Os dias seguintes ao primeiro turno da eleição presidencial, que terminou com diferença de cinco pontos percentuais entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), têm sido marcados por reuniões entre lideranças políticas e partidárias para a definição de eventuais apoios aos dois candidatos.
Até o momento, Bolsonaro tem se saído melhor entre os governadores eleitos neste primeiro turno, que gozam de apoio majoritário em seus estados. Sete candidatos a Executivos estaduais que saíram vitoriosos das urnas no último domingo (2) declararam apoio ao atual presidente.
Nesta terça-feira (4), governadores dos três maiores colégios eleitorais do país anunciaram apoio a Bolsonaro – Cláudio Castro (PL), reeleito governador do Rio de Janeiro; Romeu Zema (MG), reeleito para o governo de Minas Gerais; e Rodrigo Garcia (PSDB). O tucano, sucessor de João Doria, não foi reeleito em São Paulo; Bolsonaro, entretanto, é aliado de Tarcísio de Freitas, que ficou à frente do adversário Fernando Haddad (PT) no primeiro turno.
Já Lula recebeu declaração de apoio de cinco governadores. O petista, entretanto, tem investido na costura de alianças com os candidatos à Presidência da República que saíram derrotados na votação. O PDT, de Ciro Gomes, formalizou apoio à candidatura de Lula no segundo turno nesta terça, com a condição de o petista incorporar quatro propostas ao seu plano de governo.
Ciro divulgou vídeo em seguida ao anúncio do PDT informando que acompanharia a decisão do partido. No entanto, o presidenciável – que durante a campanha fez duras críticas a Lula e ao Partido dos Trabalhadores, em especial devido aos escândalos de corrupção em que o petista e integrante da sigla estiveram envolvidos – sequer mencionou o nome de Lula no anúncio e não deve participar da campanha petista. “Não aceitaremos imposições ou cabrestos de quem quer que seja”, disse Ciro, emendando que não aceitaria nenhum cargo em eventual futuro governo e que iria fiscalizar e denunciar qualquer desvio do governo que assumir a partir de 2023.
Simone Tebet (MDB), que somou 4,2% de votos, deve declarar apoio a Lula em breve, conforme informado pelo senador Marcelo Castro, tesoureiro nacional do MDB. O partido ainda não bateu o martelo sobre eventual apoio a um dos dois candidatos, mas a posição da sigla deve ser a de liberar seus filiados a declararem apoio livremente.
Em agosto, Tebet acusou o PT de tentar sabotar sua candidatura ao Planalto. “De forma antidemocrática quis o Partido dos Trabalhadores puxar o tapete da nossa candidatura. Eu sei, um dia a história saberá. Nós vamos contar essa história”, disse a candidata na época. Durante a campanha, entretanto, o alvo principal da emedebista foi Bolsonaro, e no último debate antes do primeiro turno, ela foi a única participante a não tecer críticas a Lula.
O apoio de Ciro e Simone é visto com bons olhos pela campanha de Lula, uma vez que juntos os dois somaram 8,5 milhões de votos, ou 7,2% da preferência do eleitorado do país.
Entre os demais candidatos à Presidência, Soraya Thronicke (União Brasil) disse à Rádio Gaúcha nesta terça que não apoiará nenhum dos candidatos no segundo turno. Felipe D’Avila deve seguir o mesmo caminho – ainda no domingo (2), o candidato do Novo disse que se manteria neutro na disputa.
Já Padre Kelmon Luís (PTB) apoiará Bolsonaro. Em vídeo divulgado nesta terça, ele convocou os brasileiros a comparecerem nas urnas, reforçou bandeiras conservadoras e fez críticas a Lula.
Disputa nos estados
Entre os 15 governadores eleitos neste domingo, apenas três ainda não declararam apoio a nenhum dos candidatos: Ronaldo Caiado (União Brasil), reeleito em Goiás; Wanderley Barbosa (Republicanos), reeleito em Tocantins, e Clécio (SD), eleito pelo Amapá. Clécio, entretanto, é aliado de Lula e tende a apoiá-lo. Já Caiado já foi aliado de Bolsonaro, mas os dois divergiram devido às políticas de saúde pública durante a pandemia.
Entre os demais, os sete que declararam apoio a Bolsonaro são Cláudio Castro (RJ); Ratinho Jr. (PR); Mauro Mendes (MT); Ibaneis Rocha (DF); Gladson Cameli (AC); Antônio Denarium (RR); e Romeu Zema (MG).
