Vice-presidente eleito tentar diminuir as pressões sobre o novo governo, que pretende romper o teto de gastos
Foto: Ton Molina/FotoArena/Estadão Conteúdo
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trabalhará para cortar despesas, para retomar o superávit primário e para reduzir o endividamento público, mas essas medidas não ocorrerão em 24 horas. É o que disse o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira, 17, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
“Haverá superávit primário, haverá redução da dívida, mas isso não se faz em 24 horas”, afirmou Alckmin, ao responder às perguntas dos jornalistas. A declaração é uma tentativa de diminuir as pressões do mercado financeiro e da população brasileira sobre o governo petista, que pretende furar o teto de gastos em quase R$ 200 bilhões para financiar programas sociais. A medida pode resultar em descontrole da dívida pública, segundo especialistas.
Alckmin disse que, desta vez, Lula herdou um cenário econômico menos favorável que o verificado em 2003, quando assumiu pela primeira vez a Presidência da República. “Quando o presidente Lula assumiu, o país vinha de um governo com superávit todo ano”, ressaltou. “Ele deu sequência. Agora, vem de déficit. Você não faz mágica.”
Diferentemente do que diz o ex-tucano, o Brasil acumula superávit primário de R$ 73,1 bilhões desde janeiro a julho deste ano. No acumulado em 12 meses, o resultado positivo chega a R$ 115,6 bilhões. No mesmo período do ano passado, em razão da pandemia, o governo federal registrou déficit de R$ 73,1 bilhões.
Segundo Alckmin, o governo petista dará “prioridade absoluta” à continuidade do Bolsa Família. “Primeiro ponto, o governo vai atuar do lado da despesa, cortando gastos que possam ser cortados”, observou, ao considerar que a administração Lula poderá encerrar contratos firmados com o atual governo federal. “Se tiver preços corretos, ótimo, mas você pode ter espaço aí.”
O vice-presidente eleito voltou a dizer que o governo pretende “discutir” uma proposta de reforma nas regras fiscais, a fim de “substituir” o teto de gastos. “A coisa vem a seu tempo”, declarou.
De acordo com Alckmin, a reforma tributária também está entre as prioridades do novo governo. “É essencial”, salientou. “É uma situação muito boa. Você tem duas PECs muito próximas uma da outra, ambas buscam simplificar, substituindo inúmeros tributos por um Imposto sobre Valor Agregado [IVA].”