Em passagem feita em uma rotatória de Doha, o jornalista é surpreendido por seguranças que chegam em um carro de golfe, e ameaçam quebrar a câmera; Comitê do evento pediu desculpas pelo ocorrido
Uma equipe de reportagem enviada ao Catar para a cobertura da Copa do Mundo foi impedida de gravar em uma das ruas de Doha, capital do país, nesta terça-feira. Em entrada ao vivo para a emissora TV2, da Dinamarca, o repórter Rasmus Tantholdt foi abordado por seguranças, que chegaram em um carro — como os usados em campos de golfe — e o impediram de trabalhar enquanto já estava no ar: até ameaças de danificar o equipamento um dos homens fez, depois de colocar a mão na lente da câmera. Após o acontecido, Comitê do Catar e o Qatar International Media Office, que organiza a comunicação do evento, pediram desculpas.
Em vídeo compartilhado em suas redes sociais, o repórter Rasmus Tantholdt mostrou o tratamento que recebeu de seguranças ao fazer uma entrada ao vivo em um telejornal da TV2.
— Você convidou o mundo inteiro para vir aqui. Por que não podemos filmar? É um lugar público — argumentou o jornalista, que ainda apresentou suas credenciais aos homens.
Na legenda da publicação, apesar de contar ter recebido os pedidos de desculpas, Rasmus questionou: “Mas isso acontecerá com outras mídias também?”
Momento em que homem desce do carro e tenta impedir gravação — Foto: Reprodução / Twitter
Desculpas com suco de romã
Segundo a TV2, os homens que aparecem nas imagens são seguranças e mostraram à equipe como é a rotina dos jornalistas no Catar, que “não é exatamente um país conhecido pela imprensa livre e crítica”.
Findada a confusão, foram mais trinta minutos necessários para que os seguranças informassem que as licenças de Rasmus Tantholdt e de seu cinegrafista, Anders Bach, estavam em ordem.
— Eles têm medo de que algumas dessas coisas venham à tona. Minha experiência depois de viajar para 110 países ao redor do mundo é que, quanto mais roupa suja você tiver no porão e não quiser mostrar, mais difícil será para nós, jornalistas, reportar. Isso é o que estamos experimentando aqui — disse Rasmus Tantholdt em reportagem da TV2.
Após confusão, seguranças apertaram as mãos de repórter — Foto: Reprodução / TV2
— Eles não gostam do fato de que agora está cheio de jornalistas que correm para campos de migrantes, filmam e entrevistam homossexuais na rua. Expor as coisas que o Catar não tem necessariamente o prazer de mostrar ao resto do mundo. Eles querem mostrar a uma grande festa de futebol que está tudo bem, mas como podemos ver, obviamente tem que ser feito com a permissão deles — criticou.
Os seguranças tentaram apertar a mão do repórter após o ocorrido e, de acordo com o repórter, foi-lhe oferecido uma caneca de suco de romã, entendido por ele como um pedido de desculpas.
Seleção protesta
Desde a confirmação do mundial de 2022 no Catar, o pequeno emirado do Golfo tem sido alvo de inúmeras críticas sobre os direitos dos trabalhadores migrantes, a comunidade LGTBI+ ou o impacto ambiental do torneio. Com a Copa do Mundo se aproximando, patrocinadores e marcas têm adotado posições mais ou menos radicais dependendo do país.
Uma delas é a Hummel, fornecedora de equipamentos esportivos da Dinamarca, que borrou o logotipo nas camisas oficiais do torneio. Os uniformes são um “protesto contra o Catar e seu histórico de (desrespeito aos) direitos humanos”, justificou a empresa em um post no Instagram, que ainda acrescentou: “Não queremos ser visíveis durante um torneio que custou a vida de milhares de pessoas”, referindo-se aos números de trabalhadores que morreram nas obras da Copa, informação da qual Doha discorda.