O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dado sinais cada vez mais fortes a aliados de que gostaria de ter Guilherme Boulos (Psol) como ministro de um eventual governo petista. O movimento recente, considerado “mais incisivo”, foi confirmado por parlamentares do partido no Congresso ligados ao ex-presidente.
A ideia inicial era atrair a liderança do Psol para o PT. No plano, Boulos sairia como deputado federal por São Paulo com a garantia de que receberia toda a estrutura do partido. Depois, em caso de vitória do petista na disputa presidencial, seria puxado para uma pasta da área social. Haveria ainda a promessa de apoio em 2024 na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Também foi ventilada a ideia de Boulos atuar numa função semelhante a exercida pelo ex-ministro Gilberto Carvalho no governo Dilma Rousseff, fazendo a interlocução com os movimentos sociais.
Nos bastidores do Psol, o movimento é entendido como mais uma estratégia do PT de São Paulo para pressionar Boulos a desistir da pré-candidatura ao governo. O partido tenta convencer o ex-governador Marcio França (PSB) e o pré-candidato do Psol a saírem da disputa estadual para apoiar Fernando Haddad (PT) e construir uma frente ampla de esquerda para concorrer ao governo paulista.
O partido nega promessas feitas por petistas sobre uma eventual participação em um governo Lula, caso o ex-presidente vença a disputa presidencial. “Não existe qualquer negociação nesse sentido”, disse Boulos.
No início de fevereiro, Boulos e Lula se reuniram em São Paulo a pedido do ex-presidente. Após o encontro, a liderança do Psol informou que o tema principal tinha sido a pré-candidatura do petista à Presidência, com a construção de uma ampla aliança para disputar as eleições. O Psol tem criticado a indicação do ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) para vice do petista, mas Boulos já indicou que apoiará Lula.
Um parlamentar petista ligado ao ex-presidente ouvido pelo Valor avalia que Lula pensa em montar um ministério com pessoas mais jovens, que passem a ideia de um governo mais arejado politicamente e conectado com os tempos atuais.
De acordo com ele, que confirma o movimento de Lula, Boulos não precisaria necessariamente entrar no PT para fazer parte de um eventual governo. “Ele tem dito que gostaria de contar com ele num eventual governo. Tudo de uma maneira muito sutil. Afinal, ele ainda nem oficializou a pré-candidatura”, aponta.
Sem a definição do PSB em São Paulo em relação à retirada de França, Boulos e Lula adiaram para abril as conversas que estavam previstas para o início deste mês sobre a união no Estado. Boulos tem buscado construir a unidade em São Paulo, mas ainda não há indicações de que os pré-candidatos do PT, Psol e PSB estarão juntos no primeiro turno.