Em seu pronunciamento ao lado do presidente na manhã desta terça, Zema afirmou que a decisão veio por conta da situação econômica que herdou de Fernando Pimentel (PT) quando assumiu a gestão do estado mineiro em 2018, que ele classificou como uma “tragédia”.
Lula, por outro lado, conta com declaração de apoio de governadores exclusivamente das regiões Norte e Nordeste. São eles: Elmano de Freitas (CE); Fátima Bezerra (RN); Rafael Fonteles (PI); Carlos Brandão (MA); e Helder Barbalho (PA).
Entre os candidatos a governos estaduais que foram ao segundo turno correndo por fora da polarização nacional, sem apoiar ou receber apoio de Lula ou Bolsonaro, somente o atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, se manifestou. Em pronunciamento nesta tarde, ele declarou “apoio incondicional” à candidatura de Bolsonaro, assim como decidiu apoiar também seu ex-adversário na corrida eleitoral ao governo paulista Tarcísio de Freitas na disputa contra Haddad no segundo turno.
Já Eduardo Leite (PSDB) ainda avalia se declarará apoio a algum dos presidenciáveis. No segundo turno ele concorre com Onyx Lorenzoni (PL), ex-ministro do atual governo federal, cuja candidatura conta com o apoio de Bolsonaro, o que deve dificultar eventual apoio ao atual presidente.
Em situação parecida se encontra ACM Neto (União Brasil), que disputará o segundo turno contra Jerônimo Rodrigues, do PT. Apesar de ser crítico de Bolsonaro, o candidato ao governo baiano dificilmente declarará apoio a Lula.
Apoios de partidos
Entre os partidos, além do PDT o Cidadania também oficializou nesta terça apoio à candidatura de Lula no segundo turno. A legenda fez parte da coligação que lançou Simone Tebet à presidência. Em uma sequência de postagens no Twitter, Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania, disse que o partido decidiu pelo apoio “diante dos riscos de escalada autoritária de um segundo mandato do presidente Jair Bolsonaro”. Lula já contava com o apoio das siglas que integram sua coligação – PCdoB, PV, Solidariedade, Psol, Rede, PSB, Agir, Avante e Pros, além do próprio PT.
Já Bolsonaro, que possui o apoio dos partidos coligados PL, Republicanos e PP, recebeu declaração de apoio do PSC nesta segunda (3). O PTB também deve oficializar apoio ao atual presidente nos próximos dias.
Após um dia inteiro de reuniões nesta terça-feira, o PSDB liberou os diretórios estaduais e filiados a apoiarem quem quiser no segundo turno da eleição presidencial. Atitude semelhante tomou o partido Novo nesta segunda. Partidos como União Brasil, MDB, PSD e Podemos ainda não se posicionaram sobre eventual formalização de apoio a um dos dois candidatos.
Outros atores políticos
Entre os congressistas, tanto Lula quanto Bolsonaro têm recebido, desde domingo, amplo apoio de suas bases. O atual presidente, no entanto, tem recebido declarações de apoio de críticos que preferem sua reeleição a uma eventual volta do PT ao poder. Um desses casos é o do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), que foi eleito senador pelo Paraná no último domingo.
Moro, que deixou o governo Bolsonaro em 2020 e desde então tornou-se desafeto do presidente, declarou apoio a Bolsonaro nesta terça. “Lula não é uma opção eleitoral, com seu governo marcado pela corrupção da democracia. Contra o projeto de poder do PT, declaro, no segundo turno, o apoio para Bolsonaro”, disse o ex-juiz, por meio das redes sociais. Em reação, o presidente afirmou que o desentendimento que teve com o ex-juiz da operação Lava Jato está superado.
O ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Podemos), eleito deputado federal com o maior número de votos pelo Paraná, é outro que declarou ser apoiador de Bolsonaro no segundo turno. “Nós precisamos unir o centro e a direita no Congresso em torno do combate à corrupção”, afirmou nesta segunda-feira (3), emendando críticas a Lula e ao PT, em especial por escândalos de corrupção.
Já o ex-governador de São Paulo João Doria afirmou que votará nulo no segundo turno das eleições presidenciais. “O meu voto será o da neutralidade. Meu voto será nulo. Não faço ataques nem a um lado, nem ao outro”, declarou ao em entrevista ao UOL News.
Gazeta do Povo