A coalizão liderada pela deputada de extrema direita Giorgia Meloni, 45 anos, venceu as eleições parlamentares antecipadas deste domingo (25) na Itália e deve ter maioria no Parlamento, segundo pesquisa de boca de urna divulgada pela emissora Rai.
De acordo com o levantamento feito pelo consórcio Opinio-Italia, a coligação chamada de “centro-direita” deve ficar com 41% a 45% dos votos, número suficiente para governar sem a necessidade do apoio de outros campos políticos.
Segundo a pesquisa, a aliança conservadora ficará com 227 a 257 dos 400 assentos na Câmara e de 111 a 131 das 200 cadeiras no Senado.
O acordo entre os integrantes da coligação prevê que o partido mais votado terá a prerrogativa de indicar o próximo primeiro-ministro. Segundo a sondagem, esse papel caberá à legenda de extrema direita Irmãos da Itália (22% a 26%), presidida por Meloni, que deve se tornar a primeira mulher a governar o país.
Os outros pilares da coalizão são a ultranacionalista Liga, de Matteo Salvini, e o conservador Força Itália, de Silvio Berlusconi, que aparecem com 8,5% a 12,5% e 6% a 8%, respectivamente.
O Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, deve alcançar de 17% a 21% e será a principal força de oposição ao provável futuro governo da direita. Em seguida aparece o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), ex-partido mais popular da Itália, com 13,5% a 17,5%.
Líder do único grande partido de oposição ao governo de união nacional do premiê demissionário Mario Draghi, Meloni concentrou em si o apoio de todos os descontentes com a situação do país e deixou para trás os dois últimos grandes líderes da direita italiana: Berlusconi e Salvini, cujos partidos integram a gestão Draghi.
Nas últimas eleições parlamentares, em 2018, a FdI teve apenas 4,35% dos votos.
Ao longo dos últimos anos, Meloni manteve o discurso radicalizado em temas como imigração e direitos civis – ela defende um bloqueio naval contra migrantes do Mediterrâneo e é contra a adoção por homossexuais -, mas tentou se vender como mais moderada em outras áreas.
Historicamente eurocética, a líder do FdI não fala mais em tirar a Itália da União Europeia. Além disso, é mais crítica ao regime de Vladimir Putin do que seus aliados na direita italiana e também é contra aumentar o endividamento do país para combater a disparada da inflação, assunto que já foi motivo de tensão na coligação.
Histórico – Nascida em Roma em 15 de janeiro de 1977, Giorgia Meloni se aproximou da política aos 15 anos da idade, quando aderiu à “Frente da Juventude”, organização juvenil ligada ao extinto partido pós-fascista Movimento Social Italiana (MSI), que havia sido criado por egressos do regime de Benito Mussolini.
Quando tinha 19 anos, Meloni gravou um vídeo dizendo que “Mussolini foi um bom político” e que “tudo o que ele fez foi pela Itália”.
Com o passar dos anos, galgou degraus na Aliança Nacional (AN), herdeira do MSI, e foi eleita conselheira da província de Roma em 1998, ficando no cargo até 2002. Em 2006, conquistou uma cadeira na Câmara dos Deputados, onde está até hoje, tendo ocupado também o posto de ministra da Juventude do governo Berlusconi entre 2008 e 2011.
No mesmo ano em que foi eleita pela primeira vez ao Parlamento, deu uma entrevista na qual disse que tinha uma “relação serena com o fascismo”. Sobre Mussolini, afirmou que o ditador “cometeu diversos erros, como as leis raciais, a entrada na guerra e o sistema autoritário”.
“Historicamente, produziu muito também, mas isso não o salva”, declarou Meloni na ocasião, já mudando um pouco seu discurso em relação aos anos de juventude.
Em dezembro de 2012, Meloni se juntou a um grupo de dissidentes da AN para fundar o FdI, que até hoje exibe em seu distintivo a chama tricolor que simbolizava o MSI. A deputada preside o Irmãos da Itália desde 2014 e foi aos poucos ampliando seu eleitorado por ter passado a última década sempre na oposição.
Meloni capitalizou a insatisfação de grupos que vão de trabalhadores demitidos por causa da pandemia até autônomos penalizados pela Covid-19, passando pelos antivacinas – a deputada disse que se imunizou contra a Covid, mas não tirou foto.
Ela também tem buscado se distanciar de movimentos abertamente neofascistas, como CasaPound e Força Nova, historicamente próximos à militância do FdI.
Créditos: Portal UOL.