores, teria rejeitado a proposta dessa ala do PT e defendeu a indicação de Alckmin como uma sinalização de espaço aos nomes da chamada “frente ampla” que lhe apoiou na campanha.
Outros aliados defendem a tese de que Lula vai precisar dar uma cara diferente para seu terceiro mandato. Segundo ele, o presidente eleito terá que “administrar os ciúmes” de alguns petistas que tiveram destaques nas gestões anteriores do PT.
E, desde a reta final da campanha, Lula já vinha sinalizando ao PT de que será preciso dar espaço para todas as forças políticas que lhe ajudaram na campanha contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). “A minha campanha agora não é de um partido só. Primeiro, porque fizemos aliança com quase dez partidos políticos. Segundo, porque nós fizemos um esforço muito grande para atrair muita gente da sociedade que às vezes não tem nada a ver com o PT, mas tem muito a ver com o Brasil e com a democracia”, afirmou Lula em um ato antes do segundo turno.
Logo após o resultado das urnas, Lula agradeceu a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), e citou que o apoio de ambas foi determinante para a vitória neste segundo turno. Com essas sinalizações e com a confirmação de Alckmin como coordenador da transição, aliados de outros partidos defendem que Lula tem reforçado o compromisso de que pretende fazer um governo para “fora do PT”. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT), coordenador do plano de governo de Lula, irão integrar o grupo do governo de transição ao lado de Alckmin. De acordo com Gleisi, não há intenção de Lula em efetivar como ministro o coordenador do governo de transição. Em 2002, Antônio Palocci coordenou a transição e na sequência foi nomeado ministro da Fazenda.
PSB de Alckmin também quer protagonismo no governo Lula
Além da presença de Alckmin na transição, o PSB do futuro vice-presidente quer também mais espaço nas discussões do futuro governo. A legenda trabalha com a expectativa de comandar ao menos três ministérios da gestão Lula. O ex-governador Márcio França (PSB), que abriu mão de sua candidatura ao governo de São Paulo para apoiar Fernando Haddad (PT), é um dos principais cotados para integrar alguma pasta na Esplanada dos Ministérios. Outros nomes do PSB também são cotados, como o ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara e o senador eleito pelo Maranhão Flávio Dino.
“Esse Flávio Dino, ele que se prepare. Ele vai ser eleito senador, mas não será senador por muito tempo. Se prepare, porque vai ter muita tarefa neste país”, disse Lula ao final de seu discurso em comício em São Luís (MA), em setembro. O ex-governador do Maranhão é visto como possível nome para o Ministério da Justiça ou para a Casa Civil.
No caso de Câmara, integrantes do PSB cobram que o PT abra espaço no governo por causa do acordo feito para as eleições em Pernambuco. O ex-governador pretendia se candidatar ao Senado, mas desistiu para apoiar Teresa Leitão (PT), que se elegeu.
Lula quer abrir espaço para o MDB, PSD e União Brasil
Além de atender os partidos da chamada frente ampla que apoiou Lula na disputa, Lula quer abrir espaço também para outros partidos que não lhe apoiaram formalmente. O objetivo do petista é de criar uma base governista no Congresso Nacional através das bancadas desses partidos.
Para atrair o MDB, Lula não descarta dar um ministério a Simone Tebet. O petista chegou chamar o ex-presidente Michel Temer (MDB) de “golpista” na véspera do segundo turno, mas tem afirmado que o partido vai além do emedebista que assumiu a Presidência após o impeachment de Dilma Rousseff. Após o resultado das urnas, a cúpula do MDB parabenizou Lula pela vitória e emedebistas já defendem uma composição com Lula. “Cumprimentamos o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Que ele seja capaz de pacificar o país, e avance em pautas por mais empregos e renda”, disse em nota o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP).
Petistas têm resistência ao MDB por causa de Dilma
Líderes do PT e de outros partidos de esquerda que apoiam Lula, no entanto, resistem em formalizar uma aliança com o MDB por causa do apoio do partido ao impeachment de Dilma. Para vencer as resistências, Lula tem dito aos seus aliados de que a coligação que lhe apoiou não terá maioria na Câmara e no Senado na próxima legislatura; e que é preciso ter sustentação no Congresso Os deputados eleitos por sua coligação somam 122 das 513 cadeiras na Câmara, número insuficiente para aprovar um simples projeto em sessões com presença completa.
Além do MDB, Lula pretende se aproximar do União Brasil, partido que elegeu a terceira maior bancada da Câmara, com 59 deputados. O presidente do partido, deputado Luciano Bivar (União Brasil-PE), já acenou para o petista e indicou que o seu partido pretende disputar a presidência Câmara contra Arthur Lira (PP-PI) no ano que vem. Neste caso, Lula poderia negociar o apoio da bancada petista ao nome do deputado do União Brasil quer for candidato contra Lira.
Outro partido cortejado por Lula é o PSD, presidido pelo ex-ministro Gilberto Kassab. A sigla elegeu 42 deputados e terá ao menos 11 senadores a partir do ano que vem. Com a composição, o PSD também deve voltar a ocupar cargos dentro do governo petista. Mas segundo integrantes do PT, isso só será definido nas próximas semanas. Os dois partidos estavam rompidos desde o impeachment de Dilma Rousseff.
Gazeta Brasil