Editora do jornal norte-americano diz que política externa dos EUA pode beneficiar as ditaduras
Um artigo publicado na edição desta segunda-feira, 10, do jornal The Wall Street Journal, critica duramente o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pela aproximação com os governos ditatoriais de esquerda da Venezuela e de Cuba.
Assinado pela editora Mary Anastasia O’Grady, o texto afirma que a esquerda norte-americana está usando como desculpa a invasão na Ucrânia e o furacão Ian para retomar “a política da era Obama de tratar os governos da Venezuela e Cuba com mais normalidade”.
“O governo Biden está sinalizando que pode acompanhar essa ginástica mental — não importa quão sem sentido”, escreveu a editora, citando reportagem do WSJ, publicada na semana anterior, a qual demonstrou que o governo de Biden se prepara “para reduzir as sanções” à Venezuela e para retomar a extração de petróleo no país governado pelo “déspota Nicolás Maduro”, levando a uma “potencial reabertura dos mercados dos EUA e da Europa às exportações de petróleo da Venezuela”.
A justificativa para a aproximação seria a proximidade do inverno, quando os gastos energéticos aumentam, e os baixos estoques de petróleo, especialmente no nordeste do país. Além disso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) anunciou o corte da produção em 2 milhões de barris por dia a partir de dezembro, evitando uma queda de preço.
No entanto, mesmo com esse cenário, argumenta a editora, a retomada dos negócios com a Venezuela não aliviaria em nada ou quase nada a situação norte-americana, já que a “infraestrutura do país está tão dilapidada e seu capital humano tão obliterado” que, sem novos investimentos significativos a quantia extraída não passaria de 600 mil barris por dia.
Com as novas licenças dos EUA, a produção venezuelana pode aumentar cerca de 220 mil por dia em até dois anos. Porém, isso equivaleria a apenas 0,2% da demanda mundial e, portanto, “é difícil ver como isso ajudaria os consumidores norte-americanos”. “Mesmo os economistas de Biden devem ser capazes de entender que é uma gota no balde, e é por isso que o assunto parece mais pertencer ao departamento político”, criticou.
Se do ponto de vista econômico a medida não traria grandes resultados, do ponto de vista político “seria um grande favor à ditadura de Maduro, que precisa de moeda forte para operar sua máquina repressiva e buscar legitimidade no cenário mundial”.
“O golpe à liberdade será substancial se os EUA desistirem de pressionar a Venezuela a restabelecer a democracia”, sustenta a editora, acrescentando que “a má prática de política externa” do governo Biden vê os esforços para promover os valores dos EUA em ditaduras como imperialismo.
Em Cuba, “a política de Biden não é muito melhor”, avalia a jornalista do WSJ. O governo reduziu as restrições de viagens e remessas a Cuba, demonstrando sua “tolerância à brutalidade de Havana contra seu próprio povo”. Ela se refere à repressão violenta aos dissidentes em 11 de julho de 2021, o maior protesto desde a revolução comunista, em 1959. Sob o governo de Miguel Díaz-Canel, centenas de pessoas foram presas e seguem encarceradas até hoje, como presos políticos. Biden ignora, diz ela.
A jornalista lembra que cubanos têm pedido ajuda e que “muitos americanos querem ajudar seus irmãos cubanos”. No entanto, o regime cubano não permitirá que organizações privadas ou o governo dos EUA enviem doações diretamente aos cubanos. “As remessas devem passar pelo regime corrupto.”
Mary O’Grady termina o artigo reconhecendo os problemas pelos quais passam os dois países — cuja economia está dilacerada, com inflação galopante e falta de itens básicos, mas conclui que “apoiar as ditaduras militares que governam esses países não é uma maneira de promover seus interesses, ou os nossos”.